Unidade da rede no Conjunto Nacional: crise sem precedentes (Foto/Wikimedia Commons)
Daniel Salles
Publicado em 4 de fevereiro de 2021 às 16h16.
Última atualização em 4 de fevereiro de 2021 às 22h15.
A crise da Livraria Cultura, em recuperação judicial desde 2019, se agravou. No dia 31 de janeiro, a tradicional rede fechou, em definitivo, três de suas maiores lojas. Foram as dos shoppings Bourbon e Villa-Lobos, em São Paulo, e a de Curitiba, no shopping que leva o nome da cidade. O grupo já havia começado o ano com três outras baixas – pouco antes, ganharam um ponto final as unidades em Ribeirão Preto, Campinas e Brasília. Quais restam? A de Fortaleza, a de Porto Alegre, a de Recife, a de Salvador e três em São Paulo, incluindo a do Conjunto Nacional, a mais emblemática. A do Shopping Market Place, uma das três na capital paulista, no entanto, está temporariamente fechada.
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Por meio de sua assessoria de imprensa, a Livraria Cultura afirmou que deu início a negociações com os donos de todos os seus pontos comerciais em março do ano passado, assim que as complicações impostas pela pandemia ao setor livreiro ficaram evidentes. Pleiteou "condições comerciais adequadas à nova realidade", nas palavras dela, para manter suas lojas "de maneira sustentável”.
“Apesar dos esforços de todos os lados, o prolongamento da crise e a falta de previsibilidade nos fez tomar a decisão de encerrar as operações das lojas do Shopping Bourbon (SP), Shopping Villa-Lobos (SP) e Shopping Curitiba (PR)”, resumiu.
“Ao longo dos últimos anos o mercado online ganhou grande representatividade no mercado editorial. A pandemia impôs novos hábitos de consumo que dificilmente irão retroceder. A digitalização que tomou conta das pessoas e das empresas veio para ficar. Hoje as vendas de livros online representam algo como 80% da receita total do mercado. Esses fatores trazem desafios adicionais para o modelo tradicional das livrarias no médio e longo prazo. Parte importante do faturamento das lojas vinha de eventos, noites de autógrafos, atividades culturais, gastronômicas e obviamente de contato social. Infelizmente não acreditamos que tais atividades voltarão com força ainda em 2021”.
“Nosso plano é voltarmos ao lucro ainda esse ano para sairmos da Recuperação Judicial o mais breve possível. Não temos dúvida de que as lojas físicas continuarão a desempenhar um papel muito relevante no mercado, porem de maneira muito diferente da que estávamos acostumados. Estamos revisando totalmente nosso portfólio de lojas e serviços. Já iniciamos negociações para implementação de novos modelos de lojas em diversas cidades do Brasil, porem isso só acontecera quando as coisas ficarem mais claras”.
“A partir de março lançaremos serviços inéditos no mercado e daremos ainda mais foco na integração dos meios digitais com nossos pontos de venda para entregar uma experiência extraordinária e única. Não temos a pretensão de concorrer com os gigantes do comercio eletrônico, mas sim de oferecer aos nossos clientes algo que ninguém oferece, novo e único”.
"Para os próximos meses nosso objetivo é manter somente as lojas que trazem retorno no curto prazo. Infelizmente lojas que teriam um retorno previsto para acima de 6 meses foram descontinuadas. O foco hoje é preservação de caixa e a saúde da empresa. O início da vacinação é um primeiro passo para voltarmos a normalidade, mas o Brasil ainda tem desafios gigantescos para conseguir superar essa crise. Infelizmente o ano de 2021 será também muito difícil. Com as medidas tomadas queremos estar prontos para, na medida que a normalidade for se restabelecendo, iniciarmos uma nova era para a Cultura".
A dívida informada no plano de recuperação judicial da empresa é de 285 milhões reais. Em setembro do ano passado, a companhia conseguiu a aprovação de um aditivo ao plano alegando a impossibilidade de cumpri-lo conforme o combinado. Era ele ou o risco de falência. Outras lojas da rede estão com os dias contados? Perguntada sobre a hipótese, a Livraria Cultura preferiu não dar resposta.