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Cabines de telefone britânicas ganham nova função para sobreviver

Com frequência abandonadas e alvo de vândalos, as cabines foram transformadas em bibliotecas, cafés, postos de informação e até em uma loja de guarda-chuvas

Cabine telefônica transformada em coffee shop em Londres (Tolga Akmen/AFP)

Cabine telefônica transformada em coffee shop em Londres (Tolga Akmen/AFP)

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AFP

Publicado em 14 de dezembro de 2017 às 14h32.

"O cheiro é bom", diz um curioso, ao sentir o odor do novo estofado de uma das icônicas cabines vermelhas de telefone, no centro de Londres, que passaram por uma reformulação para escapar do inevitável desaparecimento decorrente da profusão de celulares.

Todos os dias, na hora do almoço, funcionários de escritórios nos arredores da praça Bloomsbury descem para pegar sua comida nessa cabine transformada, e que agora abriga uma geladeira e várias prateleiras, onde se acumulam os pratos. Apreciam, principalmente, as saladas, que serão saboreadas no jardim público próximo, em um dia agradável.

Do mesmo modo que este minirrestaurante de comida para viagem, milhares de outras cabines telefônicas de todo Reino Unido ganharam uma nova vida. Apenas um detalhe, neste caso: por conta das baixas temperaturas do inverno, agora essas "lojinhas" voltarão a oferecer refeições apenas na primavera.

Com frequência abandonadas e alvo de vândalos, as cabines foram transformadas em bibliotecas, galerias de arte, postos de informação, cafés, restaurantes e até em uma loja de guarda-chuvas.

Modelo "K6"

Desde que atingiu um pico de 92.000 unidades em 2002, o número de telefones públicos do Reino Unido começou a cair. Restam 42.000, dos quais 7.000 são as famosas cabines vermelhas.

A companhia de telecomunicações BT, que prevê o fim de outros 20.000 telefones públicos nos próximos cinco anos, argumenta que são deficitários. Sua manutenção custa 5 milhões de libras (5,7 milhões de euros) ao ano. Todo dia, são feitas cerca de 30.000 chamadas desses aparelhos, uma queda de mais de 90% em dez anos.

Ainda assim, pretende-se preservar as cabines mais icônicas.

A mais conhecida, o modelo "K6" de metal vermelho com uma coroa em seus quatro vértices superiores, foi a primeira a ser instalada no país. Foi projetada pelo arquiteto britânico Giles Gilbert Scott para o jubileu de prata do rei George V, em 1935.

"Buscamos alternativas para responder às necessidades dos usuários", disse à AFP Mark Johnson, responsável pela área de telefones públicos da BT.

Patrimônio nacional

Centenas de cabines têm agora um caixa automático, outras serão reacomodadas como pontos de distribuição ultrarrápidos de wi-fi, gratuitos e financiados com publicidade. A BT também está considerando a possibilidade de transformar algumas delas em pontos de recarga para veículos elétricos.

Outras são reformadas e vendidas para colecionadores por um preço de saída de 2.750 libras (3.100 euros) mais impostos, ou cedidas por uma quantia simbólica a prefeituras e associações que poderão dar a elas um bom uso. Este programa permitiu salvar mais de 5.000 cabines.

"Trata-se de preservar o patrimônio do Reino Unido", afirmou Mark Johnson.

A empresa Red Kiosk Company, que destina uma parte de sua receita para associações de ajuda à população de rua, é uma das beneficiárias. Com esse método, comprou 124 cabines vermelhas, as quais aluga por 360 libras (410 euros) por mês.

"Ao mesmo tempo em que se salva uma obra histórica, cria-se emprego e se revitaliza um lugar", comentou o diretor da Red Kiosk Company, Edward Ottewell, lamentando que as licenças administrativas às vezes são difíceis de conseguir.

O modesto aluguel permite que jovens empresários - em geral sem condições de enfrentar o elevado preço de um aluguel em Londres - lancem seus projetos.

"É o único lugar a que podemos nos permitir, porque é apenas um metro quadrado", brincou Ben Spier, fundador do bar da Bloomsbury Square.

Curiosamente, a Red Kiosk também tem entre seus clientes uma empresa que repara telefones celulares, a Lovefone.

"Um dia me perguntaram se não tinha claustrofobia", contou à AFP o técnico Fouad Choaibi, que trabalha em uma cabine equipada com uma pequena mesa, prateleiras para as peças e uma pequena estufa.

"Respondi que, com um único passo, já estou fora do escritório", disse, sorrindo.

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