Edifício Dakota, em Nova York: não está claro se o Dakota já foi um empreendimento rentável (Andrevruas/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2015 às 22h32.
O site do 432 Park Ave., o arranha-céu residencial mais alto do hemisfério ocidental e o mais recente investimento de Manhattan para os ricaços, exalta as comodidades do prédio: salão de bilhar, spa e apartamentos com painéis de mármore e vistas extraordinárias.
Parece ótimo. É uma pena que outro ícone de Nova York tenha essas conveniências... há 131 anos.
O Dakota, que fica na esquina da rua 72 e da Central Park West, foi um dos primeiros edifícios de apartamentos luxuosos de Nova York e, sem dúvida, o mais sumptuoso.
O rol de características incluído no livro que será lançado pelo historiador Andrew Alpern, “The Dakota: A History of the World’s Best-Known Apartment Building” (Dakota: história do edifício residencial mais famoso do mundo, em tradução livre), é de fazer com que o nova-iorquino médio chore: quadras de tênis, escadas de mármore, salas de jantar revestidas com mogno e carvalho, pé-direito de 4,27 metros, lareiras ornamentadas e, é claro, aquelas vistas para o Central Park.
O livro está repleto de plantas originais, imagens histórias dos interiores e perfis dos diversos moradores notáveis ao longo dos anos.
A ironia é que, quando a construção terminou em 1884, ao contrário do 432 Park Ave., ela não se destinava aos ricaços – o edifício foi construído e anunciado para a classe média alta.
A primeira lista de moradores registrada menciona corretores, advogados, fabricantes de alimentos sólidos e um tal Sr. Albert Griesbach, cuja ocupação era “roupa de cama”.
Os aluguéis variavam de US$ 1.000 a US$ 5.600 por ano. (A calculadora de inflação da Secretaria de Estatísticas do Trabalho dos EUA remonta apenas até 1913, quando US$ 1.000 equivaliam a US$ 24.000 atuais).
Moradores ilustres
Ao contrário dos dias de hoje, os primeiros sete andares foram projetados incialmente para os moradores do edifício, ao passo que o oitavo e o nono andar – mais quentes, menos acessíveis e, por causa do teto anguloso, cheio de pés-direitos baixos – se destinavam aos apartamentos dos funcionários.
Foi só no início da década de 1960 que o Dakota se tornou um edifício em cooperativa e que, nos anos seguintes, Lauren Bacall, Leonard Bernstein, Rudolph Nureyev, Judy Garland e, talvez o caso mais conhecido, John Lennon e Yoko Ono foram morar lá; o edifício começou a conquistar uma fama de culto.
O filme “O bebê de Rosemary”, que usou tomadas do exterior do Dakota e apresentou Mia Farrow aos 19 anos correndo por seus corredores palacianos (embora essas cenas tenham sido filmadas em outro lugar), solidificou a fama do edifício.
O assassinato de Lennon, que ocorreu no arco de entrada do edifício, cimentou sua infâmia.
De certo modo, a história do Dakota, como é contada pelo livro de Alpern, equivale à história de Nova York.
Único
No entanto, o Dakota é o único de sua categoria, principalmente por causa dos proprietários originais, a família Clark – que enriqueceu com a fortuna das máquinas de costura Singer – que atuou mais como pais benevolentes do que como senhorios em grande parte de um período de 75 anos.
Não está claro se o Dakota já foi um empreendimento rentável (quando foi inaugurado, ele tinha 150 funcionários, sem contar empregadas domésticas e cozinheiros contratados pelas famílias que moravam nos andares superiores), e, como observa Stephen Birmingham em seu livro “Life at the Dakota, New York’s Most Unusual Address” (A vida no Dakota, o endereço mais incomum de Nova York, em tradução livre), de 1979, “os aluguéis quase nunca aumentavam” até o edifício se tornar uma cooperativa na década de 1960.
Há também o fato de que as comodidades, aquela arquitetura e, novamente – vamos destacar este aspecto – a localização são espetaculares. Atualmente, o Dakota é um dos endereços mais exclusivos da cidade.
De acordo com o StreetEasy.com, o edifício tem seis anúncios ativos (três disponíveis, três em contrato), e o mais barato é o de um apartamento de quatro quartos à venda por US$ 3,6 milhões.
E sim: apartamentos em condomínios envidraçados com coberturas de US$ 100 milhões continuam aparecendo como ervas daninhas pela rua 57. Nenhum deles, no entanto, conseguiu desafiar a grandiosidade plácida do Dakota.
Para sermos justos, ele teve um século de vantagem.