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Coronavírus força celebrações da Páscoa a ficarem na internet, TV e rádio

Igrejas e instituições se organizam para transmitir celebrações online. A Arquidiocese de São Paulo precisou disponibilizar uma página com orientações

Papa Francisco em pronunciamento: transmissões por Facebook e YouTube na Páscoa (Vatican Media/Handout/Reuters)

Papa Francisco em pronunciamento: transmissões por Facebook e YouTube na Páscoa (Vatican Media/Handout/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 10 de abril de 2020 às 10h11.

Última atualização em 10 de abril de 2020 às 11h27.

As celebrações da Semana Santa, a festa mais importante dos cristãos, sofreu adaptações devido à pandemia da covid-19. Celebrações da chamada "Sexta-feira Santa" serão realizadas dentro de casa em todo o país, com fiéis conectados a celulares, tablets, televisão e rádio para acompanhar parte das celebrações à distância.

Na Igreja Católica, a Missa de Lava-pés, tradicionalmente realizada na quinta-feira, 9, para representar o momento em que Jesus Cristo lavou os pés de seus discípulos, foi suspensa em boa parte do país. Em São Paulo, o arcebispo e cardeal Odilo Pedro Scherer, enviou uma carta aos padres com orientações sobre as celebrações da Semana Santa, reforçando as recomendações do Vaticano, autoridade máxima católica, para esse período de pandemia.

O portal da Arquidiocese de São Paulo também disponibilizou uma página especial que reúne todas as orientações pastorais e litúrgicas para este período. Dom Odilo reforçou o convite para intensificar a preparação para a Páscoa por meio da oração e da caridade e mesmo sem a possibilidade de ir à igreja, que a Semana Santa seja vivida com profunda fé em família.

Recomendando novamente os fiéis a seguir as orientações das autoridades para evitar sair de casa para conter a disseminação do covid-19, o cardeal deu um recado àquelas pessoas que, por não serem consideradas do grupo de risco para desenvolverem a forma grave da doença, pensam que não é necessário ficarem isoladas.

“Talvez alguém diga: 'Eu sou forte, para mim não vai haver problema, Eu sou jovem e saudável.' Agradeça a Deus, mas pense nas outras pessoas. Você pode estar infectado, pode não sentir nada, mas pode contagiar outras pessoas. Portanto, todos têm que se cuidar para cuidar da vida e da saúde do outro. É tempo de fraternidade, solidariedade e cuidado recíproco”, afirmou durante a missa de terça-feira, 7 transmitida da capela de sua casa.

O Vaticano publicou comunicado avisando igrejas pelo mundo que poderiam cancelar procissões e outros eventos presenciais da Semana Santa.

Santuário de Aparecida em missa nesta semana: igreja fechada para fiéis e transmissão online das celebrações (TV Aparecida/Facebook/Reprodução)

Celebrações online

Sem igrejas abertas, as celebrações do Tríduo Pascal em São Paulo serão transmitidas pela rádio 9 de Julho e pelo Facebook. No Domingo de Páscoa, dia 12, haverá o ato de Consagração da América Latina e do Caribe a Nossa Senhora de Guadalupe, transmitido diretamente do México, por iniciativa do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam).

Em Aparecida, cidade no interior de São Paulo onde fica o maior Santuário católico da América Latina, a organização local transmitiu missas e celebrações ao longo de toda a semana pela internet. O Santuário de Aparecida conta com uma TV própria, a TV Aparecida, que organizou programação especial para a Semana Santa. As missas na Basílica estão paralisadas há quase um mês, desde o fim de semana de 14 de março -- mesmo antes da quarentena geral no estado de São Paulo, em 23 de março.

Mesmo em outros lugares do Brasil, missas e aglomerações religiosas estão praticamente proibidas. Metade da população do país está em quarentena, segundo dados da startup In Loco, que usa monitoramento de celulares. A impossibilidade de os fiéis comparecerem às suas igrejas locais vem fazendo também a audiência da TV Aparecida crescer -- a emissora chegou a ficar em terceiro lugar em audiência na Grande São Paulo no horário de celebração de algumas missas nas últimas semanas.

O Vaticano, na Itália, também transmitiu as celebrações da semana pela internet. No último domingo, durante as celebrações do chamado Domingo de Ramos, o Papa Francisco celebrou missa para somente 12 pessoas presentes fisicamente -- todos eram ajudantes da celebração. No Brasil, o padre Marcelo Rossi também celebrou missa vazia no Domingo de Ramos em São Paulo, e colocou fotos de profissionais de saúde nas cadeiras.

As transmissões online do Papa começaram no início de março, em meio ao aumento do número de casos da covid-19 na Europa que obrigou o Vaticano a encerrar celebrações presenciais.

A Itália, onde fica o Vaticano, é um dos países mais afetados pelo coronavírus, com mais de 143.000 casos. É também o país com mais mortes, mais de 18.000 óbitos. Nesta Sexta-Feira Santa, o Vaticano fará transmissão à tarde, pelo YouTube e no Facebook. O Papa Francisco também vai celebrar a missa do domingo de Páscoa às 6h (horário de Brasília). No ano passado, mais de 20.000 católicos compareceram à celebração do Vaticano na Sexta-Feira Santa. Será a primeira vez que o evento não acontece desde 1964.

Páscoa em casa

Em todo o mundo, autoridades do clero também aplicam o distanciamento social. No Panamá, no Domingo de Ramos, um arcebispo abençoou a população de um helicóptero. Na Espanha, que como a Itália é um dos países mais atingidos pelo vírus, a população renunciou às famosas procissões das confrarias, uma tradição popular que remonta ao século 16 no país.

Na Inglaterra, a Igreja Anglicana começou a difundir podcasts de Páscoa para seus fiéis, incluindo uma leitura do evangelho pelo príncipe Charles -- que também foi confirmado com coronavírus.

Até mesmo na Grécia, cuja Igreja Ortodoxa negava a possível propagação do vírus através da comunhão, o governo proibiu missas na presença de fiéis. Na Páscoa, que os ortodoxos celebram uma semana depois, as igrejas da Grécia permanecerão fechadas.

Israel, que registra cerca de 60 mortos pelo coronavírus, também celebra desde a quarta-feira a Pessach, a Páscoa judaica, que comemora o êxodo do Egito. No país, a pandemia está praticamente concentrada em bairros de judeus ultraortodoxos, onde as medidas de isolamento vem sendo menos respeitadas. Os ultraortodoxos são uma minoria religiosa que responde por 10% da população no país, mas por um terço dos mais de 10.000 casos de coronavírus israelenses. Israel fechou todos os locais de cultos, além de lojas e espaços de lazer.

O Santo Sepulcro, que fica na chamada Cidade Velha de Jerusalém (administrada por Israel), também fica fechado nesta Páscoa. As ruelas estreitas e entrelaçadas da Cidade Velha estão sob vigilância da polícia israelense, segundo a agência AFP.

Considerado o "coração cristão de Jerusalém", o Santo Sepulcro já havia sido fechado em 2018 para protestar contra os impostos locais ou por reparos. Mas é a primeira vez que estará fechado para a Páscoa.

No ano passado, mais de 25.000 pessoas se reuniram em Jerusalém para celebrar o Domingo de Ramos, segundo Ibrahim Chomali, porta-voz do Patriarcado Latino de Jerusalém. No domingo passado, já com as medidas de quarentena, a missa no local foi celebrada com apenas 15 membros do clero.

"Mas, mesmo nessas circunstâncias difíceis, pode haver algo positivo", diz o clérigo à AFP. O religioso afirma que, por trás de suas telas de televisão ou computador, 60.000 pessoas assistiram à transmissão da missa ao vivo na semana passada. Mais milhares de fiéis são aguardados como espectadores nas celebrações deste fim de semana.

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