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Bob Dylan visita misteriosa fase cristã em "Trouble No More"

Uma centena de músicas, incluindo canções inéditas, compõem um gigantesco pacote de oito discos, que mergulha na sua obra entre 1979 e 1981

Dylan se converteu ao cristianismo e levou sua fé para os palcos com a convicção e o entusiasmo de um verdadeiro pregador (Christopher Polk/Getty Images)

Dylan se converteu ao cristianismo e levou sua fé para os palcos com a convicção e o entusiasmo de um verdadeiro pregador (Christopher Polk/Getty Images)

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EFE

Publicado em 1 de novembro de 2017 às 06h46.

Los Angeles - A fase cristã de Bob Dylan, um dos períodos mais misteriosos e peculiares de toda sua carreira, marca o novo lançamento de raridades e canções inéditas "Trouble No More", o volume número 13 de sua aclamada "The Bootleg Series".

Uma centena de músicas, incluindo canções inéditas, demos, ensaios e gravações ao vivo, compõem um gigantesco pacote de oito discos, além de um DVD que mergulha na sua obra entre 1979 e 1981, quando Dylan se converteu ao cristianismo e levou sua fé para os palcos com a convicção e o entusiasmo de um verdadeiro pregador.

Os fãs e estudiosos de Dylan, autênticos especialistas em decifrar e explorar cada centímetro da sua trajetória, costumam falar dos anos cristãos do músico quando comentam sobre os álbuns "Slow Train Coming" (1979), "Saved" (1980) e "Shot of Love" (1981).

Depois de se estabelecer nos anos 1960 como um símbolo do folk e da música de protesto e, mais tarde, provocar uma comoção ao eletrificar seu som, se aproximando do rock, a década de 1970 de Dylan oscilou entre notáveis escorregões e alguns trabalhos soberbos como "Blood on the Tracks" (1975) ou "Desire" (1976).

No entanto, Dylan deixou praticamente todos seus fãs boquiabertos ao lançar, em 1979, "Slow Train Coming", um disco onde o músico de origem judaica manifestava de coração aberto sua conversão ao cristianismo e onde a fé era o incrível motor narrativo de todas as canções.

Este inesperado movimento criativo e espiritual não foi, no entanto, muito bem recebido.

"Fiquei um pouco decepcionado. Queria escutar rock and roll e escutei Bob Dylan cantando gospel. Não vim aqui para escutar sermões, (para isso) poderia ter ido à igreja", diz um dos seus contrariados fãs no documentário "Trouble No More", que faz parte deste novo lançamento do músico.

A verdade é que o gospel e o blues se filtraram no rock intenso proposto por Dylan naqueles anos, em que seus poderosos concertos eram tingidos de misticismo com temas que falavam diretamente, sem rodeios ou metáforas rebuscadas, da fé, salvação, pecado, redenção, tentações e encontros com Deus.

Assim, "Trouble No More" apresenta novos cortes ou interpretações diferentes de músicas como "Gotta Serve Somebody", "When You Gonna Wake Up?" e "Precious Angel" que não destoariam em uma missa com ares de rock.

Também contém 14 músicas inéditas, embora algumas tivessem uma distribuição informal entre seus fãs, como "Ain't Gonna Go to Hell for Anybody" e "Jesus is the One".

Um dos aspectos mais difíceis de "Trouble No More" é o documentário homônimo dirigido por Jennifer Lebeau e que intercala imagens inéditas de shows em 1980, com fragmentos registrados recentemente com o ator Michael Shannon, que se coloca no lugar de um padre em plena homilia para apresentar o contexto religioso de Bob Dylan naquela época.

No entanto, o que mais chama a atenção do DVD ao vivo é a enorme devoção e ardor espiritual de Dylan sobre o palco, completamente comprometido com sua nova fé cristã e cercado por uma banda irrepreensível e um coro feminino, numa clara referência ao gospel, para tentar divulgar o evangelho através do rock.

"Trouble No More" estará à venda a partir do dia 3 de novembro e, além da edição completa de oito discos mais o DVD, também estará disponível através de uma versão mais modesta e acessível de apenas dois álbuns.

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