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Chile resgata cepas ancestrais para produzir vinhos

Cepas de origem europeia, como a carignan, a moscatel de Alexandria ou a uva País, estão renascendo das cinzas

Uma das espécies que está sendo recuperada é o carignan (Wayne Langley / Stock Xchng)

Uma das espécies que está sendo recuperada é o carignan (Wayne Langley / Stock Xchng)

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Da Redação

Publicado em 23 de março de 2012 às 22h04.

Santiago do Chile - Um grupo de adegas chilenas está redescobrindo as origens vinícolas do país com a produção de vinhos de qualidade provenientes de cepas ancestrais que com a passagem do tempo já tinham caído em esquecimento.

Cepas de origem europeia, como a carignan, a moscatel de Alexandria ou a uva país, estão renascendo das cinzas graças à implicação de vários viticultores desta região austral que deram valor à variedades que tradicionalmente serviam apenas para produzir vinhos de baixa qualidade.

'Trata-se de um resgate às raízes. É uma nova visão de como fazer um vinho diferente com uma uva que antes era considerada bastarda', afirmou à Agência Efe Yenko Moreno, diretor do centro tecnológico da Vid e o Vinho da Universidade de Talca, situada a cerca de 200 quilômetros ao sul de Santiago.

Em 2008, a adega Miguel Torres, que conta com 350 hectares de vinhedos concentrados, sobretudo, no vale central, iniciou um projeto para elaborar um espumante com a chamada uva país.

Conhecida também como Listán Negro, esta cepa, originária das Ilhas Canárias, foi implantada para a produção de vinho de missa pelos espanhóis que conquistaram o Chile há mais de 500 anos.

Apesar deste grande espaço de tempo, esta variedade de uva se manteve na região para se transformar em uma das mais utilizadas para produzir vinho de mesa, tendo aproximadamente de 15 mil hectares cultivados atualmente.


Desta modesta cepa, a adega Miguel Torres criou o Santa Digna Estelado, um vinho rosado que, seguindo o mesmo padrão de fabricação que o champanhe francês, foi considerado pela associação setorial Wines of Chile como o melhor espumante de 2011 no país.

'O lindo é que estas uvas provêm de cepas de 150 anos de idade e de viticultores que não davam a mínima importância para essa variedade e agora podem dizer que originou o melhor espumante do Chile em 2011. É um orgulho recuperar este patrimônio', assegura Miguel Torres, responsável pelos viticultores de origem espanhola.

Outra das espécies que está sendo recuperada é o carignan, uma cepa tinta presente na França e no noroeste da Espanha que chegou ao Chile há mais de 60 anos para melhorar o vinho produzido com a uva país.

Segundo Yenko Moreno, esta parreira de sequeiro produz 'vinhos com pouca cor e de pouca qualidade' quando são jovens. No entanto, essa variedade muda suas propriedades de forma radical ao envelhecer.

'Nesta fase, ela aumenta sua qualidade e consegue uma intensidade de aroma muito complexa, perfeita para fabricação de vinhos de melhor qualidade', indica Moreno.

Diante do potencial desta cepa, as adegas Miguel Torres e mais 11 produtores do Maule, uma zona de vinhedos situada a cerca de 350 quilômetros ao sul de Santiago, reativaram o cultivo em pequena escala de uma variedade que é parecida com os produzidos na região catalã de Priorat.


'O vinho chileno é tido como um vinho de boa qualidade e também acessível. Mas, se pagar um pouco mais, pode conseguir um produto melhor. A ideia é competir mais com a Espanha, França e Itália, países que possuem uma estrutura muita boa e muita tradição', enfatiza o especialista.

Entre janeiro e outubro de 2011, as exportações de vinhos chilenos engarrafados aumentaram 11,1 % em valor e 2,6% em volume, em relação ao mesmo período de 2010.

Estes números podem ser ainda mais favoráveis na próxima temporada. Segundo Moreno, a produção deste ano, iniciada no final de fevereiro, deve ser 'levemente superior' à de 2011.

Apesar da seca que castigou Chile durante o verão austral, que obrigou alguns produtores antecipar suas colheitas, a uva chilena de 2012 se caracteriza por ter um potencial de qualidade 'alto' e um 'menor grau de desidratação'.

Porém, a falta de chuva, que se intensifica ainda mais durante o inverno, pode trazer consequências negativas nos próximos dois anos.

'Se tivermos um inverno muito rigoroso, vamos encontrar problemas no futuro', adverte Moreno, que ressalta que essa preocupação também se estende pelo setor. 

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