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Como os podcasts tem ajudado a quebrar tabus sexuais no mundo árabe

Produtoras especializadas têm visto a demanda por esse tipo de conteúdo crescer rapidamente; entretanto, reações negativas da sociedade, bastante conservadora, ainda são comuns

Foto divulgada pela "Hakawati Network" da doutora Sandrine Attallah durante a gravação do podcast "Haki Sarih" em Beirute (Sandrine Attallah/AFP)

Foto divulgada pela "Hakawati Network" da doutora Sandrine Attallah durante a gravação do podcast "Haki Sarih" em Beirute (Sandrine Attallah/AFP)

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GabrielJusto

Publicado em 19 de maio de 2021 às 08h24.

Última atualização em 24 de maio de 2021 às 16h13.

Orgasmo, masturbação, ejaculação precoce. Os podcasts rompem tabus no mundo árabe ao falar de maneira aberta sobre a sexualidade e conquistam grande sucesso, sobretudo entre as mulheres.

"Há um interesse crescente por um conteúdo com o qual (os ouvintes) podem se identificar, especialmente as experiências carnais", explica Hebah Fisher, da Kerning Cultures. A empresa, com sede nos Emirados Árabes Unidos, produz o podcast "Jasadi" ("Meu corpo") para "contar histórias que não foram contadas", explica Fisher. "Este conteúdo criado por nós e para nós é muito solicitado", completa.

O podcast, que trata da saúde física - incluindo temas relacionados com o sexo e o corpo - e da saúde mental, é muito acompanhado na Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos.

"Jasadi" é o terceiro programa mais popular da Kerning Culture. A audiência aumentou mais de seis vezes desde o lançamento em 2019, quando a Apple o designou em 2020 como um dos melhores podcasts do Oriente Médio e norte da África.

Eib (Vergonhoso)

Em um dos episódios mais populares do "Jasadi", duas mulheres, uma da Jordânia e outra do Sudão, discutem de maneira anônima sobre a primeira vez que ouviram falar de sexo e de sua primeira experiência sexual.

"Não sei por quê aceitamos menos os termos árabes que designam os genitais que os termos em inglês", afirmou uma das participantes. "Nenhuma palavra que se refere a nossa anatomia sexual é usada de maneira normal", lamenta a jovem, citando como exemplo a palavra "mahbal" ("vagina" em árabe), que por sua semelhança com "ahbal" ("estúpida" em árabe) provocava, segundo ela, piadas e insultos dos meninos na escola.

"Jasadi" não é o único podcast que pretende romper os tabus sobre o sexo, ainda muito presentes nas sociedades árabes, onde a educação sexual nas escolas ou dentro de casa não é comum. "Eib" ("Vergonhoso"), uma produção da empresa Sowt, que tem sede na Jordânia, também aborda - desde o lançamento em 2017 - temas relacionados principalmente com o sexo, pornografia e masturbação.

"'Eib' é o melhor programa da Sowt em termos de difusão e audiência, sobretudo na Arábia Saudita, Egito e Emirados", explica Maram Alnabali, diretora da empresa. O número de ouvintes subiu 95% em 2020 e o podcast atinge centenas de milhares de pessoas, afirma.

Informar

No Líbano, com seu podcast semanal "Haki Sarih" ("Falar francamente"), a doutora Sandrine Attallah aborda de maneira direta temas como ejaculação precoce, orgasmos do clítoris e masturbação. O podcast já recebeu mais de um milhão de downloads, principalmente na Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos.

"Não estamos suficientemente informados sobre a sexualidade", lamenta a sexóloga no hospital da Universidade Americana de Beirute. "Apesar da existência de uma certa educação sexual na escola, não ensinam sobre masturbação ou como ter um orgasmo. Você também não vai aprender o que é fetichismo, BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) ou sexo anal".

Sua audiência mensal, com pouco mais da metade mulheres, passou de 70.000 ouvintes em abril 2020 a 100.000 em março de 2021. Mas seu desejo de falar de maneira franca sobre a sexualidade provoca reações. Durante um programa de televisão ao vivo em março, para o qual foi convidada, os dois apresentadores a silenciaram diversas vezes e acusaram de tentar "excitar" os espectadores.

"Disseram (...) que flertava com as pessoas, que usava termos inapropriados", conta. Mas com seu podcast, produzido pela "Hakawati" Network, ela defende sobretudo o direito de informar sobre a sexualidade. "É realmente informação, é muito instrutivo", afirma.

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