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Conheça o dono de rede de pubs que financia (e fatura com) o Brexit

Dono da JD Wetherspoon, quarta maior rede do país, Tim Martin é um dos protagonistas do Brexit – e as ações da empresa já subiram 10% após a última eleição

Boris Johnson e Tim Martin, do JD Wetherspoon: o empresário é um dos maiores entusiastas do primeiro-ministro e do Brexit (Henry Nicholls / WPA Pool/Getty Images)

Boris Johnson e Tim Martin, do JD Wetherspoon: o empresário é um dos maiores entusiastas do primeiro-ministro e do Brexit (Henry Nicholls / WPA Pool/Getty Images)

AJ

André Jankavski

Publicado em 20 de dezembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 20 de dezembro de 2019 às 07h00.

Londres, Inglaterra – A vitória incontestável do partido conservador e do primeiro ministro Boris Johnson, também conhecido como “Bojo”, nas eleições britânicas deste mês praticamente sacramentou a saída do Reino Unido da União Europeia. Isso quer dizer que o Brexit poderá se tornar realidade com ou sem acordo para amenizar os danos econômicos, para o desespero de parte do empresariado local e europeu.

Um nome da iniciativa privada, no entanto, defende abertamente a saída brusca: Tim Martin, fundador e presidente do conselho da rede de pubs JD Wetherspoon, a quarta maior do Reino Unido.

Durante o referendo sobre o tema, realizado em 2016, o empresário doou mais de 100.000 libras em para o comitê de campanha a favor da saída. Entre os gastos estão a impressão e distribuição de mais de 200.000 porta-copos com mensagens pró-Brexit. Cervejas inglesas também passaram a ter descontos em comparação às concorrentes europeias.

Mas por que um empresário, que emprega mais de 30.000 funcionários de nações da União Europeia, prega tanto uma saída do Reino Unido? “É uma pergunta complexa, mas eu tenho um sentimento de que é necessária a democracia para um país sobreviver”, diz Martin a EXAME. “E a União Europeia está cada vez menos democrática. Um presidente precisa ser eleito pelas pessoas e a presidente da UE não foi escolhida pelo povo.”

Martin não critica apenas a União Europeia, mas diversas organizações globais, como o Fundo Monetário Internacional. Ele gosta de dar o exemplo de que esse “déficit democrático”, exemplificados com pesados pacotes de austeridade, afetou diretamente diversos países como a Grécia e Portugal. “Não é que sou contra os outros países, como Alemanha e a França. É exatamente o contrário. Eu só acredito que a União Europeia tem muito poder.”

E o empresário gosta de expor os seus pensamentos com atitudes pensadamente midiáticas – o estilo excêntrico, com um corte de cabelo que lembra uma juba de leão, traz ainda mais força às suas falas e atitudes. Uma das medidas foi retirar vinhos franceses do cardápio. O mesmo foi feito com o destilado alemão Jägermeister, feito de frutas e raízes, substituído por uma versão inglesa. Recentemente, imprimiu mais 500.000 porta-copos para reafirmar as suas posições a favor do Brexit.

Esse tipo de medida agrada, inclusive, os investidores: após a eleição que confirmou a força do partido conservador, as ações da JD Wetherspoon chegaram a se valorizar 17%.

Expansão em meio à crise

Desde a sua fundação, em 1984, o JD Wetherspoon nunca teve um ano de queda nas receitas. Em 2019, um novo recorde: o faturamento do grupo, que conta com mais de 900 pubs espalhados pelo Reino Unido e Irlanda, foi de 1,8 bilhão de libras. O crescimento chama a atenção pelos anos complicados que o setor vem passando recentemente.

Na última década, um em cada quatro pubs fechou as portas no Reino Unido. Entre os principais motivos estão a mudança de comportamento dos jovens, que estão deixando de consumir bebidas alcoólicas ou preferem pagar menos nos supermercados, e o aumento dos impostos.

A taxa da cerveja, aliás, pesa muito no bolso dos donos dos bares – esses estabelecimentos precisam pagar cerca de 40% a mais pela venda de bebidas alcoólicas, uma taxa que não é cobrada nos supermercados.

Por isso, a saída para muitos donos foi se desfazer dos seus negócios. Entre os interessados nos imóveis estão supermercados, escritórios e... o JD Wetherspoon. A empresa passou a se especializar na recuperação de pubs em situação financeira complicada. "Me encanta os espaços que estão em prédios antigos, pois trazem uma atmosfera completamente diferente do que é um pub inglês”, diz Martin.

A JD Wetherspoon compra e reestrutura tanto a gestão quanto o espaço em busca de melhores resultados. Entre as apostas estão pratos típicos de pub (como nachos e asas de frangos picantes) a preços baixos.

Para diminuir os custos com funcionários, a empresa lançou um aplicativo próprio em que é possível ver o cardápio, fazer o pedido e pagar pelo telefone. A outra opção é fazer o pedido no balcão.

Como os negócios vão bem dentro de casa, o empresário não enxerga uma expansão dos pubs do JD Wetherspoon para fora do Reino Unido e pela Irlanda. Ao contrário. A meta de Martin é entrar em cidades cada vez menores. Mas por que não expandir para outros países? “Nem sempre uma empresa britânica funciona lá fora. Eu adoraria abrir em outros países, mas prefiro ir com calma. Diversas empresas britânicas tentaram expandir rapidamente e deram terrivelmente errado.” Nada mais "Brexit" do que isso.

Ele, inclusive, disse que gostaria de abrir pubs no Brasil. Mas é claro que em tom de brincadeira. Segundo ele, aos risos, “já que a Inglaterra não ganha do Brasil no futebol, poderíamos competir nos bares”. Porém, nem mesmo os ingleses parecem tão preocupados com futebol.

Em novembro, EXAME esteve em um dos bares da rede durante a partida em que a Inglaterra goleou a seleção de Montenegro por 7 a 0. Em nenhum dos gols houve qualquer tipo de manifestação dos presentes. Os copos e pratos, no entanto, esvaziavam em uma velocidade maior do que os atacantes do time inglês – muitos deles descendentes de imigrantes.

Ou seja, os britânicos parecem gostar mais de cerveja do que de futebol, esporte criado por eles mesmos. Talvez seja por isso que a opinião de um dono de uma rede de bares sobre o Brexit seja tão reverberada por toda a ilha.

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