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Companhias aéreas ainda não sabem quando os passageiros voltarão

As viagens aéreas se recuperaram um pouco nos últimos meses, mas os números ainda são muito mais baixos em comparação com 2019

Avião da JetBlue em Tampa (Chang W. Lee/The New York Times)

Avião da JetBlue em Tampa (Chang W. Lee/The New York Times)

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Daniel Salles

Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 09h43.

Última atualização em 26 de fevereiro de 2021 às 11h40.

Foi "um ano infernal" para a United Airlines. A Delta Air Lines teve "o ano mais difícil" de sua história. E, para a American Airlines, foi "o ano mais desafiador". Foi assim que os executivos que dirigem essas empresas descreveram 2020 nas últimas semanas.

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A indústria aérea está ansiosa para prosseguir, mas ainda não descobriu como.

As viagens aéreas se recuperaram um pouco nos últimos meses, mas os números ainda são muito mais baixos em comparação com 2019, e ninguém sabe quando os negócios voltarão a níveis mais normais. Duas fontes de faturamento essenciais para as companhias aéreas – viagens corporativas e internacionais – provavelmente ficarão de fora por mais um ano ou por muito mais tempo.

Agora e nos próximos meses, pelo menos, as companhias aéreas estão levando quem pode viajar aonde for possível. Isso geralmente significa atender um pequeno grupo de viajantes obstinados, que não se intimidam com a pandemia e decidem viajar a lazer para pistas de esqui ou para a praia.

"A estratégia imediata é ir para onde as pessoas estão. Essa tem sido uma estratégia realmente inteligente, mas, para as companhias aéreas, não é uma maneira de ganhar dinheiro em longo prazo", disse Ben Baldanza, ex-presidente-executivo da Spirit Airlines, companhia aérea de baixo custo.

Mas as viagens de lazer são pouco reconfortantes para um setor tão arrasado. Turistas e pessoas que visitam familiares e amigos geralmente ocupam a maioria dos assentos nos aviões, mas as companhias aéreas dependem desproporcionalmente da receita de viajantes corporativos nos assentos executivos. Antes da pandemia, as viagens de negócios representavam cerca de 30 por cento das viagens, mas entre 40 e 50 por cento do faturamento com passagens, de acordo com a Airlines for America, associação do setor. E não se espera que esses clientes retornem tão cedo.

As quatro maiores companhias aéreas dos EUA – American, Delta, United e Southwest Airlines – perderam mais de US$ 31 bilhões no ano passado, e o setor em geral ainda está perdendo mais de US$ 150 milhões por dia, de acordo com uma estimativa da Airlines for America.

As perdas são ainda mais gritantes quando se considera que as companhias aéreas receberam US$ 40 bilhões em subsídios federais para ajudar a pagar aos funcionários, e dezenas de bilhões a mais em empréstimos governamentais de baixo custo. O problema é que as companhias aéreas hoje em dia não conseguem realizar viagens com um número suficiente de passageiros e tarifas altas o bastante para não ter prejuízo.

A indústria passou grande parte do ano passado economizando e reduzindo custos, removendo aviões mais velhos e menos eficientes das frotas; renegociando contratos; e encorajando dezenas de milhares de trabalhadores a aceitar acordos de dispensa e aposentadoria antecipada.

Isso, porém, não foi suficiente para compensar uma queda de quase dois terços nas viagens aéreas, já que os especialistas em saúde pública e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças continuam a desencorajar as viagens. A Airlines for America não espera que o número de passageiros se recupere aos níveis de 2019 até pelo menos 2023. E as companhias aéreas podem ter de esperar ainda mais se a recuperação econômica demorar demais por causa da disseminação de novas variantes do coronavírus ou de atrasos nas vacinações.

Avião a caminho de Newark (Chang W. Lee/The New York Times)

Ainda assim, as companhias aéreas dizem que estão esperançosas com o ano que vem pela frente.

A Southwest divulgou que as vendas em fevereiro foram melhores do que o esperado. A Alaska Airlines afirmou que, até meados do ano, espera operar cerca de 80 por cento dos voos feitos no mesmo período de 2019, enquanto a Hawaiian Airlines faz uma previsão igualmente otimista. O presidente executivo da Delta, Ed Bastian, declarou em uma mensagem aos clientes na semana passada que esperava ver uma virada na primavera setentrional à medida que a confiança do consumidor aumentar, as restrições às viagens forem relaxadas e a distribuição da vacina for expandida. A JetBlue iniciou recentemente voos diários de Nova York, Boston e Los Angeles para Miami e acrescentou voos sazonais para Key West, na Flórida, atendendo pela primeira vez qualquer uma das cidades.

"O debate já está mudando de quem vai conseguir sobreviver à crise para quem vai abocanhar a maior fatia do mercado na recuperação. Vai ganhar a empresa que tiver mais acesso a determinados mercados", disse Sheila Kahyaoglu, analista aeroespacial e de defesa do Jefferies, banco de investimento.

As companhias aéreas têm algumas coisas a seu favor. Os legisladores em Washington parecem dispostos a fornecer ao setor o terceiro grande pacote de ajuda financeira desde que a pandemia começou, no ano passado. Um comitê da Câmara dos Deputados liberou, na semana passada, US$ 14 bilhões em subsídios que as companhias aéreas poderiam utilizar para pagar aos funcionários até setembro, acrescentando essa ajuda ao pacote do coronavírus que está em debate no plenário.

As companhias aéreas também estão fazendo o que podem para aumentar a demanda.

A maioria dos especialistas do setor acredita que os viajantes voltarão em maior número nesta primavera ou no verão setentrionais, à medida que o clima melhorar e mais pessoas forem vacinadas.

A pergunta mais difícil para as companhias aéreas e outras empresas de viagens talvez seja quando executivos, gerentes de nível médio e outros viajantes de negócios se sentirão confortáveis para voltar a viajar. Nos últimos três meses de 2020, as viagens corporativas caíram 85 por cento ou mais na American, na Delta e na Southwest, de acordo com as companhias aéreas.

A Associação Americana de Hotéis e Pousadas, grupo do setor, comentou que não espera que as viagens de negócios se recuperem totalmente até 2024. Outros grupos acreditam que pode demorar ainda mais. Como base de comparação, as viagens internacionais de negócios diminuíram apenas 13 por cento durante a crise financeira, há uma década, mas levaram cinco anos para retornar ao ponto alto anterior, de acordo com a McKinsey.

Banhistas em Clearwater (Eve Edelheit/The New York Times)

Alguns especialistas argumentam que as viagens corporativas podem nunca se recuperar totalmente, com muitas reuniões presenciais permanentemente substituídas por videoconferências e chamadas telefônicas. Viagens para reuniões de vendas, convenções e feiras comerciais têm menos chances de ser afetadas de forma permanente, explicou a IdeaWorks, empresa de consultoria do setor, em um relatório publicado em dezembro. Porém viagens mais curtas para reuniões de algumas horas com colegas de trabalho – de Nova York a Washington, por exemplo – podem ser mais afetadas, concluiu o relatório.

As companhias aéreas estão mais esperançosas, talvez porque dependem muito das viagens corporativas.

Cerca de 40 por cento dos grandes clientes corporativos da Delta esperam que as viagens de negócios sejam totalmente recuperadas até 2022, e outros 11 por cento até 2023, informou Bastian durante uma teleconferência em janeiro, citando uma pesquisa interna da companhia aérea. Apenas sete por cento dos clientes disseram que as viagens de negócios podem nunca retornar totalmente, enquanto o restante afirmou que não tinha certeza de quando as coisas voltariam ao normal.

"A American está muito otimista com o retorno das viagens corporativas à medida que as vacinas forem distribuídas. Contudo, ainda estamos longe de saber quando isso vai acontecer", declarou Vasu Raja, diretor de faturamento da companhia aérea, a investidores e repórteres no mês passado.

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