Infecção urinária: a infecção acomete de 20 a 30% das mulheres em certa fase da vida (Thinkstock/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2017 às 15h53.
As diferenças entre o corpo da mulher e o do homem vão além daquelas que nos saltam aos olhos. O canal da uretra, por onde sai o xixi, é uma das diversidades que ficam escondidinhas.
Enquanto na ala feminina essa via de saída mede cerca de 5 centímetros, na turma do Bolinha chega à incrível marca de 22 centímetros.
A consequência da discrepância não é nada vantajosa para as mulheres. Isso porque, nelas, bactérias que se metem a intrusas têm um caminho muito mais curto a percorrer até alcançar a bexiga.
Quando chegam ao órgão, costumam fazer estragos. Daí a vontade de urinar fica intensa, há dor e a urina às vezes vem acompanhada de sangue.
É a cistite, nome formal da infecção urinária, que acomete de 20 a 30% da população feminina em certa fase da vida.
O vínculo é indireto, mas existe. Acompanhe o raciocínio: quem está muito acima do peso costuma exibir dobrinhas em várias partes do corpo. A característica muitas vezes dificulta a perfeita higiene da região genital após urinar e cria o cenário perfeito para as bactérias fazerem a festa.
Mas atenção: a limpeza em excesso também não é boa. “Isso altera a flora vaginal, resultando em uma expulsão de bactérias protetoras dali”, esclarece Wladimir Alfer Júnior, urologista do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista. A recomendação é evitar duchas íntimas, sprays com aromas e outros itens capazes de desequilibrar a flora.
“Não use banheiros públicos”… Está aí um conselho de mãe que se pode ignorar, tomando os devidos cuidado com superfícies sujas, é claro.
É que xixi parado na bexiga por muito tempo cria o ambiente perfeito para a proliferação de bactérias do mal.
“Urinar funciona como uma lavagem contínua”, informa o ginecologista José Geraldo Lopes Ramos, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Apesar de nada romântico, o ato também é indicado logo depois da atividade sexual, quando podem ocorrer microfissuras na região da uretra, facilitando a aderência de micro-organismos.
Com uma escapadinha ao banheiro, você expulsa os pequenos invasores.
Qualquer moléstia que comprometa as defesas do organismo, deixando-as bem capengas, predispõe à infecção urinária. É o caso do diabete e da aids.
“Aí, nosso corpo não consegue se defender direito das bactérias”, justifica Rodolfo Borges dos Reis, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), regional São Paulo.
Certos medicamentos, como aqueles indicados para quem convive com o lúpus, e a prática excessiva de exercícios físicos também contribuem para a queda da imunidade.
Na famosa prisão de ventre, os problemas vão além do desconforto abdominal. Pela anatomia feminina, as bactérias do trato gastrointestinal, empacadas, têm facilidade em migrar para a uretra, contaminando-a.
“A culpada pela maioria dos episódios de cistite atende pelo nome de Escherichia coli. Essa é uma bactéria que vive no intestino, onde não cria problemas.
Mas, quando passa para a área da vagina, compete com micro-organismos que vivem naturalmente ali”, descreve Milton Skaff, daBeneficência Portuguesa.
Daí, se a intrusa domina o terreno, cresce o risco de infecção. “De fato, nas pacientes constipadas detectamos uma maior colonização de micro-organismos do intestino na região vaginal”, confirma o especialista.
Calma! Não vá achando que nesse tópico você vai encontrar um sinal verde para dispensar o preservativo durante o sexo. Jamais.
O único contratempo é que os espermicidas – substâncias responsáveis por matar os espermatozoides – modificam a flora vaginal, deixando as mulheres mais suscetíveis à ação maléfica das bactérias.
A saída, então, é procurar camisinhas sem o tal espermicida ou que tenham a substância na parte interna, para o gel ficar em contato apenas com o pênis.
“Em certos casos, as pedras que se formam nos rins são ocasionadas por uma bactéria que interfere na acidez da urina, facilitando o depósito de sais”, explica Fernando Almeida, chefe do Setor de Urologia Feminina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O problema? O risco de esse micróbio também financiar a temida cistite.
“Há a possibilidade, inclusive, de o cálculo renal culminar direto no tipo mais grave da doença infecciosa, que é a pielonefrite”, alerta Skaff.
“Mas essa relação entre pedra no rim e infecção urinária é exceção, não a regra”, afirma o médico da Unifesp.
De qualquer forma, o recado é sempre investigar. Assim, evita-se o uso constante de antibióticos e o surgimento de um exército perigoso de bactérias resistentes.
A cistite é o tipo mais frequente de infecção urinária.
Ela atinge a bexiga, e os sintomas incluem vontade de fazer xixi a todo momento, além de ardência e sangramento ao urinar.
Antibiótico, analgésico e hidratação costumam dar conta do recado.
A pielonefrite, por sua vez, é a forma mais nefasta do quadro, pois a bactéria chega até os rins, causando febre e mal-estar.
O tratamento é mais prolongado e pode exigir internação.
Quem convive com a infecção urinária várias vezes ao ano pode recorrer a uma vacina para melhorar as defesas do corpo.
Ela é um pouco diferente, para começar pela forma – ora, trata-se de um comprimido.
Tem outro detalhe: esse tratamento é indicado só para as mulheres atormentadas pela bactéria Escherichia coli, responsável por 85% dos episódios de cistite.
Outro recurso capaz de reduzir as recorrências infecciosas é o uso profilático de antibióticos.
Na prática, a paciente recebe doses baixas do medicamento – geralmente um quarto da quantidade utilizada normalmente – por cerca de seis meses.
Nesse meio-tempo, é possível que as bactérias provoquem novas infecções, porém o risco é menor.
Para definir o melhor caminho e afastar a complicação, conte com acompanhamento médico.
Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Saúde.