BMW I8: portas tipo tesoura abrem-se para cima (Marco de Bari/ Quatro Rodas)
Da Redação
Publicado em 8 de junho de 2016 às 18h04.
O i8 é um carro que parece sair da fábrica seminovo. Por três dias, eu fui seu segundo dono – o primeiro foi Bruce Wayne. Sei disso porque foram quatro as vezes que ouvi um “nossa, parece o carro do Batman”.
A verdade é que não comprei dele, nem um zero-quilômetro, pois o esportivo custa R$ 799.000. Porém, talvez esse valor seja compatível, considerando que se trata de um automóvel digno do super-herói bilionário.
Também vou resistir em adjetivá-lo como um carro “futurista”. A aparência galáctica é a que melhor justifica outro apelido comum que as pessoas dão a carrões: “nave”.
Em meio ao trânsito terráqueo, os humanos sucumbem aos seus superpoderes: o i8 hipnotiza olhares, torce pescoços, provoca comentários de espanto e aciona involuntariamente nosso “músculo” favorito – a câmera de smartphones.
Na pista de testes, descobrimos uma habilidade sobrenatural para um híbrido de 1,5 tonelada equipado com um motor 1.5 de três cilindros: ele rasgou o asfalto, cravando 4,6 segundos no 0 a 100 km/h.
Não se engane pela aparência franzina. Esse pequeno 1,5 litro tem a força de um Jedi: gera 234 cv sem beber poções secretas, só gasolina.
A receita está na preparação: turbo, injeção direta, comando variável de válvulas e taxa de compressão elevada. Mas ele não trabalha sozinho.
Faz dupla com um propulsor elétrico de 266 kW – o equivalente a 131 cv (no total, são 365 cv e 58,1 mkgf).
Enquanto o motor a combustão atua no eixo traseiro, o elétrico comanda o da frente.
Quando o motorista seleciona o modo Sport, no painel, as quatro rodas são tracionadas com o máximo de potência possível.
Além disso, o 1.5 ressona quase como um V8 – fruto de um truque acústico para enfeitiçar os sentidos. O som de big block vem de alto-falantes escondidos no assoalho da cabine.
A estratégia do som de mentira não é inédita – outras marcas também a utilizam. No BMW, o Active Sound Design reproduz sons pré-gravados cuja frequência muda conforme a rotação do motor a combustão aumenta. E acredite: é contagiante e muito convincente.
Já o modo de direção EcoPro é um programa eletrônico que faz o i8 rodar com economia. Faz uso dos motores combinados, antecipa trocas de marcha e aumenta a progressividade da aceleração. Até o ar-condicionado trabalha com menos pressão.
O resultado? Fizemos 24,2 km/l no ciclo urbano. E 31,7 km/l em regime rodoviário. Mesmo no modo Sport as marcas foram notáveis: 12,5 e 16,4 km/l, na cidade e estrada.
Um senão é a autonomia quando o i8 trabalha só com a energia das baterias. Sem gasolina, roda-se no máximo 37 km, segundo a fábrica, considerando os acumuladores totalmente carregados. Na prática, porém, pegando trânsito, não chegamos aos 30 km.
A vantagem é que em menos de três horas conectado à tomada, o i8 já garante autonomia para voltar para casa em eDrive (o modo 100% elétrico).
Aliás, não é necessária nenhuma adaptação na rede – basta uma tomada residencial de 110 ou 220 V. O tanque de combustível também parece desanimador – só comporta 30 litros de gasolina. Mas a autonomia desse híbrido supera os 950 km.
Por fora, o design conceitual lança mão de materiais sofisticados, como plásticos de alta resistência e superleves, fibra de carbono e alumínio.
As portas, do tipo tesoura, abrem-se para cima e fazem do ato de entrar no carro um movimento complicado. Acessar o assento traseiro é difícil.
E nem sonhe em carregar grandes volumes. Um diminuto bagageiro acessado pela tampa do motor a combustão comporta meros 154 litros.
E todas as formas têm função. Sem radiador frontal, o duplo rim da BMW é fechado, o que favorece a aerodinâmica. Os traços na lateral direcionam o fluxo de ar na direção da traseira, terminando na parte superior das lanternas vazadas.
O painel, apesar de ser encantador, não surpreende como o visual da carroceria. Os comandos são praticamente idênticos ao de qualquer BMW.
A tela do multimídia iDrive não é sensível ao toque, comandada por um seletor no console. Mas o quadro de instrumentos utiliza uma tela de alta resolução que exibe os dados de consumo, regeneração de energia e relógios digitais.
Ao volante, o i8 não requer treinamento na Nasa, nem domínio da língua klingon – o ato de dirigir é igual ao de carros comuns da Terra. No entanto, o BMW não se deu bem com nosso asfalto lunar: é incompatível com valetas e asfalto ruim.
Não há rivais para o híbrido no país, mas ele faz frente a Audi R8, AMG GT e Porsche 911. É até mais exclusivo: só 12 foram vendidos por aqui.
Avaliação do editor
Motor e Câmbio - O trabalho combinado dos motores é feito sem trancos. Quase não se sente as trocas de marcha.
Dirigibilidade - Gostoso de guiar em pisos lisos. Mas dá trabalho em terrenos irregulares.
Segurança - Tem sistema de frenagem automática e alerta de colisão.
Seu bolso - O preço proibitivo é o custo de tanta exclusividade. Nem sonhe com custo-benefício.
Conteúdo - Bem equipado, tem câmeras 360º e multimídia completo.
Vida a bordo - Não tem visual inovador como a carroceria, mas é muito confortável.
Qualidade - Usa materiais de qualidade superior e acabamento esmerado.
Veredicto Quatro Rodas
O exótico i8 é o carro mais complexo da BMW e um dos mais interessantes do mercado. E chama mais atenção que uma Ferrari ou outro modelo com preço na casa dos seis dígitos.
TESTE DE PISTA (COM GASOLINA) | |
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Aceleração de 0 a 100 km/h | 4,8 s |
Aceleração de 0 a 1.000 m | 23,4 s - 223 km/h |
Velocidade máxima | 250 km/h (dado de fábrica) |
Retomada de 40 a 80 km/h (em D) | 2,1 s |
Retomada de 60 a 100 km/h (em D) | 2,3 s |
Retomada de 80 a 120 km/h (em D) | 2,9 s |
Frenagens de 60 / 80 / 120 km/h a 0 | 15,9 / 26,1 / 62,6 m |
Consumo urbano | 24,2 km/l |
Consumo rodoviário | 31,7 km/l |
Ruído interno em Neutro / RPM máximo | 53,1 / 79,1 dBA |
Ruído interno a 80 / 120 km/h | 67,9 / 70,7 dBA |
Aferição: velocímetro / real | 100 / 99,3 km/h |
Aferição: rotação do motor a 100 km/h em 5ª marcha | 2.000 rpm |
Aferição: volante | 2,5 voltas |
Preço | R$ 799.000 |
Garantia | 2 anos |
FICHA TÉCNICA | |
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Motor a combustão | gasolina, traseiro, transversal, 3 cilindros, 12V, injeção direta, turbo, 1?499 cm3, 82 x 94,5 mm, 234 cv a 5.800 rpm, 32,6 mkgf a 3.700 rpm |
Motor elétrico | 131 cv, 25,5 mkgf |
Potência combinada | 365 cv |
Torque combinado | 58,1 mkgf |
Câmbio | automático, 6 marchas (tração traseira, gasolina); automático, duas marchas (tração dianteira, eletricidade) |
Direção | elétrica, 12,3 m (diâmetro de giro) |
Suspensão | duplo A (diant.), multilink (tras.) |
Freios | iscos ventilados nas quatro rodas |
Pneus | 215/45 R20 (frente), 245/40 R20 (atrás) |
Peso | 1.485 kg |
Peso/potência | 4,1 kg/cv |
Peso/torque | 25,6 kg/mkgf |
Dimensões | comprimento, 468,9 cm; largura, 194,2 cm; altura, 129,8 cm; entre-eixos, 280 cm; porta-malas, 154 l; tanque de combustível, 30 l |