Estádio Lusail, no Catar, que será um dos palcos da Copa do Mundo de 2022 (Hamad I Mohammed/Reuters)
Da Redação
Publicado em 25 de março de 2022 às 11h56.
Última atualização em 25 de março de 2022 às 11h58.
Em ano de Copa do Mundo, é comum a expectativa para o início do torneio e a projeção de quais seleções chegam mais fortes para a disputa do título. Porém, nesta edição, para além do futebol, um ponto em particular também está em discussão: as denúncias de exploração de trabalhadores na construção das arenas. Na última semana, a Fifa se reuniu com o governo do Catar para discutir direitos trabalhistas.
O presidente da entidade, Gianni Infantino, conversou com o Ministro do Trabalho do Catar, Ali bin Samikh Al Marri, em Doha, e, durante a reunião, destacou: “Temos que reconhecer o importante progresso que foi alcançado no país na última década. Reformas legislativas marcantes foram introduzidas e trouxeram benefícios concretos para centenas de milhares de trabalhadores migrantes”.
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No comunicado oficial da Fifa sobre o encontro, há um destaque para a nova lei sobre o salário mínimo que já levou ao aumento dos salários de 280.000 trabalhadores, equivalente a 13% da força de trabalho total. Além disso, outro dado levantado foi o do fechamento de 338 empresas, desde maio de 2021, por não cumprir com a legislação sobre a jornada de trabalho durante altas temperaturas.
Neste mês, a entidade máxima do futebol também se reuniu com representantes da Anistia Internacional, organização não governamental que defende direitos humanos pelo mundo. Na reunião, foi entregue uma petição com 280 mil assinaturas de torcedores sobre riscos no setor de serviços do evento e a promessa de uma carta documentando mais abusos trabalhistas que continuam sendo cometidos no Catar.
Luiz Henrique Martins Ribeiro, advogado especialista em negócios no mundo do esporte, frisa que, apesar de parecer haver uma mudança fomentada pelos eventos esportivos, e, neste caso, pela Copa do Mundo do Qatar, é improvável uma transformação drástica nesse cenário. “Eu entendo que não só o Mundial, como todo e qualquer evento esportivo de grande proporção, como as Olimpíadas, seja a de Inverno ou a de Verão, direciona o olhar para os países onde são realizados. O esporte chama atenção, mas falta muito para ser um catalisador de mudança”, completa.
Apesar de todo esse investimento colossal para promover um dos eventos mais grandiosos na cidade de Doha, há outro fator por trás que, na visão dos especialistas, parece ter um objetivo claro: melhorar a imagem do país diante do resto do mundo. “É uma oportunidade do país angariar notícias positivas pela organização, pela estrutura e outras frentes que queiram mostrar. Sabemos da atratividade do torneio, da força de exposição, da grandeza das seleções e do poder midiático, mas hoje a população mundial também busca informação de algo a mais”, conclui Fábio Wolff, diretor da Wolff Sports & Marketing.
No ano passado, os jogadores de diversas seleções durante as Eliminatórias se manifestaram contra as péssimas condições dos funcionários estrangeiros que trabalharam nas obras. Alguns atletas fizeram protestos antes mesmo das partidas, como o atacante norueguês Haaland, do Borussia Dortmund, e o alemão Toni Kroos, do Real Madrid.
A Dinamarca, já classificada para a Copa do Catar em 2022, anunciou um boicote comercial. No lugar dos patrocinadores, o uniforme da seleção irá expor mensagens humanitárias em protesto à organização do torneio. Outras seleções também se manifestaram, caso da Noruega, que ano passado entrou em campo contra Gibraltar e Turquia com mensagens no manto a favor dos direitos humanos, e da Holanda, que também apoiou os protestos. Os atletas da equipe holandesa, no jogo contra a Letônia, pelas Eliminatórias, vestiram camisas com a expressão “O Futebol apoia a mudança”.