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Conheça a chef brasileira que assinou cardápio na Olimpíada e comandará restaurante no Louvre

Nascida no Morro do Vidigal e criada em Poté, pequena cidade de Minas Gerais, Alessandra Montagne se mudou para Paris aos 22 anos

Alessandra Montagne: chef brasileira possui dois restaurantes em Paris, e irá comandar um restaurante no Museu do Louvre.  (Anne Claire/Divulgação)

Alessandra Montagne: chef brasileira possui dois restaurantes em Paris, e irá comandar um restaurante no Museu do Louvre. (Anne Claire/Divulgação)

Júlia Storch
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 6 de agosto de 2024 às 14h18.

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A efervescência em Paris continuará após a Olimpíada de Paris,  especialmente graças a Alessandra Montagne, chef mineira que comandará um dos restaurantes no Museu do Louvre por 12 anos, a convite de Alain Ducasse. Montagne começou sua carreira na cozinha no Brasil, mas foi na França, onde vive há mais de duas décadas, que se descobriu como cozinheira.

Nascida no Morro do Vidigal e criada em Poté, pequena cidade de Minas Gerais, Alessandra se mudou para Paris aos 22 anos, disposta a construir uma nova vida. Sem falar francês, a linguagem que usou para se comunicar com as pessoas que ia conhecendo foi a da cozinha.

Incentivada por amigos, acabou por cursar gastronomia e ingressou na área. Seu primeiro restaurante, o Tempero, fez sucesso imediato, com filas que dobravam o quarteirão. O burburinho chamou a atenção do lendário chef Alain Ducasse, que se apaixonou pela comida de Alessandra e a apadrinhou. Além do Tempero, a chef também comanda o Nosso, recomendado no Guia Michelin.

O sucesso das casas chegou ao Brasil, para onde Alessandra voltou a viajar após uma longa temporada na Europa. “Quando saí do Brasil a minha situação estava bem complicada, eu tinha pânico de ir ao Brasil, ficava com medo de sofrer e nunca mais consegui voltar”, diz. Foi a partir de um convite para participar de um evento gastronômico em 2022 que a chef percebeu o quanto seu trabalho na cozinha havia expandido para além do oceano.

“Voltei para Poté, a minha cidade, e comecei a ver com outro olhar. Entendi a sorte que tive de ter crescido ali, protegida de tantas coisas. Quando eu era criança, eu não sabia que era negra e que eu tinha tantas limitações já predestinadas na vida. Também conheci muitas pessoas que admiravam meu trabalho e eu nem sabia. Mas continuei focada, é muito importante para mim continuar na minha direção, eu sou cozinheira, eu não estou salvando o planeta”.

Ainda que não se enxergue como uma super-heroína como nos filmes, Alessandra possui importantes escolhas para o planeta a partir de sua cozinha. Independentemente da cozinha onde está, a chef preza pelo uso integral dos ingredientes.

“O meu trabalho faz com que eu tenha um consumo alto de água, carnes, legumes e eletricidade. Então, por conta disso, eu sempre luto muito para ter zero desperdício. Inclusive, eu não tenho lixo na minha cozinha, os resíduos vão para a composteira”.

Em entrevista ao podcast Gama, Alessandra conta que a prefeitura tentou multá-la anos antes por ter uma composteira em sua cozinha. No início deste ano, a França criou uma lei que obriga empresas e residentes a descartar matéria orgânica em lixeiras específicas ou fazer a compostagem em casa.

Outras escolhas sustentáveis feitas por Montagne está no uso de ingredientes locais. Mais de 90% dos insumos são provenientes da região parisiense. “Aqui se produz muitos cereais, frutas, legumes, óleos, carnes e peixes de água doce. Importo um pouquinho de farinha de polvilho para fazer pão de queijo, mas tento controlar o máximo possível para não trabalhar com produtos que vêm de fora”, diz.

Entrada do Nosso: pão de queijo e caviar de Madagascar. (Maki Manoukian/Divulgação)

Nesta época do ano, Alessandra está animada pelo uso dos tomates. “Há mais de 20 variedades disponíveis, levo uma cesta à mesa dos clientes para escolherem quais desejam consumir. É lindo”.

“Gosto de usar ingredientes simples e que todo mundo pode comprar e transformá-los em pratos gastronômicos. Eu uso caviar, mas não é o essencial da minha cozinha. O essencial da minha cozinha são produtos de alta qualidade”.

A alta qualidade do trabalho de Alessandra também aparece fora dos restaurantes. Durante os Jogos Olímpicos, a chef elaborou o menu para 3 mil pessoas nas competições de equitação, que aconteceu em Versalhes. O menu contou com ravioli de lagosta servido com bisque e risoto de triguinho.

Na próxima semana, pela primeira vez a chef irá cozinhar no Brasil, em São Paulo. Serão dois jantares no Vista Ibirapuera, localizado no rooftop do prédio do MAC, um dos principais cartões postais da cidade, com toda a equipe do Nosso.

Batizados de “Nosso no Vista”, os jantares acontecerão nos dias 14 e 15 de agosto, com um menu inteiramente composto por criações que fizeram a fama da brasileira na capital francesa, como o pão de queijo com caviar e a lagosta com mucilagem do cacau, pimenta de cheiro e coentro e praliné salgado de caju com yuzu. As receitas serão harmonizadas com vinhos franceses e brasileiros (R$ 990).

Já no dia 24 de agosto, o Barracuda Hotel & Villas, localizado em Itacaré, vai receber a chef para preparar um jantar franco-brasileiro (R$ 360) inspirado nos ingredientes regionais da Bahia ao lado do chef Fernando Luz, que comanda o restaurante do hotel. Entre as criações da dupla para a ocasião estão a focaccia de cenoura e botarga, o badejo maturado com carambola e o pernil de cordeiro confit e canjiquinha.

Os próximos planos para Montagne incluem a inauguração de um restaurante dentro do Museu do Louvre. O projeto será inaugurado após os Jogos Olímpicos, e por enquanto as informações ainda não podem ser reveladas. “Cozinhar tudo que eu gosto de fazer, tudo que eu sei fazer”.

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