Bob Dylan agradece aplausos após show (AFP/Torsten Blackwood)
Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2011 às 14h36.
Los Angeles - O ícone da música Bob Dylan completou 70 anos nesta terça-feira recebendo homenagens em todo mundo pelas suas músicas folk de protesto consideradas hinos da juventude dos anos 60.
"Voz de uma geração" com canções como "The Times they Are a-Changin'" e "Hey Mr. Tambourine Man", Dylan não apresenta sinais de que vá pôr fim à carreira ao entrar em sua oitava década de vida.
"Ele é uma inspiração para todos nós, que vai além da composição de músicas, porque está sempre tentando ir a algum lugar novo. Eu amo esse cara," disse à Rolling Stones o guitarrista Keith Richards, que também não é nenhum jovenzinho.
O líder do U2, Bono Vox, disse que o jovem Dylan estava à frente de seu tempo. "Suas palavras, imagens, ira e tristeza... podiam ser facilmente transformadas por movimentos musicais 10 ou 20 anos depois, como o punk, o grunge ou hip-hop," considerou o cantor na revista Rolling Stone.
Não estava claro como Dylan ia comemorar seu aniversário nesta terça-feira, mas pelo menos ele não está em turnê -- sua "Never Ending Tour" teve uma pausa este mês, antes de ir à Europa em meados de junho.
No mês passado, a lenda da música esteve na Ásia, apresentando-se em 17 shows de Taiwan à Nova Zelândia, incluindo cidades como Pequim e Xangai, em apresentações ofuscadas por controvérsias -- negadas por Dylan -- de que teria sido censurado pelas autoridades chinesas.
Já faz bastante tempo que, em suas origens humildes, Robert Allen Zimmerman, nascido em 1941 em Duluth, Minnesota, aprendeu sozinho a tocar gaita, guitarra e piano.
Cativado pela música do cantor folk Woody Guthrie, Zimmerman mudou seu nome para Bob Dylan -- talvez inspirado pelo poeta galês Dylan Thomas -- e começou a se apresentar em casas noturnas locais.
Depois de deixar a universidade, ele se mudou para Nova York em 1960. Seu primeiro álbum continha apenas duas músicas originais, mas o sucesso de 1963 "The Freewheelin' Bob Dylan" apresentou uma boa mostra do que seria o seu trabalho, incluindo a clássica "Blowin' in the Wind."
Armado com sua gaita e sua guitarra acústica, Dylan lutou contra a injustiça social, contra a guerra e contra o racismo, e rapidamente tornou-se um proeminente defensor dos direitos civis -- gravando a incrível marca de 300 músicas em seus primeiros três anos.
Em 1965, a primeira turnê britânica de Dylan foi gravada no clássico documentário "Don't Look Back" -- no mesmo ano ele chocou seus fãs de folk tocando com uma guitarra elétrica no Newport Folk Festival, em Rhode Island.
Os álbuns seguintes "Highway 61 Revisited" e "Blonde on Blonde" receberam elogios rasgados, mas a carreira de Dylan foi interrompida em 1966 quando ele ficou gravemente ferido em um acidente de moto, e seu ritmo de produção caiu nos anos 70.
Mas nos anos 80 a música de Dylan refletiu seu renascido cristianismo, apesar de isso ter sido moderado em vários álbuns, com muitos fãs vendo um ressurgimento do talento explosivo de seu início de carreira na década de 90.
Depois da virada do milênio, junto com as gravações e turnês, Dylan também encontrou tempo para ser o apresentador de um programa de rádio, Theme Time Radio Hour, e publicou o elogiado livro "Crônicas," em 2004.
Ele inspirou pelo menos mais dois filmes, "No direction home", de Martin Scorcese, em 2005, e "Não estou lá", de 2007, estrelando Christian Bale, Heath Ledger e Cate Blanchett.
Em todos estes anos de carreira Dylan recebeu 11 prêmios Grammy, assim como um Globo de Ouro e até um Oscar em 2001, de Melhor Canção Original, com "Things have Changed" no filme "Garotos Incríveis."
Enquanto Dylan é festejado por seus colegas e por gerações de fãs por suas músicas, seus shows ao vivo são notoriamente irregulares -- sua voz, que nunca foi muito suave, ficou mais áspera com o passar dos anos, e ele raramente canta uma música da mesma forma duas vezes.
Mas o cantor, que tem uma casa em Malibu, norte de Los Angeles, disse que não tem planos para se aposentar tão cedo.
"Críticos podem estar desconfortáveis comigo. Talvez eles não possam perceber, mas nenhum dos meus seguidores se sente deste jeito com o que eu faço", disse em uma entrevista em 2009 à Rolling Stone.
"Qualquer um com uma loja pode trabalhar pelo tempo que quiser. Um soldador, um carpinteiro, um eletricista não precisam, necessariamente, se aposentar", prosseguiu.
"As pessoas que têm empregos em uma linha de montagem, ou estão fazendo algum tipo de trabalho enfadonho, podem estar pensando em se aposentar todos os dias. Cada homem precisa aprender um ofício. É diferente de um emprego", afirmou.