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Daiane dos Santos narra racismo e segregação nos vestiários

“Acho que não existe uma pessoa preta que não tenha sofrido racismo na vida. O que acontece é que muitas pessoas não entendem o que estão passando, não sabem diagnosticar", disse a atleta

Daiane Santos nas Olimpíadas de Beijing. (LLUIS GENE/AFP/Getty Images)

Daiane Santos nas Olimpíadas de Beijing. (LLUIS GENE/AFP/Getty Images)

JS

Julia Storch

Publicado em 25 de julho de 2021 às 16h52.

Última atualização em 26 de julho de 2021 às 14h56.

Em 2003, a ex-ginasta Daiane dos Santos se tornou a primeira atleta brasileira a conquistar o campeonato mundial de ginástica artística. Atualmente atuando como comentarista esportiva da modalidade, Daiane falou à Revista Marie Claire sobre racismo no esporte e representatividade.

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“Acho que não existe uma pessoa preta que não tenha sofrido racismo na vida. O que acontece é que muitas pessoas não entendem o que estão passando, não sabem diagnosticar. No meu caso, sempre foi tudo muito sutil: um olhar diferente, um tratamento diferente. Uma levantada de voz. Várias situações que a gente consegue entender que é sempre a mesma cor que sofre. As vezes é pessoal mesmo, com a Daiane, a pessoa pode não gostar de mim. Mas a gente sabe quando é preconceito racial”, disse.

Daiane narrou ainda situações como origem social que elevaram a discriminação contra ela, inclusive por pessoas da seleção. 

“Comigo, houve situações na seleção, nos clubes, de pessoas que não queriam ficar perto, que não queriam usar o mesmo banheiro! Aquele tipo de coisa que nos faz pensar: opa, voltamos à segregação. Banheiros para brancos e banheiros para pessoas de cor. Teve muito isso dentro da seleção. E além da questão da raça, tem a questão de vir do sul, de não ser do centro do país, de ter origem humilde. Ou seja: ela é tudo o que a gente não queria aqui!”

Daiane não comentou sobre o caso de racismo envolvendo os atletas Arthur Nory e Ângelo Assumpção em 2015, o qual Nory se referiu a Ângelo, que é negro, como “saco de lixo”. Porém, a ex-ginasta disse que conhece os atletas desde crianças, e que a história possui trechos não contados ao público.

“Se eu não vou ajudar, não vou atrapalhar. Eu já conversei muito com os dois. Muita gente não sabe, mas eles eram melhores amigos e antes do ocorrido, já tinha acontecido muita coisa. O Ângelo não treina já há um tempo. E também tem todo o sigilo do processo, então resolvi não me meter, porque é uma história em que não tem ninguém certo. Muitas pessoas negras vieram me cobrar, para eu me posicionar. Mas tem muitas questões ali”, disse.

Projetos sociais

Atualmente Daiane dirige o projeto social “Brasileirinhos”, em Paraisópolis, São Paulo. Com aulas de ginástica artística ministradas nos CEUs  (Centro Educacional Unificado), a expectativa de Daiane é ampliar o projeto.  

“Ainda estamos no modo online, não voltamos presencial. Mas em agosto vamos abrir um segundo núcleo. O primeiro é em Paraisópolis, e a gente está abrindo um segundo núcleo no Aricanduva”, disse. “E a ideia é ampliar e levar também para Porto Alegre. Estou nessa batalha há um tempão. Mas estamos firmes e fortes, o Brasileirinhos tem tido bastante apoio e alguns patrocínios, empresas que querem participar do projeto” comentou.

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