Tijana Jankovic: leitura em italiano, francês, inglês, português, sérvio e espanhol. (Leandro Fonseca/Exame)
Julia Storch
Publicado em 19 de maio de 2022 às 12h09.
O hábito da leitura sempre fez parte da vida de Tijana Jankovic, CEO da Rappi no Brasil. Durante a infância em Belgrado, na Sérvia, ela não tinha o costume de assistir à televisão, e sim o de mergulhar em livros de séries infantis.
O comportamento vem de gerações. A avó paterna era tradutora de livros do francês para o sérvio. “Tive muitas conversas com ela e sei que a tradução não é só uma técnica, mas uma arte, pois os tradutores têm um pouco de escritor também”, comenta a empresária, que diz ter preferência pela leitura de romances no idioma original. Já o pai possui há mais de 30 anos uma editora no país do Leste Europeu. “Cresci no meio dos livros e em várias línguas”, lembra Jankovic, sobre publicações suecas que bisbilhotava quando pequena.
Já o português, falado com diversas gírias e quase sem sotaque, foi aprendido ao longo dos nove anos de residência no Brasil. “Não se pode viver aqui só falando inglês. Depois de dois anos morando no Brasil, entendi que ficaria estagnada com o idioma, a menos que eu fizesse alguma coisa.” Foi então que Jankovic buscou os clássicos brasileiros para aperfeiçoar o português, enriquecer o vocabulário e entender melhor a nova cultura em que estava inserida. Começou por Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e as obras de Jorge Amado.
“O país tem uma cultura que vem de uma história muito peculiar. É praticamente impossível para quem é de fora e não cresceu aqui olhar só o Brasil contemporâneo e entender de onde vêm certos hábitos, do passado colonial, da escravidão. É preciso olhar para trás e começar a juntar a origem das coisas”, diz.
Sua rotina de leitura mudou nos últimos meses. Com o nascimento da segunda filha, Íris, em janeiro, Jankovic começou a ouvir audiobooks nos momentos em que amamenta. “Acho que passo de 7 a 8 horas por dia amamentando, então dá para ouvir as histórias com o fone, é perfeito. Acredito que tenha zerado uns cinco livros”, diz a empresária, que ainda prefere ler a escutar as histórias. “Na minha visão, pela entonação que os narradores usam, há um pouquinho menos de espaço para a própria imaginação, os personagens já ficam um pouco mais definidos.” Durante a licença-maternidade ela costuma passear na Livraria da Vila com a filha no canguru. “Enquanto ela dorme, vou fazendo a lista dos próximos livros, e também tento ler um pouco.”
Já com a filha mais velha, Teresa, de 3 anos, há uma regra em casa: ler antes de dormir. Jankovic reveza a tarefa com o marido brasileiro: ele fica encarregado de ler os livros em português; e ela, em sérvio. “Só que, às vezes, minha filha acaba escolhendo algum livro em português, e nesse caso eu faço tradução simultânea”, conta, rindo. Na pequena biblioteca da filha estão três livros escritos pelo avô, com histórias baseadas na experiência dele com as netas.
O hobby contemplativo contrasta com o dia a dia na Rappi. Em abril, a startup colombiana começou a aceitar criptomoedas como forma de pagamento para entregas no México e passou a adotar medidas para garantir rendimentos adequados aos entregadores independentes. Até o final do ano estão previstos mais de 43 milhões de reais em investimentos para compensar o aumento do preço dos combustíveis. Além disso, no início do mês a empresa passou a alugar bicicletas elétricas para os entregadores independentes do aplicativo. Até o final do ano, a meta é ter 2.000 e-bikes circulando pelo país.
Para os planos pessoais futuros, Jankovic pensa em traduzir livros clássicos do português para o sérvio, para que sua família possa entender a realidade brasileira. Será uma tarefa familiar. “Estou discutindo com meu pai como faremos essa seleção dos clássicos da literatura brasileira”, conta, animada.