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Como é o 'privilégio' de nadar entre dois continentes em Istambul

Megalópole de 16 milhões de habitantes localizada entre dois mares tem fácil acesso às praias até mesmo com metrô

Banhistas entram no mar em Sile, Istambul (AFP/AFP)

Banhistas entram no mar em Sile, Istambul (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 5 de agosto de 2022 às 11h07.

Última atualização em 6 de agosto de 2022 às 09h57.

Todas as manhãs, o aposentado Metin Cakmakci, com a pele dourada pelo sol, corre para encontrar uma cadeira e um guarda-sol na "sua" praia, no lado asiático de Istambul, antes que os banhistas cheguem em massa.  "Um mar como este para uma cidade gigantesca como Istambul, não é nada mau", sorri o homem de 74 anos, apontando para as águas cristalinas do Mar de Mármara.

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Istambul, uma megalópole de 16 milhões de habitantes localizada entre dois continentes e dois mares, não costuma ser assimilada a um balneário. Mas como os habitantes de Nova York, Beirute e outras capitais, os habitantes de Istambul podem nadar no mar e voltar para casa no metrô com areia nas sandálias.

"Antigamente, você podia chegar à água de qualquer lugar", lembra Cakmakci. "Agora, é claro, há construções por toda parte".

As autoridades de Istambul acrescentaram mais 100 cadeiras espreguiçadeiras a esta praia, que agora tem cerca de 300, além de 170 guarda-sóis, detalha Sezgin Kocak, encarregado da manutenção, que passou a infância nesta areia, cada vez mais lotada.

De certa forma, isso é consequência da crise econômica, que atinge fortemente a Turquia, com inflação próxima de 80%.

Burkini e biquíni

"Muitas pessoas não podem mais sair de Istambul", diz Canan Civan, senhora de 60 anos que usa biquíni. "Mas mesmo que eu tivesse dinheiro, não iria a nenhum outro lugar", diz. "Ao invés de passar 10 dias de férias, prefiro vir aqui todos os dias durante três meses".

Istambul tem 85 praias ou acessos marítimos entre o Mar Negro ao norte e o Mar de Mármara ao sul, com o corredor do Bósforo entre eles. Públicas ou privadas, algumas praias atraem uma clientela tradicional, que mantém o véu para tomar banho, enquanto outras usam biquínis, alguns minúsculos.

Mas à imagem do que é a sociedade turca, ambas tendem a coexistir, embora às vezes se localizem de um lado ou outro de uma demarcação invisível. Do lado do biquíni, Eren Bizmi incentiva seus amigos, que estão jogando vôlei. "Quando as pessoas falam sobre o mar, as pessoas pensam mais em Bodrum", no Mar Egeu (oeste).

"Mas os moradores de Istambul sabem: aqui estamos a 35, 40 minutos do centro", destaca a corretora de imóveis de 32 anos. Este é o mar "mais bonito, menos salgado", diz. "E posso ainda trabalhar: se um cliente liga, saio para fazer uma visita e depois volto", explica.

Mas ninguém menciona as duas minas marítimas encontradas na área nesta primavera (hemisfério norte, outono no Brasil), refletindo uma guerra que ocorre mais ao norte entre a Rússia e a Ucrânia.

O "privilégio" do Bósforo

Depois, há os banhistas do Bósforo, que não trocariam seu lugar por nada. Este é o caso de Eren Tör e seu grupo, que se reúnem todas as manhãs em Bebek, bairro da costa europeia. Este aposentado de 64 anos nada "todos os dias do ano, mesmo no inverno, mesmo sob a neve", diz.

"É um privilégio nadar em Istambul, entre dois mares, entre dois continentes", em águas com temperatura média de 23 graus no verão e 11 no inverno. Quase todo mundo aprendeu a nadar aqui, nas águas do Bósforo, cujas correntes traiçoeiras conhecem bem, como suas mudanças de humor.

É o caso de Levent Aksut que, aos 92 anos, vem nadar "três a quatro vezes por semana".  No entanto, "o governo não gosta de ver as pessoas em trajes de banho", lamenta seu filho Caner, em alusão ao partido governante conservador-islâmico AKP, que, segundo ele, reduz o acesso.

Mas eles mantêm o ritual: depois do banho, secam-se ao sol e depois vão tomar um café. E assim, dia após dia.

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