"É preciso respeitar também os interesses variados e múltiplos da criança, sua curiosidade em descobrir o mundo", disse a médica (SXC)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2012 às 10h38.
São Paulo - Sabe-se que, ao nascer, a criança ainda não está totalmente desenvolvida. Embora já tenha certa autonomia, seus órgãos ainda são bastante imaturos e o amadurecimento dos mesmos ainda vai levar muitos anos. No processo educativo deve-se respeitar as fases de amadurecimento, tentando não sobrecarregar a criança com coisas que ela ainda não tem maturidade para realizar.
Assim, por exemplo, para poder aprender a ler e escrever, por volta dos sete anos de idade, ela precisa adquirir um perfeito domínio do espaço tridimensional. É nessa época que se estabelece a dominância de um dos hemisférios cerebrais, evidenciando a maturação do sistema nervoso central. Esta é adquirida principalmente por meio da motricidade. Isso significa que a criança deve ter as vivências do que é em cima e embaixo, frente e trás, direita e esquerda.
Mas, como se obtém isso? "Pelas próprias brincadeiras infantis, que são praticamente as mesmas em todas as regiões da Terra, onde ainda se permite que crianças brinquem. Quando elas correm, saltam, pulam altura ou distância, praticam as brincadeiras com bola e corda, ou treinam habilidades como pular num só pé e subir em árvores estão desenvolvendo a motricidade grossa. Quando desenham, recortam, colam, fazem pequenos trabalhos manuais, exercitam-se soltando pião, empinando pipas etc., desenvolvem a motricidade fina", afirma Sonia Setzer, médica escolar com formação em Medicina Antroposófica.
De acordo com a médica, o ‘brincar' na idade infantil é coisa séria, pois prepara o organismo para atividades a serem desenvolvidas futuramente. Se, ao contrário, a criança é estimulada precocemente a executar atividades físicas competitivas, que exijam muito treino, nota-se que o organismo se desenvolve de forma unilateral, endurecendo numa especialização, como por exemplo, numa determinada prática esportiva.
"É preciso respeitar também os interesses variados e múltiplos da criança, sua curiosidade em descobrir o mundo, inventar novas brincadeiras, permitindo assim que ela desenvolva sua fantasia criadora. Ora, o que significaria, por exemplo, alfabetizar ou ‘ensinar' aritmética ou outra coisa intelectual qualquer a uma criança antes dos sete anos? Ela certamente apresentaria resultados satisfatórios para o momento, mas em realidade não se pode falar em aprendizado, mas em adestramento, assim como se faz com animais", explica Setzer.
Para ela, "o que não se nota é que esse aprendizado se faz às custas das forças vitais que deveriam estar atuando no amadurecimento dos órgãos e acabam sendo desviadas para exercer outra função, antes do tempo adequado. A deficiência dessas forças, ou o amadurecimento insuficiente dos órgãos em questão, vai se apresentar como dificuldades de aprendizagem, tão comuns hoje, ou apenas muitas décadas depois, quando o organismo numa fase de menor vitalidade, for decair com mais rapidez", comenta a médica.
Pode-se notar já nos dias atuais como doenças que antigamente atingiam somente pessoas idosas, fazem-se presentes em pessoas na faixa dos 30, 40, 50 anos de idade.
"O que não se investiga é a relação com uma intelectualização precoce que subtrai essas forças valiosas e importantes dos órgãos em sua fase de amadurecimento. Com estes poucos exemplos, é de se desejar que as crianças em seus primeiros sete anos de vida realmente possam usufruir de uma infância sadia, desenvolvendo ao máximo suas habilidades motoras (grossas e finas), pois isso é um investimento de saúde corpórea para a velhice. Já uma rica fantasia na infância permite ao idoso ter uma atividade mental mais colorida e viva", complementa Dra. Setzer.