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Criador da escultura de Aparecida planeja maior Cristo do mundo

Gilmar Pinna, criador da escultura de 50 metros de Nossa Senhora Aparecida que será inaugurada este ano, conta a EXAME.com sobre seus novos projetos

Simulação da escultura de Nossa Senhora Aparecida: a escultura de 50 metros supera a altura do Cristo Redentor (Prefeitura de Aparecida/Divulgação)

Simulação da escultura de Nossa Senhora Aparecida: a escultura de 50 metros supera a altura do Cristo Redentor (Prefeitura de Aparecida/Divulgação)

Ana Laura Prado

Ana Laura Prado

Publicado em 12 de outubro de 2017 às 08h00.

Última atualização em 12 de outubro de 2017 às 08h00.

São Paulo – O anúncio da inauguração de um monumento maior que o Cristo Redentor surpreendeu os brasileiros nas últimas semanas. E, segundo o autor da obra, a novidade não deve ser a única a vir por aí.

A escultura de 50 metros em homenagem a Nossa Senhora Aparecida está sendo instalada em Aparecida (SP). Ela integra a celebração ao jubileu de 300 anos da padroeira, registrado neste 12 de outubro, e deve ser inaugurada em 17 de dezembro.

Por trás da obra está Gilmar Pianna, escultor de 60 anos que dedicou os últimos dez meses (e os próximos dois) apenas para produzir a escultura, avaliada em R$ 4 milhões, como uma doação à cidade paulista.

Ao final do ano “sabático”, o artista tem planos ainda mais ambiciosos: o de construir um Cristo de 120 metros de altura em Guarulhos (SP). A EXAME.com, Pianna conta sobre seu trabalho e projetos futuros.

EXAME.com – Quando começou seu trabalho como escultor?

Gilmar Pinna – Faz 48 anos que eu sou artista. Comecei desde menino, fazendo escultura em areia nas praias de Ilha Bela. Passei pelo bronze, ferro, aço, vidro, madeira e hoje estou no inox. Com o tempo, você vai aprimorando a sua técnica. Tudo com técnica fica mais fácil, né.

Como é o processo de produção de uma escultura como a de Nossa Senhora?

Eu compro as chapas de aço inox de uma usina com a qual tenho parceria. Nessa escultura, por exemplo, eu gasto cerca de 450 toneladas de material, entre chapas de aço inoxidável e ligamentos de ferro. Estou usando, também, entre 30 e 50 toneladas de trilho de trem. É trilho que não acaba nunca. São eles que vão segurar a obra inteira e fazer sua estrutura interna.

Parte da estátua de 50 metros de Nossa Senhora Aparecida

Parte da escultura de 50 metros de Nossa Senhora Aparecida (Gilmar Pinna/Divulgação)

Qual o significado da obra?

É um modo de ser solidário ao meu país, que está passando por uma crise violenta. A menor classe que há no país é a de escultor, que é como um gari de uma empresa. E eu, como um, estou tentando passar uma mensagem de que dá para ajudar.

Quanto foi investido nela?

Eu estou há um ano trabalhando gratuitamente e tendo um custo de aproximadamente dois milhões de reais, além das doações e contribuições. Tem uma ou duas empresas que estão me ajudando, além de alguns amigos. Se fosse sozinho, o custo iria para quatro milhões. Mas eu não falo esse valor para cobrar nada, porque eu mesmo me sinto presenteado. Se fossem 10 milhões, eu gastaria.

A Prefeitura está colaborando no processo?

Eles não podem colocar dinheiro e nem têm para isso. Não está envolvendo dinheiro público. Apenas a empresa de transportes de um amigo está ajudando. Um monumento desses envolve muito dinheiro. Você vê o Cristo Redentor quanto custou, além de monumentos como a Torre Eiffel. Envolve bilhões. E eu estou fazendo com tão pouco.

Se eu fosse cobrar, o Brasil não tem essa realidade. Por isso estou doando. Ninguém vai me contratar para fazer uma obra dessas porque vai custar mais de 50 milhões. O país só tem dinheiro para o roubo, os políticos não cuidaram nem da saúde. Estão mostrando para todos nós que é apenas um querendo tomar o poder um do outro, na verdade. Está uma bagunça em que ninguém entende nada.

O tamanho dela foi pensado para ser superior ao do Cristo Redentor?

Não. Ela foi pensada para ser uma obra legal, pensando no local. Se eu fizesse muito pequena ela não iria aparecer. Mas não foi pensando nele. Primeiro porque o Cristo é uma estátua, e o que eu faço é escultura. São duas coisas diferentes. Ela está cogitada como a maior escultura de aço inoxidável do planeta. Então não estamos comparando o trabalho, não. É uma promessa, estamos fazendo de coração, principalmente para o povo de Aparecida, que mostra um caráter e um carinho muito abençoado.

Em que proporção a escultura deve influenciar o turismo da cidade?

Eu acho que é mais um polo turístico. Que nem o Cristo Redentor, a Torre Eiffel. Não me comparando a esses caras, que os caras são bons. Mas quando você faz um item turístico assim, você está trazendo a cultura, a identidade, e é mais um polo. E no Brasil ainda não tem essa cultura. Então se me pagarem eu faço, se não pagarem eu faço também. Eu não posso parar, com o dom que Deus me deu. O trabalho mais bonito que eu faço é a escultura do homem, do ser humano.

Qual a relação entre o seu trabalho e a sua crença?

Meu trabalho é voltado ao caminhar de Jesus Cristo. Então todas as vezes que tem algo parecido, em que eu possa levar o nome de Jesus, eu aproveito. Esse é meu tema central nesses quarenta e poucos em que eu trabalho com escultura.

Gilma Pinna, escultor da Estátua de 50 metros de Nossa Senhora Aparecida

Gilma Pinna, escultor da Estátua de 50 metros de Nossa Senhora Aparecida (Prefeitura de Aparecida/Divulgação)

Quais foram seus últimos projetos?

Eu fiz uma exposição em São Paulo que acabou não sendo muito notada pela imprensa. A prefeitura de São Paulo não notou. Eu fiz a “Paixão caminhando no amor, na união e na justiça”. Foi uma obra com 46 peças em relação à Via Cruz. Ali eu recebi algumas pessoas como Arnold Schwarzenegger, por ser meu amigo. Mas a cultura em São Paulo está morta, é a pior cultura que há hoje no Brasil. Porque não tem um secretário de cultura... Isso eu tento abordar nos meus assuntos, porque isso é assunto da minha santa.

Cultura é identidade do povo, tem que ter gente que entenda de cultura, entende? Nós tivemos em São Paulo o secretário de cultura Emanoel Araujo, que é um excelente ser humano e entende de arte no mundo inteiro. E ele, para mim, teria que ser o secretário de cultura de São Paulo. Temos que ter pessoas que são mesmo da arte, que tenham a arte no coração e na mente.

Eu fiz uma exposição única no mundo, que agora está em Ilhabela, e São Paulo não notou. A população sim, mas a mídia não dá muita importância. Só dá importância para coisas como ‘ah, caiu um ônibus, morreram não sei quantas pessoas’. Mas e coisa boa? Tem coisa boa para mostrar.

O que planeja para o futuro?

Eu tenho que terminar esse e dar uma descansada de uns dois meses. Depois eu vou voltar a fazer coisas, porque não dá para parar, né. Recentemente eu conversei com o prefeito de Guarulhos sobre uma vontade que tenho. Como Guarulhos, Aparecida e Ilhabela são cidades irmãs, e Ilhabela como já tem Cristo, e Aparecida agora tem a santa, eu estou com vontade de, junto ao prefeito, colocar um Cristo que seria o maior do mundo, com 120 metros de altura.

Isso é um projeto para dois anos, já estamos elaborando e vamos correr atrás para fazer. Tem dinheiro? A gente faz. Não tem? A gente reúne os amigos. Foi assim que aconteceu com o Cristo Redentor naquela época, foi assim com a Estátua da Liberdade e é assim que acontecem as coisas: reunindo, como uma corrente.

Nesse sentido, também tenho um agradecimento a quem me procurou. Que foram poucos, afinal, eu não sou nenhum cantor ou jogador de futebol. Então tenho um agradecimento muito importante, para todos os artistas, pelo fato de vocês terem procurado um simples escultor para dar essa entrevista ou algumas outras que dei. Dessa forma, eu já começo a acreditar que o jornalismo está começando a dar uma atenção para as artes plásticas brasileiras. Porque nosso país é um celeiro de artistas jogados às traças por falta de apoio. Nós não levamos nada, mas construímos a identidade a cultura do nosso país.

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