Silveira classifica suas próprias observações de audaciosas e diz que está à procura de um título ou autor capaz de vender muito bem (lusi/ Stock.xchng)
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2012 às 15h50.
Brasília - Berço de grandes autores como Machado de Assis, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Cecília Meirelles, o Brasil e o mercado editorial brasileiro aguardam pelo surgimento de um escritor contemporâneo capaz de dialogar com a nova geração. A opinião é do editor Júlio Silveira, 40 anos, um dos participantes do debate Como Ampliar o Consumo do Livro no Brasil, que ocorreu hoje (19), na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília (DF).
"Há autores brasileiros sensacionais que precisam ser lidos, mas de quem os novos leitores estão se distanciando um pouco porque os assuntos [abordados pelos escritores] talvez já não ecoem tanto entre os jovens. Há um hiato geracional e eu acredito que o público e o mercado editorial brasileiro esperam o surgimento de um escritor de qualidade capaz de dialogar com a nova geração. Um autor em pé de igualdade com as pessoas que estão se comunicando nas redes sociais", afirmou à Agência Brasil.
Citando a última pesquisa Retratos da Leitura, na qual cerca de 80% dos entrevistados disseram que não leem porque não gostam, Silveira disse que percebeu que as pessoas de sua faixa etária, quando perguntadas, costumam apontar autores brasileiros entre os que marcaram sua infância. Nomes como Monteiro Lobato e Lygia Bojunga.
"Se formos perguntar o mesmo a uma criança, hoje, a quantidade de obras nacionais será muito pequena", argumentou o editor. Para ele, isso é resultado não apenas da "pressão muito forte dos mega best-sellers", enfrentada por autores brasileiros de literatura infanto-juvenil, mas também pelo fato de nenhum escritor contemporâneo nacional conseguir se comunicar com uma grande parcela do público jovem.
"Mesmo que numa linguagem pouco compreensível, os jovens estão escrevendo dia e noite nas redes sociais. Se as pessoas estão lendo e escrevendo, estão aptas a se apropriar da linguagem literária. E como há mais gente podendo comprar livros, que estão mais baratos que há algumas décadas, acho que falta surgir um escritor capaz de absorver naturalmente essa cultura e se aproveitar deste cenário", disse Silveira.
"Talvez esse novo galvanizador [animador] da literatura e da linguagem atual já esteja por aí e caiba às editoras identificá-lo, embora eu ache que os novos fenômenos vão surgir naturalmente da internet", disse Silveira, citando escritores que, a exemplo do que já ocorre há pelo menos uma década na música, atingiram sucesso comercial explorando as possibilidades de divulgação da rede mundial de computadores, como André Vianco e Thalita Rebouças, autores que já venderam mais de 1 milhão de exemplares de suas obras e são cultuados entre muitos adolescentes.
"Cada um em seu segmento já está atingindo em cheio aos anseios de um público específico, mas são sucessos subterrâneos, surgidos na internet,e só posteriormente absorvidos pela indústria. Ainda não temos o grande escritor brasileiro dos anos 2010", destacou.
Silveira classifica suas próprias observações de audaciosas e diz que está à procura de um título ou autor capaz de vender muito bem o que, segundo ele, é importante para as editoras, mas também para os leitores.
"Não estou falando em simplificações [de linguagens]. Guimarães Rosa conseguiu se comunicar muito bem mesmo tendo praticamente inventado uma linguagem. Não estou preocupado que o autor queira escrever de forma condenável pelos acadêmicos. Quero é abraçar a qualquer um que venda 1 milhão de livros, mesmo que alguns considerem sua obra subliteratura, porque, no Brasil, isso [vender 1 milhão de livros] é heróico e contribui de alguma maneira para a cultura brasileira", destacou.