Casual

Daniel Dias: maior medalhista paralímpico do Brasil já foi baterista

Inspirado por Clodoaldo Silva em Atenas, o então baterista de igreja passou a se dedicar ao esporte em uma carreira meteórica; mesmo antes do fim dos Jogos de Tóquio, Dias já é o quinto atleta paralímpico com mais medalhas na história

Daniel Dias comemora bronze nos 100m livre da classe S5 em Tóquio
 (Alex Davidson/Getty Images)

Daniel Dias comemora bronze nos 100m livre da classe S5 em Tóquio (Alex Davidson/Getty Images)

G

GabrielJusto

Publicado em 27 de agosto de 2021 às 15h41.

Última atualização em 27 de agosto de 2021 às 16h45.

Ele não é chamado de "Michael Phelps das Paralimpíadas" à toa. Aos 33 anos, o nadador Daniel Dias é o maior medalhista paralímpico do Brasil. E da natação. E, claro, também está entre os maiores do mundo de todos os tempos. Desde Pequim, em 2008, Dias marcou pódio em todas as edições das Paralimpíadas, conquistando 14 ouros, sete pratas e três bronzes – 24 medalhas no total. Nesta semana, em Tóquio, essa conta voltou a crescer: Daniel foi bronze nos 100m e 200m nado livre e no revezamento 4x50m. Acha que acabou? Que nada!

Em janeiro deste ano, Dias anunciou que deve se aposentar das piscinas após os Jogos de Tóquio. Depois de tantas medalhas, ele agora quer passar mais tempo com seus três filhos (Asaph, Daniel e Hadassa) que, pela dedicação ao esporto, ele pouco viu crescer. Por isso mesmo, o paraatleta nada em Tóquio como se fosse a última Olimpíada. Porque, de fato, é. "O que me deu força naquela reta final dos 100 metros foi o fato de eles serem os meus últimos. Não terei outros 100 metros depois desses", disse Dias à Globo logo após o primeiro pódio na capital japonesa.

Antes de pendurar a sunga, Daniel ainda tem chances de garantir suas últimas medalhas. Depois de chegar em sexto nos 50m borboleta nesta sexta, 27, ele ainda disputará os 50m de costas – cujas eliminatórias começam no domingo – e os 50m livre. Ainda que não suba em nenhum desses dois pódios, Dias já é o quinto atleta paralímpico com mais medalhas na história dos Jogos, empatado com o norueguês Ragnhild Myklebust, que competiu nos Jogos de Inverno até 2002. Se ganhar mais alguma medalha, garante o quarto lugar – e por um bom tempo, uma vez que quase todos que vêm abaixo dele no ranking já estão aposentados.

yt thumbnail

Mudanças nas classes funcionais freou o desempenho de Daniel em Tóquio

Nos Jogos Paralímpicos, além das diferentes modalidades de cada esporte (como os diferentes tipos de nado e metragens), há ainda uma divisão dos atletas de acordo com o seu tipo de deficiência – garantindo que as disputas sejam justas. Quanto menor a numeração, maior o grau de comprometimento do atleta por conta da deficiência. Na classe 14, competem os atletas com deficiências intelectuais. Entre 13 e 11, os atletas com deficiências visuais. E de 10 a 1, aqueles com deficiências motoras – como Daniel, que faz parte da classe 5 desde o início da carreira.

Mas, em Tóquio, o multimedalhista brasileiro ganhou novos companheiros de classe. Por conta de uma mudança de critérios que passou a valer em 2019, alguns atletas que antes nadava na classe 6 – ou seja, com menos limitações físicas que Daniel – passaram a competir junto com ele na classe 5, o que diminuiu suas expectativas para o gran finale da carreira no Japão. Nos 200m livre, em que ficou com o bronze, Dias foi superado justamente por dois atletas remanejados da classe 6.

"Por isso que eu vibrei muito com a medalha, vibrei muito com a conquista. Porque de fato isso aqui valeu muito para mim. As outras provas vão estar mais difíceis ainda, vão ser bem difíceis. Então é vibrar, curtir cada momento, sabendo que esse processo aconteceu", contou Daniel à Globo logo após o bronze, prometendo falar mais sobre a questão após nadar todas as provas. "A gente sabia que precisaria ter uma mudança, mas não da maneira que foi, que acabou prejudicando muita gente."

De baterista de igreja a campeão paralímpico

Nascido em Campinas e criado em Camanducaia, no interior de Minas Gerais, até os 16 anos Daniel, que é evangélico, só estudava e tocava bateria na igreja que frequentava com o auxílio de uma munhequeira desenvolvida pela sua mãe. Nessa época, viu pela TV o nadador Clodoaldo Silva conquistar seis ouros e uma prata em Atenas e decidiu que queria fazer o mesmo – iniciando então sua trajetória meteórica no esporte. Quatro anos depois, os dois dividiam a mesma piscina em Pequim. Só naquela edição dos Jogos, enquanto seu ídolo levou uma prata, Daniel garantiu quatro ouros, quatro pratas e um bronze.

De fã, Daniel acabou virando ídolo e, assim como Clodoaldo, já inspira as gerações futuras. "Excepcional" segundo ele, o paulista Gabriel Bandeira iniciou sua carreira paralímpica em 2020 e, em menos de dois anos, já bateu seis recordes pan-americanos e, na quarta-feira, 25, conquistou o primeiro ouro do Brasil em Tóquio, nos 100m borboleta S14. Com a aposentadoria de Dias e a desclassificação funcional de André Brasil (cuja deficiência o tornou inelegível à competição), Bandeira é, sem dúvida, a grande chance do Brasil de continuar o legado de Clodoaldo e Daniel.

 

Acompanhe tudo sobre:AtletasEsportesJogos ParalímpicosNataçãoPessoas com deficiênciaTóquio

Mais de Casual

A aposta do momento do grupo LVMH: o segmento de relojoaria de luxo

O que acontece com as cápsuals de café após o uso?

9 hotéis para aproveitar o último feriado prolongado de 2024

Concurso elege o melhor croissant do Brasil; veja ranking