Lewis Hamilton e Max Verstappen no GP Brasil: disputas na pista ganharam interesse com série da Netflix (Amanda Perobelli/Reuters)
Ivan Padilla
Publicado em 12 de novembro de 2022 às 16h03.
"Passei a gostar de Fórmula 1 depois de assistir 'Drive to Survive'". A frase ao lado é de Rodrigo Dutra, 29 anos, morador do bairro da Lapa, em São Paulo. Nas rodas de amigos ou em grupos de Whatsapp, não é incomum ouvir depoimentos deste tipo. Tudo por culpa da série lançada em 2018 pela Netflix, mas que ganhou notoriedade a partir de 2020, com a pandemia.
No começo de 2021, no último levantamento feito pela plataforma Betway Insider, apontou-se que a audiência da Fórmula 1 cresceu mais de 58% apenas nos Estados Unidos, atingindo mais de 1 bilhão de espectadores. O tema está em alta por aqui. Neste domingo 13 será disputado o Grande Prêmio do Brasil, no autódromo de Interlagos, em São Paulo.
Já um dado da Nielsen mostra que mais de 360.000 pessoas que não assistiram às corridas do fim da última temporada acompanharam as disputas neste ano depois de verem a série Drive To Survive.
"O interesse das pessoas pela Fórmula 1 não está aumentando por acaso, mas sim por um trabalho de divulgação cada vez mais digital feito pela Liberty Media. Um dos maiores sucessos é justamente pela série 'Drive to Survive'. O objetivo do programa é dar um olhar diferente para a categoria", explica Bruno Maia, especialista em inovação e novas tecnologias do esporte e entretenimento e sócio da Feel The Match, desenvolvedora de propriedades intelectuais para Web3 e Streaming, e produtor e diretor de séries audiovisuais na globoplay, como 'Nos Armários do Vestiários', e do filme 'Romário - O Cara' para HBO MAX (previsão de lançamento para 2023).
"Diante de uma geração de consumidores habituados a assistir conteúdos na hora e local em que quiserem, o formato ao vivo do esporte ganha um companheiro para suprir a demanda. Além disso, os altos custos dos direitos de transmissões ao vivo, que são mais difíceis de serem negociados globalmente do que conteúdos originais, e o crescimento da presença dos grandes atletas como marcas maiores do que seus próprios times mudam o cenário do mercado", complementa o executivo.
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O maior destaque de "Drive to Survive" tem a ver com os bastidores das filmagens, que levam o telespectador para dentro das corridas, proporcionando cenas e conversas entre pilotos e construtores, além de entrevistas exclusivas.
A partir do lançamento da série, a Liberty Medida estima que nos dois últimos anos 2019 e 2020, mais de 800 milhões de usuários foram atingidos, gerando um crescimento de 99%.
"Conteúdos originais ainda adicionam valor em uma cauda larga de receitas, que não se expira quando o evento acaba. Não à toa, a Netflix investiu mais de 17 bilhões de dólares em novos conteúdos originais em 2022", aponta Bruno Maia.
Um dos fatores deste sucesso tem a ver também com o perfil do público que consome esse tipo de conteúdo. De acordo com dados da Betway Insider, os novos fãs interessados nas corridas são mais hispânicos, mais jovens, mais ricos e que vivem com crianças em casa.
“É evidente a dissolvição do interesse dos mais novos. O tempo está passando e as gerações mais jovens não estão esperando o automobilismo, o futebol ou qualquer outro esporte resolver esse problema. O sucesso do entretenimento passa pela possibilidade de o consumidor poder escolher o que deseja assistir, um modelo já incorporado pelas novas gerações e diferente do responsável por popularizar o futebol”, complementa Bruno Maia.
Depois de 40 anos, a transmissão do Grande Prêmio em São Paulo deixou de ser transmitido pela TV Globo e passou a ser televisionado pela Bandeirantes na última temporada. Com a Fórmula 1 e grandes nomes globais, como o comentarista Reginaldo Leme, a repórter Mariana Becker e o narrador Sérgio Maurício, a Band vem obtendo uma média de 3,5 pontos em São Paulo. Apesar de os números estarem abaixo de quando estavam com a Globo (média de 9 pontos), a emissora tem disputado ferrenhamente a briga pela segunda colocação na audiência com SBT e Record.
"Existem pesquisas que mostram que o automobilismo está entre os esportes preferidos do brasileiro, e talvez por isso a própria Band tenha acreditado no projeto, com a contratação de nomes de peso e anunciantes que trazem credibilidade, casos de Banco do Brasil, Claro, Philco e Heineken, e um poder de investimento que pode fazê-la brigar mais forte pela audiência.
"A Fórmula 1 sempre teve um olhar diferente do público que o assiste, e o mesmo sem um piloto titular ou de renome como tivemos por muitos anos, passando de geração para geração, esse DNA está fortemente inserido em nosso país, e por isso a movimentação milionário em diversos setores da nossa economia é tão expressiva", indica Renê Salviano, executivo de marketing que é CEO da HeatMap, agência de marketing esportivo focada em captação de patrocínios.