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Desconstruindo Lana Del Rey, a incógnita recente do pop

Produtor de Lana Del Ray A.K.A. Lizzy Grant, o primeiro e renegado disco da cantora, David Kahne afirma que ela pode não durar

Lana Del Rey mudou de nome, de empresário e até de boca, segundo seu ex-produtor (Divulgação)

Lana Del Rey mudou de nome, de empresário e até de boca, segundo seu ex-produtor (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 7 de fevereiro de 2012 às 18h24.

São Paulo - Se há uma coisa que a indústria do entretenimento nos ensina, é que o sucesso duradouro não vem fácil. Para continuar no topo, é preciso muito mais do que talento e um rosto bonito. A apresentação de Madonna no Super Bowl no último domingo deixa isso claro: a rainha do pop só manteve o trono porque aprendeu a se reinventar e a se misturar aos nomes do momento. Madonna não lançou Vogue no auge da dança de rua, no início dos anos 1990, por acaso.

Nem abraçou a dance music no fim daquela década gratuitamente. Agora, em 2012, ela ressurge como a melhor amiga de infância dos rappers do momento – Nicki Minaj, M.I.A. e a dupla LMFAO – e se afilia ao hip hop, gênero que dominou 2011. Reiventar-se é preciso. Lana Del Rey, outrora Lizzy Grant, parecia saber disso.

Mudou de nome, de empresário e até de boca, segundo seu ex-produtor, e virou fenômeno na internet no ano passado com dois novos vídeos. Mas não conseguiu dar um salto qualitativo no segundo álbum, Born to Die, que chega nesta terça-feira (7) ao Brasil. Nem transformar sua performance ao vivo, que nunca foi boa, diz David Kahne, produtor do primeiro e renegado disco da cantora, Lana Del Ray. Apresentações em programas de TV colocaram Lana -- ou Lizzy -- no centro de uma saraivada de críticas. Uma desconstrução em que Kahne avança agora, em conversa com o site de VEJA.

Kahne, que já trabalhou com Paul McCartney e Tony Bennett em seus mais de 20 anos de carreira, conta que o disco Lana Del Ray foi retirado da loja virtual do iTunes poucas semanas após seu lançamento oficial. Na época, a cantora decidiu tomar um rumo diferente. Rumo que a catapultou ao sucesso com apenas um vídeo viral (Video Games) e lhe garantiu um contrato com a gravadora Interscope (a mesma de Lady Gaga e Madonna).

“David Nichtern, o dono do selo 5 Points, que lançou o primeiro álbum de Lizzy, gastou uns 50.000 dólares com ela e a ajudou em tudo. Mas ela é muito indecisa. Ficava mudando partes das músicas, letras etc. Quando o disco chegou às lojas, Lizzy decidiu que escreveria R-e-y ao invés de R-a-y. Semanas depois, apareceu com um novo empresário, tirou o CD de circulação e disse que queria fazer algo completamente diferente”, diz.


Com o fracasso de suas apresentações em programas de televisão como o Saturday Night Live, Lana vem sofrendo uma enxurrada de vaias que a fizeram recuar e deixar um pouco de lado o “estrelismo”. Ela já anunciou que vai relançar seu primeiro disco ainda neste ano, opção que refutou no auge do sucesso por querer "mostrar material novo". Disse também que não tem certeza se vai seguir na carreira musical, já que não sabe se ainda tem algo a mostrar. Para Kahne, só o tempo vai dizer. “Construir sucesso com base em suas apresentações ao vivo será bem difícil. Ela terá de lançar uma música muito boa por vez, mas cada música terá de ser maior e melhor que a outra. Caso contrário, ela não vai durar”, diz o produtor.

Confira abaixo a entrevista com David Kahne.

Por que Lana faz sucesso?

David Kahne - Por sorte. Você pode fazer o melhor disco do mundo e ter ótimas ideias e ainda assim as pessoas não gostarem de você. E outros têm uma caminhada mais curta. Ela deu sorte que o vídeo se tornou um viral, mas essencialmente ela continua fazendo a mesma coisa que fazia quando nós trabalhamos juntos. Quando eu a conheci, ela não fazia vídeos, ela era só do tipo cantora e compositora, que tocava violão, mas odiava. Ela se apoiava muito nas composições feitas ao lado de seu namorado na época, que também era músico.

Ela é talentosa?

DK - Sim. Ela é uma artista bem abstrata, mistura muitas ideias, como se estivesse fazendo uma colagem. Ela expõe muito seus gostos. Se ela gosta de algo, ela vai fazer de tudo para te mostrar. Ela gosta de garotas como a atriz Natalie Wood, que são muito sexies, mas ao mesmo tempo são boas meninas, e acho que ela está conseguindo passar bem essa imagem agora. Quanto à voz, ela canta exatamente do jeito que você consegue ouvir no disco. Não é preciso fazer muitas mudanças na voz dela, mas ela não vai além disso, não te surpreende ao vivo.

Por que ela tirou o primeiro disco do iTunes?

DK - Ela não me contou, só falou para o dono da gravadora, David Nichtern. Ele transformou Lizzy, gastou muito dinheiro com ela, uns 50 mil dólares, e, além disso, lhe deu um adiantamento bem legal. Mas ele também perdeu muito dinheiro quando ela e o empresário decidiram mudar de direção. David é um cara muito legal e a ajudou em tudo o que ela quis fazer. Mas Lizzy é muito indecisa. Durante a gravação do disco, ela ficava mudando partes das músicas, letras, etc. Quando finalmente chegou às lojas, ela decidiu que queria escrever o nome com E ao invés de A, e eles toparam. Semanas depois, ela resolveu tirar de circulação e fazer algo completamente diferente. David foi muito legal mesmo, afinal, antes dela, ele só lançava discos de meditação e esse tipo de coisa. Não era um cara rico, nem nada assim. Ambos ficamos chateados ao saber que ela pretende relançar o primeiro disco, ainda temos participação nos lucros, mas ficamos sem entender nada.

Muita gente diz que ela está sendo bancada por alguém, como seu pai rico.

DK - Não, ele não é rico. Eu o conheci e me pareceu um homem muito simples. Foi tudo pago pelo dono da gravadora. Ela era estudante de faculdade, quando começou a participar de concursos para cantoras e compositoras, e em um desses, ela conheceu um cara que acreditou no talento dela, a levou para essa gravadora [5 Points] e eles decidiram bancá-la, me chamaram para produzir o disco, etc. Não tem nenhum fator secreto ou alguém manipulando sua imagem.


E tem gente que diz que ela fez cirurgia plástica, ou algo assim... Você concorda?

DK - Ah, sim, ela está muito diferente da garota que eu conheci. Mal parece a mesma pessoa. Nós ficamos trancados dentro do estúdio todos os dias durante três meses, posso dizer que conheço bem o rosto dela. Os lábios realmente parecem mais cheios. Geralmente, lábios diminuem a medida que você envelhece, eles não aumentam. Alguma outra coisa está diferente no rosto, mas não consigo dizer o que é. Mas eu não me importo com isso. Mudanças de imagem são perfeitamente normais, ainda mais na música pop. As pessoas assistem a vídeos no YouTube, e eles são completamente fabricados, todo mundo manipula a imagem o tempo todo. O que acontece é que as pessoas sempre procuram uma imagem que eles consigam acreditar e achar legal. Lady Gaga, por exemplo, muda o tempo todo, mas você consegue ver ela inventando tudo aquilo, ela é como David Bowie. Mas Lizzy não. Ela se retirou, mudou e voltou, então as pessoas não conseguem acreditar.

Você a viu no Saturday Night Live (desempenho de Lana Del Rey que foi muito criticado)?

DK - Sim, e não me surpreendeu. Ela não gosta de se apresentar a vivo. Mas, por exemplo, no programa do David Letterman ela foi bem, tinha um quarteto de cordas e tudo mais para acompanhá-la. Se você for ver um show dela, pode achá-la ótima, mas por enquanto as pessoas vão só ficar juntando os pedaços. As apresentações ao vivo são a pior parte para ela. Ela é muito tímida e não sabe lidar com isso.

Ela vai sobreviver?

DK - Em todos os artistas que tem uma longa carreira de sucesso, a apresentação ao vivo é sempre o que importa mais, é como se consegue fãs. Isso será bem difícil para ela, a menos que ela consiga lançar uma música muito boa por vez, mas cada música terá de ser maior e melhor que a outra. Caso contrário, ela não vai durar.

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