Donna: drinque sem álcool Quela Caramella (Rodolfo Regini/Divulgação)
Repórter de Casual
Publicado em 3 de outubro de 2025 às 13h31.
Última atualização em 3 de outubro de 2025 às 14h35.
A sequência de notícias sobre intoxicação por metanol em bebidas adulteradas provocou um efeito imediato no comportamento dos consumidores e nas vendas de bebidas em baladas, bares e restaurantes em diferentes regiões do país. Em muitos casos, os coquetéis — que costumam abrir a noite de boa parte dos clientes — praticamente desapareceram dos pedidos.
No restaurante Donna, o chef André Mifano conta que a mudança de pedidos foi perceptível logo nos primeiros dias desde o primeiro caso de intoxicação. "Os clientes começam normalmente a noite com um coquetel, mas nos últimos três dias não vendemos nenhum”. O restaurante costuma vender em torno de 80 coquetéis alcoólicos por semana e cinco coquetéis sem álcool por dia. "Ontem vendemos quatro vezes mais mocktails".
Segundo ele, o vinho e os coquetéis sem álcool ganharam espaço nas mesas. Tendência que também é confirmada por Alex Mesquita, diretor criativo das casas cariocas Elena Horto e Eleninha Horto. "Do meu ponto de vista haverá diminuição [no consumo] de drinques alcoólicos, principalmente a vodca, e o gim. A partir disso, sairá uma grande oportunidade, os drinques não alcoólicos, que vão ganhar popularidade e peso do mercado", diz.
Na Di Bari Pizza, o proprietário Rodrigo Schmidt relata que irão apostar mais em coquetéis sem álcool devido o aumento de pedidos por este tipo de bebida.
Esta é uma tendência já adotada pelo Tan Tan, bar eleito o Melhor do Brasil, segundo ranking EXAME Casual. Na casa paulistana, um terço do cardápio possui receitas com zero teor de álcool. “Decidimos não subcategorizá-los para mostrar que é possível integrar todo o universo da coquetelaria, apresentando as criações com consistência e profundidade”, explica Thiago Bañares.
A retração nas vendas também atinge principalmente os bares que possuem os drinques como elemento central da identidade da casa, como o bar Oculto. "Assim como em outros bares da cidade, percebemos uma diminuição no movimento — e entendemos que esse é um momento delicado para o setor. Mas existe um lado importante e necessário nesse cenário: a atenção redobrada à procedência dos destilados. Combater a falsificação é fundamental para proteger o consumidor e valorizar quem trabalha com responsabilidade. Casas que compram de fornecedores sérios e mantêm processos transparentes vão seguir firmes, porque a confiança do público nasce justamente daí", diz Sylas Rocha, gerente de bar do grupo DRK, que inclui as casas Oculto, Caulí, Olívio, Betsy e Fortunato.
Enquanto proprietários lidam com a queda das vendas, outros enfrentam uma ressaca ainda pior: os efeitos da desinformação, caso do bar Esquina do Souza. “Saímos em uma lista mentirosa que circulou pelo WhatsApp. As pessoas estão realmente impactadas pelas notícias. Até agora tivemos uma queda de 30% nas vendas”, diz Augusto Vianna, sócio do bar.
Para se proteger, ele afirma que juntaram documentos e certificados de fornecedores e treinaram a equipe, mas reconhece que há um limite de atuação. “Agora nos resta esperar para ver como o mercado vai reagir nos próximos dias”.
A estratégia da casa inclui reforçar outro ponto forte, a gastronomia. "O Esquina do Souza é conhecido pela boa comida — nossa coxinha é superpremiada e o chope vende bem, vamos apostar nisso”, diz.Outra casa que apareceu em uma lista falsa de vendas de bebidas adulteradas foi o italiano Modern Mamma Osteria.
Em nota, a casa afirma: "O MOMA trabalha unicamente com fornecedores oficiais, distribuidores autorizados e parceiros que atendem aos mais elevados padrões de qualidade. Até o momento, não fomos procurados por nenhum cliente que afirme ter sido intoxicado por bebidas adulteradas com metanol em nossos estabelecimentos, o que nos leva a crer que os boatos que circulam pelo WhatsApp citando a casa são enganosos e fazem parte de uma campanha de difamação.
Todos os nossos fornecedores são devidamente registrados, fornecem notas fiscais de compra direta dos fabricantes, além dos selos de autenticidade e lacres invioláveis. Estes fornecedores também já emitiram notas próprias, reafirmando a seriedade de seus processos e protocolos e garantindo a compra direta das fabricantes, com os correspondentes comprovantes de homologação.
Nossas operações seguem protocolos rigorosos de controle e segurança alimentar, assegurando a confiança de quem nos escolhe. Colocamos à disposição, para consulta em nossas casas, as notas fiscais de aquisição de bebidas alcoólicas, atestando a autenticidade e a procedência de cada produto adquirido.
Até que esta questão de saúde pública seja devidamente investigada e esclarecida, decidimos adotar como medida preventiva imediata a suspensão temporária da venda de destilados em nossas unidades. Para responder aos boatos que circulam com objetividade, realizamos também testes em amostras de nossos destilados e do estoque para comprovarmos não haver nenhum risco de contaminação do que servimos. Os resultados sairão nos próximos dias, mas temos a certeza de que nossos protocolos atuais são efetivos para garantir a segurança e bem-estar dos nossos clientes."
Bel Coelho e Alex Mesquita: novas estratégias e tendências no mercado de bebidas (Laís Acsa /Divulgação)
Além da alternativa de focar oferta de bebidas em vinhos e drinques sem álcool, a chef Bel Coelho adotou o uso de destilados de pequenos fabricantes nacionais, com venda direta, sem intermediários, nos restaurantes Cuia e Clandestina.
Os drinques autorais e clássicos servidos nas casas serão preparados somente com Gin YVY, Vodka APTK e Cachaça Mato Dentro, fabricantes que possuem canais de venda direta e trabalham com produção responsável e rastreável.
Com o consumo de destilados em baixa e a confiança ainda abalada, empresários do setor buscam reposicionamento, clareza na comunicação e produtos que preservem a experiência, mas tragam sensação de segurança.