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Cães da raça pitbull são agressivos? Veja o que dizem especialistas

De adestramento a focinheira, veja quais são as dicas para garantir bom comportamento dos animais

Fêmea da raça American Staffordshire Terrier durante evento AKC Meet The Breeds em Nova York, nos EUA (Gary Gershoff/WireImage/Getty Images)

Fêmea da raça American Staffordshire Terrier durante evento AKC Meet The Breeds em Nova York, nos EUA (Gary Gershoff/WireImage/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 8 de julho de 2022 às 14h28.

Por volta das 9h da última terça-feira, a passeadora de cachorros Vera Lúcia Souza de Oliveira, de 50 anos, trabalhava no Jardim de Alah, no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro (RJ), quando presenciou um pitbull atacar um boxer. Na briga, uma mulher tentou separar os animais, acabou caindo e machucando o joelho.

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No dia anterior, um cão da mesma linhagem, solto e sem focinheira, matou um yorkshire que passeava com seu tutor, em Vila Isabel. De acordo com a Confederação Brasileira de Cinofilia, “essa raça necessita de proprietários que os socializem cuidadosamente e que ensinem obediência a eles”.

— Os cães estavam brincando juntos quando, de repente, o pitbull, sem coleira nem focinheira, estranhou e começou as mordidas. A dona não conseguia separar, e todos da praça precisaram ajudar para evitar uma tragédia — lembra Vera.

‘Medo do desconhecido’

Segundo o veterinário e especialista em comportamento animal Alexandre Rossi, conhecido como Dr. Pet e fundador da Cão Cidadão, a socialização bem feita, com ajuda de um adestrador, pode ajudar, sobretudo, com filhotes de até 90 dias, a impedir as chamadas atitudes predatórias, como correr atrás de crianças, e evitar violências futuras.

— Quando a gente não socializa corretamente os cachorros e não apresenta todos os estímulos, como por exemplo crianças correndo e brincando, idosos com muleta, cães de raças diferentes, a gente pode facilitar esse ataque. Ele vai atacar por medo do desconhecido — disse Rossi.

Para o veterinário e adestrador Henrique Perdigão, a violência não é um comportamento inerente da raça. Segundo ele, pitbulls podem viver perfeitamente com crianças e com outros cachorros, desde que sejam treinados, educados por seus tutores. Perdigão destaca, no entanto, que a cultura construída em torno do animal, que tem uma mordida forte e uma sacudida de cabeça potente, leva ao comportamento agressivo que tem sido visto nas ruas:

— Existe um histórico relacionado à aparência dos pitbulls. Eles se tornaram símbolo de virilidade e masculinidade devido à sua origem como cachorro de rinha. Muitas pessoas adquirem pitbulls com a intenção de ter um cachorro violento e acabam incentivando comportamentos agressivos, sem se preocupar com o direito do próximo. Agora, todo animal pode se tornar agressivo, e isso não depende de apenas um fator.

Na semana passada, a artista plástica Cristine Moutinho, de 58 anos, brincava com Lino, seu lulu da pomerânia de 4 anos, na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, também na Zona Sul, quando um filhote de pitbull se agarrou no pescoço de um poodle:

— Na hora, todos ficaram muito assustados. Correram, suspenderam as patas, deram pancadas na barriga, abriram a mandíbula e ele acabou soltando, mas mesmo assim fez o cão sangrar. Eles podem ser mansos, mas parece que vira uma chave e algo acontece.

Um levantamento feito por O Globo com base nos registros de ocorrência da Polícia Civil mostra que o estado do Rio registrou, nos últimos 12 meses, 41 crimes envolvendo cachorros da raça pitbull sem coleira ou focinheira — o que representa um delito a cada oito dias. Entre as ocorrências estão ameaça, lesão corporal, maus-tratos e ainda omissão de cautela na guarda ou condução de animais e perigo para a vida ou a saúde.

Há registros de crimes dessa natureza em todas as regiões do estado, entre 30 de junho de 2021 e a mesma data desse ano. Em 21 de agosto, uma dona de casa de 46 anos procurou a 15ª DP (Gávea) depois que o pitbull do vizinho matou seu gato no play de um prédio no Morro do Vidigal, na Zona Sul da capital. Na delegacia, ele contou estar se sentindo ameaçada e coagida.

Dois dias depois, foi a vez de um empresário de 32 anos comparecer à 36ª DP (Santa Cruz) após sua cadela poodle e também ser morta pelo pitbull do seu vizinho, no bairro da Zona Oeste. Segundo o rapaz, o animal ficava solto durante a madrugada e, naquele dia, entrou no seu quintal, puxou o cãozinho pela grade e o atacou.

— Minha cadela foi criada em casa, não tem histórico de agressão e sempre foi muito dócil até mesmo com desconhecidos. Infelizmente, ela não suportou os ferimentos e morreu no dia seguinte das mordidas — contou.

Lei esquecida

A maioria dos casos envolvendo pitbulls acontece por descumprimento da lei estadual 4.597, que proíbe a circulação de cães ferozes sem guia e enforcador apropriado. A norma, apesar de estar em vigor desde 2005, não é fiscalizada pelos órgãos competentes. De acordo com o deputado estadual Carlos Minc (PSB), autor da lei, a falta de aplicação das punições previstas, como multa e apreensão do animal, assim como a inexistência de um canal de denúncias, prejudica a sua efetividade e aumenta o risco de ataques dos cachorros.

O texto também se aplica às raças fila, doberman e rottweiler. Esses animais, com os devidos acessórios de segurança, devem ser conduzidos por pessoas com mais de 18 anos quando estiverem nas ruas, praças, jardins e outros locais públicos. Os proprietários ou condutores são “os responsáveis pelos danos que venham a ser causados pelo animal sob sua guarda, ficando sujeitos às sanções penais e legais existentes”.

Cuidados com a segurança

Para que cães ferozes circulem em áreas públicas, é preciso observar normas previstas em lei e orientações de especialistas

  • Deve estar acompanhado

A lei estadual 4.597, de 16 de setembro de 2005, estabelece que cães das raças pitbull, fila, doberman e rotweiller só podem circular por locais públicos, como ruas, praças, jardins e parques, se conduzidos por pessoas com mais de 18 anos e através de guias com enforcador e focinheira apropriados.

  • Coleira cabresto e coleira

Ambas ajudam no controle do animal na rua. O peitoral prende na frente e ajuda o tutor a ter um pouco mais de força em relação ao pitbull. Como os pitbulls são muito fortes, o especialista Alexandre Rossi recomenda também a coleira de cabresto para ajudar o tutor a ter um maior controle do animal.

  • Guia

Tamanho da guia: de até 1,5m; o ideal é que não seja muito longa, para que o cachorro não fique muito longe, e você tenha um maior controle.

  • Criar hábitos

Também é importante que, na hora de retirar a focinheira, isso seja feito pelo tutor e não pelo cão. Isso evita que ele se machuque e crie o hábito de usar essa técnica para pedir a retirada da focinheira.

  • Distância

Quanto mais perto do animal maior a chance de ele alcançar você. É importante ter cuidado ao passar de bicicleta, correndo ou caminhando na direção de um cachorro com comportamento feroz. O ideal é manter mais de 1,5 metro de distância (além da distância da guia)

  • Afastamento

Se perceber um cachorro na rua demonstrando agressividade, o ideal é se afastar na diagonal.

  • Focinheira aberta

Mantenha a focinheira aberta: pode ser prejudicial à saúde do animal ficar com a boca totalmente fechada. Os cachorros precisam de uma ventilação na boca, porque eles perdem uma boa parte do calor por lá. É preciso ter atenção!

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