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Cinebiografia reconstitui o desafio de Joãosinho Trinta

Paulo Machline aprofunda na ficção “Trinta” a mística do personagem imortalizado pelo "O povo gosta de luxo, quem gosta de lixo é intelectual”

Ator Matheus Nachtergaele em cena do filme "Trinta", de Paulo Machline (Reprodução/Trailer)

Ator Matheus Nachtergaele em cena do filme "Trinta", de Paulo Machline (Reprodução/Trailer)

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Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2014 às 16h18.

São Paulo - Desafiar estereótipos foi a missão que se impôs na vida Joãosinho Trinta (1933-2011).

Menino pobre, sem formação escolar formal – foi autodidata desde criança, na sua São Luís do Maranhão natal -, baixinho e atarracado, seu sonho era tornar-se bailarino clássico. Contra toda lógica, conseguiu.

Em 1951, aos 17 anos, foi para o Rio de Janeiro com pouco mais do que a cara e a coragem e, cinco anos depois, integrava o corpo de baile do Teatro Municipal carioca.

Foi ali também que descobriu o talento para os figurinos e cenários que o preparariam para a profissão de carnavalesco, na qual ele fez fama, como idealizador de desfiles campeões ou que marcaram época, à frente de escolas como Salgueiro, Beija-Flor, Unidos da Ilha e Viradouro.

O cineasta Paulo Machline, realizador do documentário A raça-síntese de Joãosinho Trinta (2009), aprofunda na ficção Trinta a mística do personagem que o fascinou, imortalizado pela frase certeira: O povo gosta de luxo, quem gosta de lixo é intelectual.

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Para isso, escala um ator inequivocamente carismático, Matheus Nachtergaele, que, assim como Joãosinho, esconde na figura miúda o gigantismo de um talento múltiplo.

Assumindo, com um pouco de maquiagem, a morenice de Joãosinho, Matheus encarna com naturalidade nervosa a figura do protagonista, no momento crucial escolhido no enredo da ficção, o ano de 1974 – quando cai nas mãos de Joãosinho, até ali um assistente de alegorias de Fernando Pamplona (Paulo Tiefenthaler), a missão quase suicida de inventar um novo desfile para o Salgueiro, a poucas semanas do Carnaval.

A escolha da data é emblemática – o que o filme pretende mostrar é a transformação de Joãosinho de figura de bastidores em líder de ponta na criação daquilo que ele mesmo definiu como ópera de rua, misturando elementos da cultura erudita e popular.

E o faz destacando os desafios dele em impor-se em ambiente adverso, correndo contra o tempo e as próprias dúvidas para sustentar um trabalho de proporções que até ali ele não tinha encarado sozinho.

A solidão de Joãosinho, que enfrenta o rompimento com o próprio mentor, Pamplona; a rivalidade de Tião (Milhem Cortaz), diretor de barracão frustrado porque ambicionava o posto entregue a Joãosinho; e a própria insegurança ganham, na interpretação dedicada de Matheus, uma paleta de tons que comandam os ritmos do filme.

Sem nunca pretender dar conta de todos os aspectos de seu personagem, Trinta é bem-sucedido em sua missão maior – comprovar que seu herói, assim como Garrincha e Aleijadinho, pode não ter nascido perfeito, mas ninguém precisa consertar, como dizia uma canção.

Todos eles são assim mesmo a melhor face do Brasil.

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