Atleta foi bicampeão dos 110 metros com barreiras do Troféu Brasil (CBAt/Divulgação)
Agência O Globo
Publicado em 23 de junho de 2022 às 16h13.
Última atualização em 23 de junho de 2022 às 16h26.
O mineiro Rafael Pereira venceu na manhã desta quinta-feira a prova dos 110 com barreiras do Troféu Brasil, com recorde brasileiro e sul-americano. Com 13seg17, não só ganhou o ouro como subiu da 13ª para a sexta marca no ranking da World Athletics, a federação internacional de atletismo, reforçando seu sentimento de que pode chegar ao pódio no Mundial de Oregon, nos Estados Unidos, de 15 a 24 de julho.
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O Troféu Brasil, que tem transmissão ao vivo pelo Canal Olímpico, se encerra neste sábado, no Estádio Nilton Santos, no Rio. O recordista anterior era de Gabriel Constantino, com 13seg18 (em Székesfehérvár, na Hungria, em 9 de junho de 2019) e que nesta quinta-feira foi vice-campeão com 13seg23. Eduardo de Deus ficou em terceiro lugar, com 13seg27.
Os três atletas bateram o recorde do campeonato de 13seg34, que era de Matheus Inocêncio, desde 2005. E ratificaram o índice de 13seg32 exigido pela World Athletics para Oregon. Nos Jogos Olímpicos do Rio-2016, realizados na mesma pista, o espanhol de origem cubana Orlando Ortega conquistou a medalha de prata, com o tempo de 13seg17, o mesmo de Rafael neste Troféu Brasil, na mesma pista.
Rafael chegou ao Troféu Brasil com a confiança nas alturas. Isso porque, segundo ele, atingiu todas as metas pessoais nesta temporada na Europa. Recentemente foi prata no Meeting de Paris, em etapa da Diamond League, com 13seg25.
"Minha meta era ficar entre os três primeiros em todas as competições que fiz na Europa neste ano. E consegui. Agora, com 13seg17, posso estar entre os três do mundo", disse Rafael, referindo-se ao torneio de Oregon. "Terei três tiros: eliminatória, semifinal e final. E quero ficar entre os três nos três tiros."
Antes da etapa francesa da Diamond League, Rafael também disputou a etapa de Oslo, sua estreia no nobre circuito da World Athletics e ficou com a terceira colocação (13seg37). Sua passagem pela Europa incluiu: o Meeting de Savona (ITA), que venceu com 13seg36; foi campeão ibero-americano, na Espanha; bronze em Montreuil (FRA), com 13seg48; e ouro no Meeting Orlen Janusz Kusocinski Memorial, do circuito Ouro da WA, na Polônia, com 13seg28.
"Estou muito emocionado. Sou o mais jovem dos três (ele, Gabriel e Eduardo). Eles são meus irmãos, meus amigos. O relacionamento é o melhor possível. Um torce pelo outro", comentou o atleta de 26 anos. "O recorde não deixou de ser uma surpresa. Melhorei três vezes este ano meu recorde pessoal, a última na etapa de Paris da Liga Diamante, onde corri 13seg25."
Sua evolução é impressionante. Ainda mais quando se leva em consideração que ele voltou aos treinos entre 2019 e 2020, em plena pandemia. Rafael, que havia começado no esporte para ser menos desengonçado, tinha optado por seguir carreira de fisioterapeuta. Formado em 2019, ele teve "ano conturbado" por conta dos vários estágios e por ter começado projeto de iniciação científica, de olho em um mestrado na área.
"Fui me aprofundando cada vez mais na fisioterapia e não conseguia me dedicar ao atletismo. Meu rendimento caiu muito. Em 2019, não consegui correr nem na casa dos 13 segundos. Isso me desmotivou muito", lembra o barreirista. "Depois de formado conseguiu várias oportunidades de trabalho na área e muitos pacientes. O atletismo tinha ficado para trás."
Mas, em 2020, com a pandemia, o trabalho e o dinheiro sumiram. Ele não tinha mais clientela. Tudo parou. E o adiamento da Olimpíada de Tóquio mudou o rumo desta história.
"O atletismo voltou a ser prioridade. Passei a treinar, dispensei alguns pacientes e pedi dispensa de algumas clínicas. Fiquei só com o básico para me manter. Voltei com tudo", lembra Rafael, que durante a pandemia teve de improvisar seus treinos. "Foi aos trancos e barrancos. Sem pista nem academia. Mas acabou que deu certo. Estou colhendo os frutos hoje em dia."
Rafael treinou na rua, estacionamento de um centro de saúde, campo de futebol. Improvisava a barreira com canos de PVC e marcava a pista com trena. No quarto da sua casa, em Contagem (MG), treinava musculação com anilhas que já possuía e baldes com água. Só pisou numa pista de atletismo em setembro de 2020, no Recife.
Chegou nos Jogos de Tóquio por ranking, após acumular pontos nas competições de 2020 (ficou em segundo lugar no Trófeu Brasil e no GP Brasil) e 2021 (quando ganhou o Troféu Brasil pela primeira vez). Começou o ano olímpico, com 13seg64 e na primeira competição chegou a 13seg51. No Sul-americano de 2021 ganhou o ouro com 13seg35.
"No Japão eu era um mero estreante e fui às semifinais. Agora miro Paris", fala o mineiro, que em Tóquio estreou em competição internacional adulta, fora do continente. "E a fisioterapia? Será meu empreendimento pós-atletismo, quando minha carreira de atleta se encerrar. Ficou para o futuro."