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Biógrafo de Roberto Carlos condena série sobre Tim Maia

Na edição da Globo, foram retiradas partes em que Tim aparecia sendo humilhado por Roberto no início de sua carreira


	"Tim Maia", de Mauro Lima: Globo fez cortes para exibir o filme em dois episódios
 (Reprodução/Facebook)

"Tim Maia", de Mauro Lima: Globo fez cortes para exibir o filme em dois episódios (Reprodução/Facebook)

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Da Redação

Publicado em 6 de janeiro de 2015 às 13h43.

São Paulo - O biógrafo do cantor Roberto Carlos, Paulo César de Araújo, assistiu ao especial sobre a vida de Tim Maia, exibido pela Globo, com indignação.

Paulo falou à Rádio Estadão na noite dessa segunda, 5, sobre os cortes feitos pela emissora para exibir o filme em dois episódios. Na edição da Globo, foram retiradas partes em que Tim aparecia sendo humilhado por Roberto no início de sua carreira.

Algumas cenas do longa foram baseadas na obra de Paulo, Roberto Carlos em Detalhes, uma biografia do cantor proibida de ser vendida desde 2007.

SURPRESA

"Eu vi o programa, até porque sou fã do Tim Maia também. E estava nesta expectativa do que prometia o programa, que, eu imaginava, iria ampliar o que estava no cinema. Imaginei que seria algo maior, acrescido de depoimentos. De fato eles acrescentaram, mas para minha surpresa eu constatei que a parte mais polêmica da relação do Tim com o Roberto, nessa tentativa de se apresentar na jovem guarda, isso foi cortado e apareceu o Roberto dizendo que na verdade ele tinha ajudado o Tim Maia. Que tudo foi bacana, que não houve conflito, não houve contradição, não houve nada. Isso eu achei constrangedor. Na hora, eu lembrei da famosa edição da TV Globo no debate de 89. Desde aquele episódio não havia algo tão constrangedor. Só que ali o Lula tinha ido realmente mal no debate. A Globo só amplificou aquilo. Neste caso não, ele muda um personagem. O Roberto é uma espécie de vilão no filme e vira um herói na edição da Globo. Não sei como isso é possível, como o diretor deixou isso acontecer."

PROTEÇÃO PADRÃO GLOBO

"Isso acontece desde 1974, desde que o Roberto assinou o contrato com a Globo. Para além do especial que ele apresenta, eles têm um contrato também, pela forma que a Globo tem se comportado ao longo deste tempo, de preservar a imagem do Roberto Carlos. Isso não é um fato inédito. Isso sempre aconteceu. A Globo sempre procurou valorizar os aspectos positivos, que engradeçam o Roberto, e omitir e apagar o que pode prejudicar a imagem do Roberto. No livro O Réu e o Rei eu conto isso em detalhes."

MUDANÇA DA LEI DAS BIOGRAFIAS

"O que me espanta é que não tenha ninguém próximo ao Roberto Carlos que fale: Roberto, dê um basta nisso. Não é possível que ele não tenha um amigo, um filho, que fale 'meu pai larga isso pra lá, libere esse livro (Roberto Carlos em Detalhes) tira essa mancha da sua história, se é possível tirar, mas pelo menos não carregue isso mais'. Enquanto Roberto não tomar essa decisão, nós vamos ficar debatendo, problematizando, lamentando, mas parece que ele não entende assim. Mudando a lei agora, isso está para ser mudado, Roberto Carlos vai ser o último censor do Brasil e meu livro o último livro proibido do Brasil. Não sei por que que ele continua carregando essa pecha, por mais quanto tempo?"

CENA CORTADA

"Uma das cenas que a Globo podou é uma que só está no livro Roberto Carlos em Detalhes. Aliás, uma das cenas. É aquela quando o assessor do Roberto arremessa uma nota de dez cruzeiros, joga no chão. O Tim abaixa e pega. A frase que ele diz lá no filme é: 'Roberto, estou sem dinheiro'. Essa frase está no livro Roberto Carlos em Detalhes"

AUTORIZAÇÃO PRÉVIA

"Eles não fizeram esse filme sem ter a autorização do Roberto. Eu acredito, é claro, que eles devam ter omitido que teriam cenas do livro baseado em Roberto Carlos em Detalhes. Eles devem ter dito que só era baseado no livro do Nelson Motta, que de fato é a fonte principal, sem dúvida."

DISTÂNCIA DE TIM

"Quando ele (Roberto) está conseguindo ser um ídolo, aí vem um ex-companheiro dele, que foi preso nos EUA, e que as pessoas chamavam de Tião Maconheiro, os próprios assessores do Roberto, o empresário dele, o Evandro Ribeiro falava: 'Roberto, mantenha distância'. Quando Tim é preso em 66 e vai lá pra jovem guarda, o Roberto já está no topo, já é consagrado, tinha lançado Quero que Tudo Vá Para o Inferno. É o auge da jovem guarda e o Tim Maia passa dez meses preso na penitenciária Lemes e Brito. Quando ele sai e vai atrás do Roberto, aí a turma do Roberto diz: 'Roberto, tem o Tião Maconheiro, presidiário, querendo falar com você'. É humano, é compreensível a reação do Roberto naquele momento, não estava nada definido para ele. Só para dizer que as coisas são mais complexas do que parecem. Não é que o Roberto barrou o Tim Maia, nem que ele tenha aberto todas as portas para ele."

TEMPERAMENTO DE TIM

"Não devemos esquecer que o temperamento do Tim Maia não ajudava. Tim Maia já era Tim Maia antes do sucesso, figura explosiva. Isso dificultou a carreira dele sem dúvida. Além do mais, Tim Maia fazia uma música que ainda não estava no ouvido das pessoas. O ouvido do público não estava ainda aberto para aquele som que ele fazia. Tim Maia enfrentou essas barreiras. Não foram só as dificuldades das barreiras de acesso ao Roberto."

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

"Isso tem a ver com o nosso debate hoje no Brasil a respeito das biografias autorizadas. Essa visão que leva a desejar só biografias autorizadas. Essa visão autoritária, excludente, patrimonialista, de dizer a 'minha historia é um patrimônio meu', como disse o Roberto Carlos. Por que ele diz isso? Porque ele quer contar essa visão, cor de rosa, um passado sem conflitos, sem contradições. Por isso que essa ideia não pode prevalecer no Brasil, porque o resultado vai ser isso que vimos no especial da Globo"

REFLEXÃO

"Esse episódio é bom até para o próprio Roberto Carlos refletir, porque não é possível alguém se arvorar de dono da história, porque ninguém constrói uma história sozinho. Por que a história do Roberto vai ser só do Roberto? Por que ele é o Rei? E agora que a história cruzou com a do Tim Maia, como ficamos então? De quem é a história? Qual é a versão que vai prevalecer?" Colaborou Emanuel Bomfim

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