Casa do Ano pelo site especializado Arch Daily (AFP/AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 25 de fevereiro de 2023 às 16h04.
À primeira vista, parece uma casa humilde como tantas outras nas favelas do Brasil. Mas este "barraco" de 66 m² com tijolos aparentes foi reconhecido esta semana como a "Casa do Ano" em um prêmio internacional de arquitetura.
Premiada pelo site especializado Arch Daily, a casa pertence a Kdu dos Anjos, um artista de 32 anos que vive na populosa comunidade de Aglomerado da Serra, situada em um morro na região centro-sul de Belo Horizonte.
"O projeto da casa representa um 'modelo' construtivo que utiliza materiais próprios da periferia, com uma implantação adequada e atenção à iluminação e ventilação, resultando em um espaço com grande qualidade ambiental", descreve o Arch Daily em seu site.
Para Kdu dos Anjos, fundador de um centro cultural na mesma comunidade, o prêmio tem um significado especial.
"Sinto muito orgulho da minha casa ter ganhado esse prêmio porque as notícias que toda a mídia global costuma dar sobre a periferia são noticias sensacionalistas, fala de tiro, porrada e bomba, polícia, de barraco caindo. Aqui estamos mostrando o contrario, é um barraco subindo para o topo do mundo", comemora o jovem.
Entre suas muitas tatuagens, uma se destaca, feita recentemente em seu antebraço: o croqui de seu humilde "barraco", que superou na disputa construções muito mais imponentes de Índia, México, Vietnã e Alemanha.
A construção tem dois andares, é bem ventilada e tem bastante iluminação natural, com janelas de batentes horizontais e uma grande varanda, construída num terreno que ele comprou em 2017.
"Tenho certeza que minha casa não é a casa mais chique do mundo. Mas é um barraco de periferia bem construído", insiste Kdu, que vive ali desde 2020 com dois cachorros, uma gata e "mais de 60 plantas".
Os arquitetos fizeram mágica, "porque o espaço é muito pequeno, são 66 metros quadrados, mas aqui a gente já suportou umas 200 pessoas em dias de festas", garante.
O projeto foi elaborado pelo coletivo de arquitetos Levante, que oferece seus serviços de forma voluntária ou a preços módicos para projetos nas favelas.
"Essa casa foi concebida como uma casa que se parece muito com as casas da favela [...] no entanto ela é diferente, ela tem uma série de cuidados, de soluções, desde a segurança passando por questões ambientais, de ventilação, de iluminação naturais", explica o arquiteto Fernando Maculan, responsável pelo projeto.
Uma das diferenças em relação às casas do entorno é a disposição dos tijolos. Ao invés de colocá-los de pé, aproveitando seu lado de maior superfície para economizar material, eles estão deitados, em fileiras intercaladas, o que lhe dá maior solidez e isolamento.