Homem passa pela última fotografia tirada do Titanic (Peter Macdiarmid/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 11 de abril de 2012 às 21h38.
Dublin - Belfast lembra neste ano a construção do transatlântico Titanic em seus estaleiros, um acontecimento que mudou a cara da capital norte-irlandesa e, atualmente, costuma atrair turistas não só interessados em seu passado violento.
Desde o acordo de paz da Sexta-Feira Santa (1998), milhares de visitantes se aproximam a cada ano dos bairros católicos e protestantes de Belfast para contemplar seus famosos murais, que, em alguns casos, ainda glorificam os grupos paramilitares enfrentados no Ulster durante quase quatro décadas.
Seja a pé ou nos tradicionais táxis pretos, o turista também pode visitar nestas regiões as chamadas ''linhas de paz'', barreiras físicas que ainda separam algumas comunidades.
Ambas as atrações fazem parte das chamadas ''rotas políticas'', um dos principais atrativos turísticos de Belfast até este ano, o do centenário do transatlântico ''inaufragável''.
No entanto, nem sempre foi assim, já que durante quase um século somente o fato de mencionar o nome Titanic gerava rejeição entre os ''capitalinos'', envergonhados, em certa maneira, pela associação de sua cidade com o naufrágio que causou mais de 1,5 mil mortes na madrugada do dia 15 de abril de 1912.
Belfast, finalmente, decidiu espantar os fantasmas do passado e celebrar o fato de que o Titanic foi construído em Harland & Wolff, os estaleiros mais importantes do mundo no início do século XX.
Situados nas margens do rio Lagan, no leste da cidade, esses estaleiros estão desativados há dez anos. Mas, em torno desta zona portuária, as autoridades locais deram forma nos últimos anos ao Bairro do Titanic, o projeto turístico mais ambicioso jamais empreendido na província britânica.
Bares, restaurantes e arrojados apartamentos começam a dar vida ao distrito, facilmente identificado de qualquer ponto de Belfast. Isso porque, em contraste com o horizonte, ainda é possível observar os dois icônicos guindastes amarelas de Harland & Wolff, conhecidos como Sansão e Golias.
Aos pés dos tais Sansão e Golias encontra-se o novo marco arquitetônico da cidade, o Belfast Titanic, um impressionante edifício de seis andares que possui a forma de quatro proas com a mesma altura do Titanic, de cuja partida do porto de Southampton completou cem anos ontem.
Em seu interior, o visitante inicia uma emocionante viagem pelas nove galerias de interpretação que explicam a história da própria Belfast e do transatlântico, que, por sua vez, já foi considerado o maior objeto móvel do mundo.
Para conhecer melhor os detalhes de sua construção e ter uma perspectiva diferente, nada melhor que subir a bordo de uma das embarcações da The Lagan Boat Company que zarpam próximas ao Píer de Donegall.
Seus guias iniciam este passeio com uma frase que se manteve na história e que ajudou os cidadãos de Belfast, habituados ao humor negro, a minimizar o acidente do Titanic: ''Estava bem quando saiu daqui!'', brincam os guias.
Neste mesmo píer, a companhia ''irmã'' The Langan Legacy guarda uma valiosa carga a bordo de outro navio, batizado simplesmente como ''A Barcaça de Belfast''.
Sob sua cobertura, ocupada por uma acolhedora cafeteria, o visitante poderá adentrar no passado industrial e marítimo da capital da Irlanda do Norte através de uma exposição batizada como ''A maior história jamais contada''.
Fotografias, mapas, filmes, documentos sonoros e diversos artefatos compõem o legado deixado por milhares de pessoas que contribuíram para criar um dos centros industriais mais avançados da época.
Alguns desses homens e mulheres estão enterrados no histórico Cemitério Municipal de Belfast, onde jaz Samuel Joseph Scott, que faleceu aos 15 anos de idade enquanto trabalhava nos estaleiros. Scott é considerado a primeira das 17 vítimas do navio durante a construção do Titanic.
Recentemente, seu túmulo foi transferido à zona nobre deste cemitério, majoritariamente protestante e onde descansam Edward James Harland (1831-1895), o fundador de Harland & Wolff, e Herbert Gifford Harvey (1878-1912), um dos engenheiros que perderam a vida a bordo do Titanic.