"Lanternas Vermelhas", do Balé Nacional da China: iluminação dá efeito cinematográfico ao palco (Renato Mangolin/Divulgação)
Marília Almeida
Publicado em 30 de maio de 2019 às 15h00.
Última atualização em 3 de junho de 2019 às 12h05.
São Paulo - Três vezes nomeado ao Oscar, o cineasta chinês Zhang Yimou vem provocando polêmicas em sua terra natal. Neste ano, ele foi advertido pelo governo de que não poderia competir com seu longa "One second" em festivais internacionais. O intuito do estado chinês é não dar exposição a uma história que trata de um tema delicado no país: a Revolução Cultural.
Afora isso, Yimou aparentemente mantém boas relações com o governo ao dirigir um espetáculo da companhia estatal Balé Nacional da China, a única do tipo no país. Ele é inspirado em seu clássico filme indicado ao Oscar, "Lanternas Vermelhas", e será apresentado pela segunda e última vez na cidade de São Paulo nesta quinta-feira (30), às 21h, no Credicard Hall.
O espetáculo adapta e simplifica o roteiro do filme, mas a história continua similar. Ele relata a história de uma jovem forçada a tornar-se a terceira esposa de um velho senhor feudal nos anos 30. Ela é recebida por suas duas esposas com relutância.
O quarteto passa o tempo jogando mahjong, um jogo de tabuleiro de origem chinesa, e assistindo a espetáculos de ópera em casa. Em meio às performances, a terceira esposa se depara com seu amante, um especialista em artes marciais do elenco. O segredo do casal é descoberto por obra do ciúme da segunda esposa, que os denuncia ao marido.
O espetáculo já foi apresentado em mais de vinte lugares na China e no exterior desde a sua estreia mundial em 2001. A montagem já passou por países como Itália, França, Inglaterra, Estados Unidos, Austrália, Grécia, México, Rússia, Coreia do Sul e Holanda.
Além de São Paulo, a turnê brasileira do balé já passou pelo Rio de Janeiro (Theatro Municipal). Depois de São Paulo, será apresentada em Curitiba (Teatro Guaíra) nos dias 5 e 6 de junho.
O Balé Nacional da China retorna ao país depois de nove anos. Fundada em 1959, os integrantes da companhia são oriundos da Academia de Dança de Beijing, onde recebem formação rigorosa pelo método da Academia Vaganova, de São Petersburgo, berço de estrelas do mítico Kirov Ballet.
Uma das características que mais se sobressaem em seu balé é a mescla da cultura oriental com a dança clássica ocidental. E no espetáculo "Lanternas Vermelhas" é possível ver isso com clareza. Ao lado de movimentos conhecidos do balé clássico, o espectador é surpreendido por malabarismos e uma participação da Ópera de Pequim com personagens mascarados.
O instrumento composto por uma bateria de pratos, um pequeno e um grande gongo, marcante no filme para demarcar a passagem das estações, também está presente no espetáculo. A música tocada é do compositor sino-francês Qigang Chen, o mesmo criador da música do filme de Yimou.
É visível como o balé se adapta bem aos corpos esbeltos dos dançarinos do país, alguns altos e imponentes. A delicadeza e colorido do figurino dão um toque especial à coreografia.
As soluções cênicas nas cenas mais sombrias, onde a violência está presente, chamam a atenção pela criatividade e efeito estético. Não há como não se surpreender com elas. São desde jogos de sombra até uma interação chocante dos dançarinos com o cenário.
O cinema está presente nas soluções de iluminação, a cargo de Yimou, que em conjunto com um cenário magistral e performances que por vezes reúnem ao menos duas dezenas de dançarinos no palco dão o efeito de "cena cinematográfica" ao teatro-balé.
Os paulistanos que não conseguirem ir nesta quinta-feira à última apresentação de "Lanternas Vermelhas" na cidade poderão conferir outra superprodução da companhia, o "Lago dos Cisnes", nos dias 1º (sábado) e 2 (domingo).
A versão da companhia para a música do compositor russo Tchaikovsky é coreografada e dirigida pela bailarina e coreógrafa russa Natalia Makarova, que tem passagens pelo Kirov Ballet da Rússia, Royal Ballet de Londres e American Ballet Theatre.
“O Lago dos Cisnes” conta a história da princesa Odette, por quem o príncipe Siegfried se apaixona, mas que está presa no corpo de um cisne pelo feitiço de um mago. Aliado à sua filha, o mago faz de tudo para impedir a quebra do feitiço e o amor entre Odette e o príncipe.
“Lago dos Cisnes” já recebeu montagens das maiores companhias do mundo e segue sendo encenada regularmente desde a sua estreia em 1877 no Teatro Bolshoi. O espetáculo foi também alvo de versões cinematográficas, como o filme "Cisne Negro", de Darren Aronofsky, com Natalie Portman e Vincent Cassel.
SERVIÇO
São Paulo
Credicard Hall - Av. das Nações Unidas, 17955 - Vila Almeida
Sessões:
30/05 - 21h - Lanternas Vermelhas
01/06 - 21h - O Lago dos Cisnes
02/06 - 15h - O Lago dos Cisnes
Ingressos: R$ 50 a R$ 350
Curitiba
Teatro Guaíra – R. XV de Novembro, 971 – Centro
Sessões:
05/06 - 21h - Lanternas Vermelhas
06/06 - 21h - Lanternas Vermelhas
Ingressos: R$ 50 a R$ 160
Belo Horizonte
Palácio das Artes
Sessões:
08/06 - 20h - O Lago dos Cisnes
09/06 - 18h30 - O Lago dos Cisnes
Ingressos: R$ 50 a R$ 200