Rafael Domingues, do Frank Bar: "Dê uma chance em seus bares e balcões favoritos aos destilados produzidos no Brasil" (Lombardis Fotografia/Divulgação)
Guilherme Dearo
Publicado em 19 de agosto de 2020 às 10h52.
Última atualização em 19 de agosto de 2020 às 19h03.
Em uma viagem ao exterior, o ritual de parar no duty free para comprar alguma garrafa de destilado, de marca famosa, a preço mais baixo, é quase obrigatório. Sempre é bom aproveitar a oportunidade para abastecer o bar de casa com marcas internacionais de gim, vermute ou vodca e poder receber bem os amigos. Com o dólar nas alturas e as restrições de locomoção devido à pandemia do coronavírus, contudo, essa vantagem despenca.
Nesse cenário, marcas nacionais se destilados têm se destacado como alternativa de qualidade mais viável ao bolso dos consumidores.
Na última edição da EXAME, CASUAL conversou com especialistas sobre o sucesso das marcas nacionais e entrevistou empreendedores de marcas que acabaram que chegar às prateleiras e ao e-commerce, como os gins YVY e Atlantis e o vermute Aureah.
É bom pensar, também, em como usar todo o potencial de aroma e sabor desses destilados nacionais na hora de pedir um coquetel no balcão do bar (ou para delivery) e até preparar drinques em casa.
CASUAL conversou com Rafael Domingues sobre os destilados nacionais e seu uso nos drinques. Domingues é bartender do Frank Bar, bar do Hotel Maksoud Plaza em São Paulo. O Frank é atualmente considerado o 96º melhor bar do mundo pelo The World's Best Bars, o ranking mais importante do segmento:
Quais as vantangens de se usar destilados nacionais para preparar drinques?
Entre as vantagens, estão a valorização do produto nacional e do produtor brasileiro, junto com o uso de botânicos cultivados sob o terroir de cada região produtora, o que agrega às comunidades que vivem do extrativismo de insumos, como a castanha do Pará e a baunilha do cerrado, que aparecem em vários gins nacionais, e aos pequenos produtores que têm na sua principal atividade econômica o cultivo de especiarias e ervas.
Além disso, conseguimos explorar os insumos brasileiros, que cada vez mais ganham destaque não apenas na culinária nacional. As marcas estão fugindo dos estilos mais tradicionais de gim, como o New Wave Gin da San Basile, que leva botânicos clássicos como o zimbro, mas também cacau e erva mate, resultando em uma bebida única e diferenciada. O gim Amázzonni, que foi o meu primeiro contato com gins premium nacionais, tem em sua composição cipó-cravo, maxixe e castanha do Pará, insumos que agregam características inovadoras para coquetéis já consagrados como o Negroni ou o Gim Tônica.
As bebidas feitas aqui são muito diferentes em relação aos produtos importados? O que as torna marcantes?
Os destilados produzidos no Brasil tem características regionais, já que somos um país continental e cada bioma tem sua particularidade. Uso sempre como exemplo a trilogia da YVY que brinca com os biomas e usa em sua base o mate torrado, puxuri, assa-peixe, baunilha do cerrado, alcaçuz brasileiro e até açaí na composição dos gins. Estes são apenas alguns exemplos da alta gama de produtos que aparecem nas prateleiras dos mercados e lojas especializadas em gim.
As diferenças entre os gins e vodcas nacionais é a liberdade de não somente produzir os tradicionais London Dry, que dominam o mercado de gins. Produzimos um destilado único, a cachaça, e agora toda a experiência adquirida nos quase 400 anos de produção de destilado de cana estão dando uma nova cara aos destilados do velho mundo. O novo mundo é inovador e único na composição de ótimos gins, e até os bebedores mais tradicionais estão se rendendo às inovações dos países que produziam outros destilados e agora estão se arriscando na “gin fever” ao desenvolver produtos que competem com as marcas já famosas no mercado.
Como harmonizar melhor os destilados nacionais como gim e vodca em drinques? O que funciona melhor com eles?
Assim como várias vertentes de gins e vodcas produzidos por aqui, também são infinitas as possibilidades de combinações, desde que se entenda as particularidades de cada destilado. No entanto, eles funcionam bem em todos os coquetéis, desde um simples Vodca Tônica a um complexo Dry Martini. A grande dica que eu dou é sempre perguntar ao seu bartender predileto quais as indicações e as novidades, e sempre experimentar variações de seus coquetéis favoritos com esses destilados.
Entre os gins nacionais temos diferenças gritantes entre cada um deles, em cada garrafa existe um universo com sua particularidade e seu estilo, mas sempre respeitando o zimbro como protagonista. Podemos listar as diferenças entre todos eles, temos cítricos, mais adocicados, alguns muito secos, florais, vegetais e defumados, mas o importante é que o bebedor dê uma chance em seus bares e balcões favoritos aos destilados produzidos no Brasil.
Rafael Domingues ensina como preparar um Southside: "Como recomendação de um coquetel, eu trago o Southside, um clássico da época da proibição americana. Esse coquetel era bebido por gângsters da zona sul de Chicago, diferente dos seus rivais do norte, que preferiam gim com Ginger Ale. O destilado, que era importado por Al Capone (que dominava a zona sul), era servido junto com hortelã e limão".
Southside
Modo de preparo: bater todos os ingredientes em uma coqueteleira com muito gelo e servir em uma taça Martini ou coupê com uma coagem simples, somente com o strainer, sem a peneira de chá, para que pequenos pedaços de gelo e hortelã sejam servidos junto ao coquetel.