Chanel: Kristen Stewart é embaixadora da marca e produtora do filme "The Chronology of Water", apoiado pela maison francesa (Valery HACHE / AFP/Getty Images)
Repórter de Casual
Publicado em 22 de maio de 2025 às 16h19.
Última atualização em 22 de maio de 2025 às 16h40.
A relação entre o cinema e as marcas de moda sempre foi próxima, seja por meio de atores e atrizes vestindo peças desenhadas especialmente para os lançamentos, seja com figurinos para filmes. No entanto, cada vez mais, grifes se aproximam da sétima arte como produtoras.
Desde 2011, a Miu Miu produz o Women’s Tales, uma plataforma de comissionamento de curtas-metragens protagonizadas por mulheres. Já foram feitos quase 30 filmes que celebram a feminilidade no século 21. "Com o Women’s Tales, criamos uma conversa com mulheres sobre mulheres", disse Miuccia Prada.
Entre 2003 e 2005, a Fundação Prada apoiou o Festival de Tribeca, com as pré-estreias de filmes como 2046, do diretor Wong Kar-wai, em Nova York e Milão. No mesmo período, a fundação também firmou parceria com a Bienal de Veneza para um programa de restauração de obras esquecidas ou marginalizadas da Itália, China, Japão e União Soviética.
Outras maisons como Saint Laurent e Chanel também exploram o cinema com produções inscritas em grandes festivais, como Cannes.
Em 2023, François-Henri Pinault, presidente e CEO do grupo Kering, adquiriu por US$ 7 bilhões uma participação majoritária na Creative Artists Agency (CAA), uma das principais agências de talentos de Hollywood que representa artistas como Beyoncé e a atriz Salma Hayek, esposa de Pinault.
No ano passado, a Saint Laurent, marca pertencente à Kering, oficializou sua entrada no cinema com a criação da Saint Laurent Productions, uma produtora dedicada para filmes. Três produções foram apresentadas no festival no balneário francês, incluindo Emília Perez que levou o Prêmio do Júri, o de Melhor Atriz, além de 13 indicações ao Oscar.
Outra produção selecionada para o festival foi o filme de ficção científica e terror As Mortalhas. “Quero trabalhar e dar espaço a todos os grandes talentos do cinema que me inspiraram ao longo dos anos”, disse Anthony Vaccarello, diretor criativo da grife na época. Vaccarello também trabalhou com Pedro Almodóvar no longa Estranha Forma de Vida e foi o responsável pela decisão dos figurinos.
A concorrente LVMH não ficou para trás. No ano passado, o conglomerado comandado por Bernard Arnaut apresentou a 22 Montaigne Entertainment, produtora parceira da americana Superconnector Studios.
Agora em 2025, a Chanel apoiou a animação Arco e o primeiro longa dirigido por Kristen Stewart, The Chronology of Water. Como esperado, Stewart, que também é embaixadora da maison francesa, apareceu no tapete vermelho vestindo peças da Chanel. Os figurinos dos filmes Eagles of the Republic e Nouvelle Vague, de Richard Linklater, também foram feitos pela marca.
As novidades cinematográficas envolvendo a moda também aparecem fora de Cannes. Na semana passada, o apoio de Miuccia Prada para o cinema ganhou ainda mais força com o anúncio da criação do Fundo de Cinema Fundação Prada. A iniciativa anual de € 1,5 milhão pretende apoiar o cinema independente.
“O cinema é para nós um laboratório de novas ideias e um espaço de formação cultural. Por isso, decidimos contribuir ativamente com a realização de novas obras e com o apoio ao cinema de autor”, disse Miuccia, presidente e diretora da fundação. “Há mais de duas décadas, a Fundação investiga essas linguagens de diferentes formas, promovendo uma ideia de cinema livre, exigente e visionária. Com este fundo, pretendemos aprofundar e ampliar o diálogo com a criação e a experimentação contemporâneas.”
A participação das marcas de luxo no setor audiovisual revela uma mudança estrutural na forma como essas empresas se posicionam culturalmente. Mais do que vestir celebridades ou assinar figurinos, elas agora disputam espaço como produtoras de conteúdo, influenciando não apenas o que se vê nas passarelas, mas também o que chega às telas dos grandes festivais internacionais.