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Com o fim da pandemia nos EUA, o salto alto sai do armário

Os sapatos de salto alto estavam quase à beira da extinção, temiam os especialistas da indústria. Avance alguns meses e uma mudança radical: consumidores trocam o conforto pela alegria de se vestir bem

Um pedestre usa salto alto nas ruas de Nova York. (Justin J Wee/The New York Times)

Um pedestre usa salto alto nas ruas de Nova York. (Justin J Wee/The New York Times)

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Julia Storch

Publicado em 19 de junho de 2021 às 08h20.

Enquanto se vestia para seu aniversário de 26 anos recentemente, Cleo Pac Monrose queria fazer uma declaração. Marqueteira de podcasts do Spotify, ela limpou a poeira de suas roupas de festa e dos sapatos de salto alto cor de lavanda que vinha guardando desde pouco antes do confinamento.

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Ao calçá-los, ela se sentiu instável no início. "Foi como uma tarefa totalmente nova para meus pés. Fazia muito tempo que eu não andava de salto." Ela logo se aprumou. "É como andar de bicicleta: o jeito volta rapidamente."

Espera aí. Não foi há pouco que os consumidores estavam lamentando – ou aplaudindo, pode escolher – a triste morte do salto agulha e das plataformas, trocando seus sapatos de festa durante o confinamento pelo conforto dos tênis e sandálias?

Os sapatos de salto alto estavam quase à beira da extinção, temiam os especialistas da indústria. Avance alguns meses e encontre esses consumidores passando por uma mudança radical: trocando conforto e função pela alegria de se vestir bem. Estão ansiosos, depois de mais de um ano de confinamento, para elevar seu estilo com saltos altos.

"As pessoas estão cansadas dessas roupas confortáveis e desleixadas. Passamos por um ano de mudança, com todo mundo escondido em casa. Agora, vamos calçar novamente esses saltos e sair", disse Daniel Harris, de 18 anos, consultor de moda freelancer em Kingsport, no Tennessee.

Amém, dizem os profissionais observadores de tendências. Os preços dos sapatos de salto alto não caíram nos últimos meses, indicação de que aqueles que podem pagar por eles estão encarando preços cheios, de acordo com Sidney Morgan-Petro, chefe de varejo e compras da WGSN, empresa de previsão de tendências em Nova York. Segundo ela, o ano passado foi uma anomalia, por isso pode ser muito cedo para chamar isso de boom, "mas os sapatos de salto estão tendo um momento agora".

Matt Priest, presidente e executivo-chefe dos Distribuidores e Varejistas de Calçados dos EUA, também está otimista, observando um pico perceptível na venda de sapatos sociais. "À medida que os eventos – sejam shows, espetáculos de teatro ou festas – vão retornando, esperamos ver um ressurgimento. A questão agora é: nossa indústria terá estoque suficiente?"

As buscas por "saltos altos" no Google, indicador confiável de demanda, subiram nas últimas semanas, à medida que os consumidores começavam a vasculhar o mercado em busca de sapatos para usar em casamentos, bailes, formaturas e outros eventos formais.

As grandes revistas de moda, cujo negócio é impulsionar as vendas, parecem especialmente interessadas em incentivar os saltos. "Certamente senti falta de uma roupa que fosse uma declaração, de usar algo desconfortável apenas por causa do look", escreveu Christian Allaire em abril na Vogue.com, promovendo um inventário de tops, espartilhos e, claro, stilettos. "Beleza é dor, afinal!", argumentou sem ironia.

Ileana Zambrano nem precisava desse tipo de incentivo. Preparando-se para jantar recentemente na Morandi, popular trattoria de Nova York, Zambrano, que disse que sua idade era "assunto meu", escolheu um par de sandálias Jimmy Choo. "Eu estava ansiosa para me arrumar e usá-las novamente. Não ligo para o fato de não conseguir andar."

Consumidores trocam conforto pela alegria de se vestir bem no pós pandemia. (Justin J Wee/The New York Times)

Kelly Holmes, de 47 anos, amiga e colega de Zambrano, mostrou sua compra recente: sandálias douradas ultra-altas e pontudas. Ela voltou a usar salto alto desde que as salas internas dos restaurantes reabriram. "Agora, quando ando pela rua, eu me sinto como uma gazela que acabou de nascer."

As marcas de luxo estão apostando em um ressurgimento continuado. "As mulheres perderam a alegria de se vestir, não podem ficar sem seus sapatos de salto alto. Eles nunca caem na mesmice", comentou Manolo Blahnik, que parece empenhado em animar uma nova geração de Carrie Bradshaws, abrindo novas lojas em East Hampton, no estado de Nova York, e na Madison Avenue, em Manhattan.

Certamente, para alguns, os crocs e os birks dos últimos meses representavam a desistência. Harris, o consultor de tendências que não esconde sua preferência por botas e mules de salto, sentiu-se frustrado durante o lockdown e, a toda hora, procurava uma desculpa para usar seus sapatos sociais. No inverno passado, calçou um par de botas de salto alto e bico quadrado, com o detalhe de uma corrente delicada. "Eu parecia uma girafa bebê quando as coloquei pela primeira vez depois de seis meses ou mais. Usei no shopping. Estava louco para parecer fabuloso."

Enquanto trabalhava de casa, Monrose, outra fã de moda, andava pelo quarto com seus sapatos lavanda. "Fazia tanto tempo que eu queria usá-los. Quando os calcei, eu me senti como uma criança de novo, brincando na minha gaveta de fantasias de princesa da Disney."

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