(Pilar Olivares/Reuters)
Ivan Padilla
Publicado em 24 de outubro de 2021 às 15h49.
Última atualização em 24 de outubro de 2021 às 15h50.
No caminho oposto de muitas intelectuais e militantes feministas que renunciam à heterossexualidade, uma nova onda de autoras refletem para que mulheres e homens se sintam melhor como casal.
“Questionar a heterossexualidade não significa abandonar o casal”, afirma a jornalista Lucile Quillet, autora do ensaio “Le prix à payer, ce que le couple hétéro coûte aux femmes” ("O preço a pagar, quanto custa o casal heterossexual às mulheres"), à AFP.
Para Quillet, a estrutura do casal empobrece as mulheres, pois continuam a receber menos do que os homens, assumem redução do salário quando têm filhos, cuidam de grande parte das tarefas domésticas em torno da casa e continuam a contribuir no mesmo nível que seu cônjuge nas despesas.
“O que quero mostrar é que apesar dos discursos sobre igualdade, as contas não batem. Sempre se pede mais das mulheres, principalmente no âmbito íntimo, sem que isso seja conhecido. Queria prestar contas”, explica.
Mas não se trata de abandonar esse modelo: “Para as mulheres se sentirem plenamente realizadas sendo solteiras é muito bom. Mas propor a outras que se tornem lésbicas quando forem heterossexuais é impossível”, acrescenta.
Nos últimos anos, ativistas feministas proclamaram sua saciedade em relação ao casal heterossexual, que, segundo elas, prejudica as mulheres.
Virginie Despentes, um dos ícones do feminismo francês, explicou em 2017 ao jornal Le Monde que se sentiu "aliviada" quando, aos 35 anos, deixou a heterossexualidade. Desde então, os textos sobre o tema se multiplicaram.
“Vivemos em uma sociedade em que o casal heterossexual é majoritário. Portanto, vamos ser realistas e nos questionar mais sobre a questão do equilíbrio de forças do casal”, observa a escritora francesa Maud Ventura.
Em "Mon mari", a jovem autora expõe a dependência emocional de uma mulher casada e independente, mas cuja vida gira inteiramente em torno do marido.
“É preciso escrever romances que contem um amor conjugal emancipatório e tranquilo, e se livrar dos clichês sobre o príncipe encantado e o mito da paixão de uma vez por todas. Amor não significa inquietação”, afirma.
Tese também defendida pela jornalista Mona Chollet no ensaio "Reinventando o amor: Como o patriarcado sabota as relações heterossexuais", no qual exorta mulheres e homens a mudarem seu "programa de amor" para realizar uma "revolução romântica" e para que as mulheres se sintam melhor no casal.
Uma revolução que não pode ser feita sem os homens, segundo a filósofa Manon Garcia, que defende o diálogo no casal.
“Os homens têm que iniciar essa conversa com as mulheres e acima de tudo ouvi-las. Só assim será possível sair das normas que pesam sobre um casal e homens e mulheres poderão se sentir realizados”, diz à AFP .
O que está faltando, ela argumenta, é uma "educação para uma cultura erótica igualitária".