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Conheça o 'cemitério da moda' na China – espaço que tem 26 milhões de toneladas de roupas

Apenas 20% dos produtos têxteis da China são reciclados, segundo o governo

Marcas conhecidas também não dão importância para práticas ambientais, segundo órgão do setor (Jennifer M. Ramos/Getty Images)

Marcas conhecidas também não dão importância para práticas ambientais, segundo órgão do setor (Jennifer M. Ramos/Getty Images)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 12 de julho de 2024 às 11h04.

Numa fábrica na província de Zhejiang, na costa leste da China, dois montes de roupas de cama e peças de vestuário descartados, separadas em cores, formam uma pilha no chão de uma sala. É o tempo dos trabalhadores dali alimentarem as máquina trituradoras.

É a primeira etapa de uma nova vida para esses itens, num um esforço de reciclagem na Wenzhou Tiancheng Textile Company, uma das maiores fábricas de reciclagem de algodão da China, segundo reportagem da Associated Press.

Os resíduos têxteis são um problema global urgente, com apenas 12% reciclados em todo o mundo, de acordo com a Fundação Ellen MacArthur, que trata da sustentabilidade da moda. Menos ainda – apenas 1% – são reciclados como novas peças. A maioria é usada para itens de baixo valor, como isolamento ou enchimento de colchões.

Em nenhum lugar o problema é mais grave do que na China, o maior produtor e consumidor de têxteis do mundo, onde mais de 26 milhões de toneladas de roupas chegam lá todos os anos, segundo estatísticas governamentais. A maior parte acaba em aterros sanitários.

Fábricas como a Wenzhou Tiancheng Textile Company mal conseguem fazer diferença num país cuja indústria do vestuário é dominada pelo fast fashion – roupas baratas feitas de materiais sintéticos não recicláveis ​.Produzidos a partir de produtos petroquímicos que contribuem para as alterações climáticas e também para poluição do ar e da água, os produtos sintéticos representam 70% das vendas nacionais de vestuário na China.

Mas esse problema já não fica somente na China. Marcas gigantes do comércio eletrónico, como Shein e Temu, fazem do país um dos maiores produtores mundiais de moda barata, vendendo para mais de 150 países. Ou seja, mais poluição em mais lugares do mundo.

A tarefa é difícil. Apenas 20% dos produtos têxteis da China são reciclados, segundo o governo chinês – e quase tudo isso é algodão.

O algodão chinês não deixa de ter uma "mancha própria", disse à AP Claudia Bennett, da organização sem fins lucrativos Human Rights Foundation. Grande parte deste dinheiro provém do trabalho forçado na província de Xinjiang realizado pela minoria étnica uigure do país.

De acordo com um relatório deste ano do órgão independente de vigilância da moda Remake, que avalia as principais empresas de vestuário relativamente às suas práticas ambientais, de direitos humanos e de equidade, há pouca responsabilidade entre as marcas mais conhecidas.

O grupo deu à Shein, cujo mercado online agrupa cerca de 6.000 fábricas de roupas chinesas sob sua marca, apenas 6 de 150 pontos possíveis. A Temu marcou zero.

Também obtiveram zero a marca norte-americana SKIMS, cofundada por Kim Kardashian, e a marca de baixo preço Fashion Nova. A varejista norte-americana Everlane foi a que obteve a pontuação mais alta, com 40 pontos, com apenas metade deles em práticas de sustentabilidade.

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