Casual

Desprezadas por anos, mulheres do rap rompem velhos modelos

Na última década, diversos talentos surgiram no hip hop, com mulheres que procuravam evitar antigos clichês

Cardi B: ascensão das mulheres do hip hop não está isenta de críticas (Emma McIntyre / Equipe/Getty Images)

Cardi B: ascensão das mulheres do hip hop não está isenta de críticas (Emma McIntyre / Equipe/Getty Images)

A

AFP

Publicado em 5 de fevereiro de 2020 às 11h42.

Estereotipado durante muito tempo como um clube do bolinha por suas letras arrogantes e pela objetificação das mulheres, o mundo do rap viu nos últimos anos um grupo de estrelas femininas reivindicarem seu espaço.

Na última década, diversos talentos surgiram no hip hop, com mulheres que procuravam evitar antigos clichês, com a internet abrindo novos caminhos para o estrelato.

As mulheres foram um fator importante nos anos de formação do rap — com protagonistas como Salt-N-Pepa, MC Lyte, Foxy Brown, Lil Kim, Lauryn Hill, Missy Elliott e Queen Latifah — e prepararam o cenário para as futuras gerações, deixando marcas indeléveis no DNA do hip hop.

Mas se na década de 1990 as mulheres conseguiram brilhar, na década de 2000 foram deixadas de lado, tentando sobreviver enquanto os downloads ilegais de música começavam a mudar as regras desta indústria.

"A indústria despencou. E quando se tratava de reduzir os custos de tudo, é claro que as mulheres eram as que mais se sentiam", disse Kathy Iandoli, cujo recente livro "God Save The Queens" detalha a trajetória das mulheres do rap.

Ao longo dos anos 80 e começo dos 90, dezenas de rappers assinaram com as principais empresas discográficas, mas em 2010, eram três, segundo o documentário "My Mic Sounds Nice: The Truth About Women in Hip Hop".

As mulheres que conseguiram chegar lá foram estigmatizadas como hiperssexuais, ou compositoras duras, e a indústria frequentemente colocava uma contra a outra, perpetuando a ideia de que só pode haver uma rainha do rap por vez.

O fenômeno Nicki Minaj

Mesmo assim, não faltaram inovações artísticas, ainda que as gravadoras não as apoiassem.

"O Napster fez as gravadoras perderem a cabeça, mas criou um underground muito forte", disse Iandoli sobre o serviço pioneiro de troca de músicas. "Ele estabeleceu a capacidade de catapultar uma carreira de uma maneira que nunca havia sido feita antes, porque as pessoas não estavam tão determinadas a conseguir uma gravadora".

Nicki Minaj, uma provocativa artista com ritmo extremamente acelerado, entrou em cena em 2010 e começou a mudar o jogo.

"Ela foi a primeira artista feminina de hip hop a realmente brilhar durante essa pausa", disse Iandoli sobre o artista do Queens, nascido em Trinidad e Tobago.

"Nicki foi a primeira em muito tempo que era sexy e lírica, então ela apelou para o público de rap de rua e depois para os homens que só queriam ouvir mulheres fazer rap sobre sexo".

Minaj - que no ano passado anunciou sua aposentadoria do rap, embora os fãs estejam céticos - se deu o crédito por "reintroduzir mulheres rappers de sucesso na cultura pop".

"Quando cheguei, tinha havido uma seca de alguns anos em que nenhum álbum de rap feminino ganhou disco de platina, as mulheres não conseguiram mais orçamentos, a indústria não acreditava mais nas rappers. Eles deixaram de gerar DINHEIRO para os selos" , escreveu ela no Instagram em 2017.

"Mostrei às grandes empresas que éramos grandes jogadoras, assim como os homens".

"Oportunidade sem filtro"

O mundo pós-Minaj apresenta um panteão crescente que inclui, entre outras, a descarada Cardi B, a sexy Megan Thee Stallion, a fã de punk Rico Nasty, a dupla em ascensão City Girls e a compositora surrealista Tierra Whack.

A rapper do Queens, Dai Burger, disse que plataformas como YouTube e SoundCloud — para não mencionar os poderes de autopromoção no Instagram — abriram muitas possibilidades para mulheres rejeitadas pelas grandes gravadoras.

"Nos anos 90 e início dos anos 2000, para ser um artista, era preciso ter um ótimo selo para que seu clipe aparecesse na televisão", disse ele à AFP em seu estúdio de gravação no Brooklyn. "A internet nos deu uma oportunidade não filtrada de fazer o que queríamos", disse a artista com unhas postiças brilhantes, cabelo escarlate abundante e macacão de couro.

A rapper queer que funde o lirismo sexista sem complexos com ritmos fortes de disco, disse que atualmente "há mais parceria entre as mulheres" no mundo do rap.

"Há muito mais espaço para todas nós. Existem milhares de homens na indústria, você sabe, fazendo o que eles fazem", disse. "As meninas querem ação!".

A ascensão das mulheres do hip hop não está isenta de críticas, é claro: o rapper e produtor Jermaine Dupri reclamou no ano passado que a atual produção feminina era obcecada por sexo e sem visão.

A stripper que virou rapper Cardi B respondeu, que faz rap sobre sua parte íntima porque "ela é a minha melhor amiga".

Acompanhe tudo sobre:Indústria da músicaMúsicaRappers

Mais de Casual

5 perguntas essenciais para evitar problemas ao reservar acomodações online

Casio lança anel-relógio em comemoração aos 50 anos do 1º modelo digital

Prédio residencial para aluguel oferece mais de 30 áreas de lazer, incluindo cinema e até karaokê

Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank abrem as portas do rancho para hospedagem no Airbnb