Birkin Niloticus Crocodile Diamond, da Hermès: vendida por 1,3 milhão de reais em leilão em 2020 (Isaac Lawrence/AFP)
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 16 de abril de 2025 às 13h50.
Última atualização em 16 de abril de 2025 às 15h00.
Uma bolsa de couro que pode custar 64 mil dólares, equivalente 350 mil reais na conversão direta, virou a nova arma na guerra das tarifas entre Estados Unidos, China e o resto do mundo. No centro da mais recente polêmica sobre o tema estão produtos de luxo em geral. E o símbolo dessa disputa virou a Birkin da Hermès.
Produtores de conteúdo têm divulgado vídeos no TikTok, no Instagram e no X alegando que produtos de luxo, na verdade, são fabricados na China, apesar do selo Made in France ou Made in Italy, a um custo muito menor do que o pedido nas lojas.
Um dos vídeos mais divulgados mostra uma entrevista de Ya Ting, CEO de uma empresa chamada Chinese Consulting Firm, em que ela nomeia 30 marcas de luxo supostamente produzidas na China. Entre as grifes citadas estão Prada, Cartier, Burberry, Versace, Givenchy.
Ting nomeia também outras marcas que fabricariam produtos na China, mas que não são exatamente do mercado de luxo, como Nike, Adidas e Timberland, amplificando a desinformação.
Outro blogueiro fala em um vídeo que as fábricas na China usam o mesmo couro da Hermès que vem de apenas três fornecedores no mundo, na Itália, Alemanha e França, o mesmo aviamento, o mesmo fio de costura. Só que, no fim, a peça teria um custo de produção de 1.400 dólares.
Segundo ele, a diferença de preço para uma Birkin vendida em uma loja da Hermès estaria em um item apenas: o logo. O pedido no final do vídeo é para que os consumidores comprem na China e não no exterior.
Vídeos como esse não escondem que os produtos fabricados lá são réplicas muito bem-feitas, conhecidas como dupes. A hashtag #chinamanufacturer aparece em mais de 12 mil publicações no TikTok. Algumas marcas realmente terceirizam parte da produção fora do seu país de origem. Para uma peça ter atestado de procedência da França, por exemplo, é preciso que ao menos 45% do processo de produção tenha sido feito por lá.
A Louis Vuitton afirma que seus produtos de couro são feitos na França, Itália, Estados Unidos e Espanha. A Hermés tem ateliês em 51 locais na França, com suplementos de outros 12 países, como Suíça, Portugal, Itália, Reino Unido. Mas não China.
The real cost of #Birkin bag and what you are really paying for.🤦♂️ pic.twitter.com/WQTHFL2jKD
— Humanbydesign (@Humanbydesign3) April 13, 2025
Uma reportagem recente da revista Vanity Fair mostrou o processo artesanal da produção de uma Birkin. Cada bolsa é criada inteiramente por um único artesão, que leva de 18 a 25 horas de trabalho, e é marcada com um código único.
O processo começa com o corte e preparo do couro, seguido por uma técnica de costura manual. As costuras são aparadas, lixadas e enceradas para criar um acabamento uniforme. As alças são feitas de várias camadas de couro e a bolsa passa por uma inspeção antes de estar pronta para venda.
A Hermès contrata principalmente artesãos formados pela École Grégoire-Ferrandi. Eram 180 por ocasião da reportagem, mas esse número subiria par 250 depois de uma nova leva de treinamentos.
A baixa produção se deve justamente à pouca mão de obra. Uma reportagem do Financial Times apontou que a demanda por uma Birkin é de quatro a cinco vezes maior do que a oferta. Quem quiser comprar a sua bolsa precisa receber indicação e aguardar anos em uma fila, mais ou menos como acontece com alguns modelos mais desejados de relógios da Rolex.
A Birkin é oferecida em quatro tamanhos, em opções variadas de couro. O modelo de entrada é a Birkin 25 em couro de bezerro, por 11,4 mil dólares, ou 66 mil reais. Versões em couro de crocodilo podem chegar a 64 mil dólares, equivalente a 350 mil reais, obviamente sem contar taxas e impostos. Edições especiais podem passar desse valor.
A repercussão desses vídeos tem sido ainda maior devido a um levantamento desta semana que mostra que o valor de mercado da Hermès teria superado ao de todo o grupo LVMH. Com isso, tornou-se a companhia mais valiosa no índice CAC40 da França. Mas não foi fabricando bolsas na China que a Hermès chegou lá.