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Com 10 indicações para "Roma", Oscar ensaia uma disputa polêmica

Maneira mais óbvia de interpretar o elevado número de indicações para Roma seria ver como um recado que a Academia está enviando a Trump

Roma: produção da Netflix cravou oito indicações ao Oscar (Roma/Divulgação)

Roma: produção da Netflix cravou oito indicações ao Oscar (Roma/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 23 de janeiro de 2019 às 11h28.

Última atualização em 23 de janeiro de 2019 às 11h29.

Havia a expectativa de o mexicano Alfonso Cuarón ser indicado para os Oscars de direção e filme estrangeiro. Isso não apenas ocorreu, no anúncio feito na terça, 22, pela Academia de Hollywood, como Roma - uma produção da Netflix - cravou mais oito indicações, transformando-se em um dos recordistas do ano - o mesmo número obteve A Favorita, de Yorgos Lanthimos, que estreia na quinta, 24, no Brasil.

Roma concorre também a melhor filme, atriz e atriz coadjuvante, e Cuarón ainda foi indicado nas categorias de fotografia e roteiro original. Tudo por um filme que o diretor, em entrevista ao Estado, disse que fez por uma necessidade pessoal, visceral, mas tinha dúvidas se o público quereria ver.

Algo está mudando no cinemão. A maneira mais óbvia de interpretar o elevado número de indicações para Roma seria ver como um recado que a Academia está enviando ao presidente Trump, que pressiona o Congresso atrás de verba para construir o muro segregando os EUA do México. Cuarón já recebeu o Oscar de direção, por Gravidade - e abriu caminho para que outros dois mexicanos ganhassem mais três vezes o prêmio: Alejandro González Iñárritu, por Birdman e O Regresso, e Guillermo del Toro, por A Forma da Água.

Todos foram premiados por filmes em língua inglesa, mas agora não apenas o longa é falado em espanhol como a atriz Yalitza Aparicio, uma não profissional, é índia. Yalitza, por sinal, foi levar, na segunda, 21, seu apoio aos mexicanos que tentam fazer a travessia, mesmo ilegal, em Tijuana. Roma é o primeiro filme em língua espanhola indicado para o Oscar principal. Tudo isso é história, mas tem mais. A Academia se adapta aos novos tempos e se rende à Netflix, uma plataforma global de filmes e séries via streaming que atende a mais de 100 milhões de assinantes no mundo. Além de Roma, outra produção Netflix toma assento entre os indicados - A Balada de Buster Scruggs, dos irmãos Coen, que concorre a três estatuetas.

E não se pode esquecer que, em 2019, ao enumerar os melhores do cinema em 2018, a Academia selecionou três estrangeiros entre os cinco diretores indicados. O grego Yorgos Lanthimos concorre por um filme em língua inglesa, A Favorita, mais Cuarón e o polonês Pawel Pawlikowski, de Guerra Fria, por produções faladas em seus idiomas pátrios. Tudo isso é muita novidade, a fazer do Oscar 2019, que será atribuído em 24 de fevereiro, uma edição histórica do prêmio. Mesmo que a Academia tenha desistido de um Oscar para filmes populares, de grande público, Pantera Negra será o primeiro filme de super-heróis a disputar o prêmio.

A partir de agora, Glenn Close, igualando-se a Richard Burton, com sete, e superada somente por Peter O'Toole, oito - mas ambos já morreram -, é a atriz viva que mais soma indicações sem nunca haver vencido o prêmio. Já é tempo de a Academia saldar essa dívida com ela, e por um trabalho excepcional, o de A Esposa. O problema - a pedra no caminho - é Olivia Colman, que também é excepcional em A Favorita, tornando a disputa mais eletrizante. Ambas ganharam o Globo de Ouro - Glenn, como melhor atriz de drama; Olivia, a melhor de comédia ou musical, embora não cante e, em matéria de tragédia, os dois papéis se equivalham. As duas concorrem no SAG Award, a premiação dos atores, e, no domingo, 27, já será possível ter uma prévia do que ocorrerá no Oscar.

Pantera Negra, o blockbuster de Ryan Coogler, concorre em sete categorias, e Infiltrado na Klan, de Spike Lee, em quatro. Ambos indicados para melhor filme, expressam, no mais alto nível, a representatividade negra no Oscar 2019. E você já pode apostar que dois afrodescendentes vencerão os Oscars de coadjuvantes na 91ª cerimônia da Academia. Regina King, poderosa, vai levar por Se a Rua Beale Falasse, de Barry Jenkins, e Mahershala Ali por Green Book - O Guia, de Peter Farrelly - e será o segundo prêmio dele, após o que conquistou, há dois anos, por Moonlight - Sob a Luz do Luar, de Barry Jenkins. O Brasil, de alguma forma, estará na disputa, mesmo que indiretamente. Cafarnaum, da libanesa Nadine Labaki, que concorre a filme estrangeiro, é cria do episódio dela de Rio Eu Te Amo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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