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Cineasta Cadu Barcellos é morto a facadas no centro do Rio

Crime aconteceu na Avenida Presidente Vargas nesta madrugada. Ele trabalhava no Porta dos Fundos

 (Intagram/Reprodução)

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AO

Agência O Globo

Publicado em 11 de novembro de 2020 às 11h00.

Última atualização em 11 de novembro de 2020 às 12h01.

O cineasta Cadu Barcellos, de 34 anos, foi morto a facadas no Centro do Rio, na madrugada desta quarta-feira. O crime aconteceu na Avenida Presidente Vargas, esquina com a Rua Uruguaiana. Ele estava no local após deixar a Pedra do Sal, no Santo Cristo, com uma amiga, que seguia para a Zona Sul em um carro de aplicativo. O cineasta foi esfaqueado por volta das 3h30. Ele chegou a ser visto gritando por socorro, mas não resistiu, tendo morrido ao caminhar alguns metros e cair, segundo o G1. Policiais do 5º BPM (Praça da Harmonia) foram acionados, mas já o encontraram no chão.

Carlos Eduardo Barcellos Sabino, de 34 anos, dedicou-se às artes para mostrar a vida real nas favelas cariocas. O cineasta Cadu Barcellos, como ficou conhecido, imprimia em seu trabalho as referências como morador da Maré. Em uma de suas obras de destaque, está a participação no longa “Cinco vezes favela – Agora por nós mesmos”, de 2010, produzido por Carlos Diegues e Renata Almeida Magalhães, o qual participou como diretor e argumentista no episódio "Deixa voar".

Dançarino, produtor, roteirista e professor, Cadu Barcellos também voou por meio de suas produções engajadas. O longa foi escolhido para a Seleção Oficial do Festival de Cannes, em 2010, e premiado em festivais como o Biarritz, na França, e o de Paulínia.

A vida em comunidades sempre fez parte de sua carreira. No currículo, produções como a da série “Mais x favela” (2011), do canal a cabo Multishow, na qual foi diretor e roteirista, e do documentário “5x Pacificação”, de 2012, em que assina direção e roteiro ao lado de Wagner Novais, Rodrigo Felha e Luciano Vidigal.

Por trás de suas obras nas telas, Cadu foi o criador do Maré Vive, um canal de mídia comunitária feito de forma colaborativa por moradores de diversas do Complexo da Maré. Desde os 17 anos, ele promovia cursos de internet e audiovisual em ONGs do Rio. Coordenou o projeto Jpeg, na ONG Promundo, em que liderava um grupo de jovens que promovia ações ligadas à saúde e à equidade de gênero.

Como dançarino, Cadu Barcellos participou do Corpo de Dança da Maré dirigido pelo coreógrafo Ivaldo Bertazzo, por 3 anos, com espetáculos que rodaram o país, no qual atuava e dançava.

Atualmente, era assistente de direção no Porta dos Fundos, no programa “Greg News”, na HBO.

O cineasta deixa a esposa e um filho de 2 anos.

Homenagens

A notícia da morte de Cadu Barcellos foi recebida com espanto e pesar por amigos e coletivos. "Carismático" e "inspirador" foram algumas das maneiras de descrever o cineasta, engajado em espalhar arte nas comunidades através de projeto e ao retratar em suas obras.

A Redes da Maré, instituição atuante no complexo de favelas há mais de 20 anos, publicou em uma rede social que está de luto pelo assassinato de Cadu. A mensagem destaca o trabalho dele:

"Hoje a #RedesdaMaré amanhece em luto pelo assassinato brutal do jovem e nosso querido amigo Cadu Barcellos. Nosso amor a família, que faz parte da nossa história, aos amigos e parceiros desse jovem que tanto produziu pelo nosso território e é fruto da nossa crença e certeza de que a favela , acima de tudo, é potência e inventividade."

Ativista, gestor de projetos sociais do terceiro setor e produtor cultural, Raull Santiago contou em suas redes sociais a influência de Cadu em seus projetos, todos voltados a atender moradores de favela e a fomentar a cultura local. Raull foi aluno do cineasta na Escola Popular de Comunicação Crítica (ESPOCC) e o teve como referência de agente de transformação social. Da relação profissional, nasceu uma amizade.

"[Que perda inestimável] Cadu Barcellos foi meu professor na ESPOCC - Escola Popular de Comunicação Crítica. Uma das primeiras referências que tive de uma pessoa jovem e de favela, fazendo a diferença no a partir do local onde vivia. Carismático, empreendedor e inspirador, me ajudou muito nessa vida. Ajudou literalmente, de bom ouvinte, bom conselheiro, até emprestar grana em momentos que passei muito mais perrengue no passado. Cadu me inspirou de muitas formas e foi uma daquelas pessoas que eu olhava lá em cima, grande, potente, trilhando um caminho que abriu portas para a favela. Eu realmente estou sem chão! Minhas amizades dessa época estão entre as minhas maiores inspirações vivas. E você foi importante para eu chegar aos lugares onde estou hoje, irmão. Que dia terrível. Obrigado por tanto, mano. Valeu, Cadu!", publicou Raull Santiago.

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