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As lições de vida e de carreira de Alexander Bublik, o tenista diferentão

O jogador do Cazaquistão, que acaba de conquistar o maior título de sua carreira, treina quando quer, compensa preparo com talento e se considera “um cara normal, esquisitos são os outros”

Alexander Bublik: pouco treino e mito talento (Ian MacNicol/Getty Images)

Alexander Bublik: pouco treino e mito talento (Ian MacNicol/Getty Images)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 22 de junho de 2025 às 11h32.

Última atualização em 22 de junho de 2025 às 12h48.

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O cazaque Alexander Bublik é uma peça rara no meio do tênis, um jogador alto mas sem músculos torneados, muito talentoso, que em seu melhor momento pode bater qualquer um, até mesmo o melhor do mundo, mas que é capaz de pular um treino se não estiver com vontade de dormir e não vê problema em sair à noite na véspera de um jogo importante.

É um discurso único em um esporte que vem evoluindo fisicamente de modo bem acelerado nos últimos anos, mas que tem demonstrado lá seus resultados. Pelo menos para ele. Neste domingo, 22 de junho, Bublik conquistou o título do ATP 500 de Halle, na Alemanha, um dos torneios na grama preparatórios para Wimbledon, ao derrotar o russo Daniil Medvedev por 6x3 e 7x6.

No jogo, a primeira vitória sobre Medvedev em sete jogos na carreira, Bublik fez o que sabe fazer de melhor, da mesma forma que na segunda rodada, quando venceu o invencível Jannik Sinner, quando abusou dos saques por baixo. Desta vez não teve saque por baixo. Mas o cazaque voltou a jogar com imprevisibilidade e golpes de efeito, muito slice para quebrar o ritmo do adversário, um ar de enfado que disfarçava seus bons fundamentos.

"Nao sou uma pessoa lutadora"

Sim, porque Bublik não é apenas desinteresse. Ele possui um forehand bastante potente, um serviço colocado que passa dos 200 quilômetros por hora, um excelente jogo de rede. Só não tem a disciplina necessária para fazer tudo isso o tempo todo. Por isso abusa da excelente mão para deixadinhas e tenta terminar logo os pontos, da maneira que for.

Essa é sua maneira de jogar, com as armas que tem, mesmo que não sejam as convencionais. “Eu não sou uma pessoa lutadora”, disse ele na entrevista coletiva antes da partida contra Sinner, em Halle. “Então para ganhar dos melhores do mundo eu tenho que encontrar uma maneira. Porque eles vão me superar, me ultrapassar. Eu não sou capaz de jogar cinco horas e meia contra o Sinner, eu morreria na quadra, literalmente. Assim como não sou capaz de jogar com 45 graus na Austrália. Nem vou tentar fazer isso.”

Bublik diz que precisa então encontrar outros caminhos. “Estou mais preocupado com minha saúde do que com o tênis. Então eu busco derrotar esses caras com o que eu tenho. E eu tenho bastante coisa em termos de recursos, de arsenal de golpes. Às vezes eu tenho de arriscar esses 'golpes malucos’. Sou mais forçado a jogar dessa forma do que querer ser assim.”

No mês passado, Bublik fez sua melhor campanha em Roland Garros. Ele perdeu para Sinner nas quartas-de-final, mas depois de uma vitória surpreendente contra Jack Draper, então quinto do mundo. Pouco antes do jogo, ele disse que se achava “super-normal”. Para o cazaque, diferentes são os outros tenistas, habituados a uma rotina incessante de treinos e torneios.

“Eles me fazem sentir diferente. Não sei se são eles os diferentes ou eu, porque para mim as minhas perspectivas são normais. Você pode me ver sair à noite antes de um jogo, sou uma pessoa social. Pulo os treinos se não sentir de treinar e acho que isso é algo muito normal. Se eu quiser dormir, eu durmo. Alguns ganham 100 milhões de dólares, vencem 15 títulos e querem mais. Para mim isso não é normal.”

Tão imprevisível quanto o piso de grama

Bublik nasceu na Rússia, mas se naturalizou cazaque em 2016, alegando falta de investimento por parte da federação local de tênis. Ele contou que começou a jogar tênis aos dois anos por imposição do pai. “Nunca tive escolha. Minha mãe apoiou meu pai. Acho que foi uma grande atitude. Se você quer que seu filho seja bom em algo, você precisa cuidar disso”. Apesar do reconhecimento, o tenista diz que não fará o mesmo com seu filho, hoje também com dois anos.

Até este ano, seu melhor ranking havia sido 17º do mundo. Hoje, aos 28 anos, é o número 45. Com os pontos ganhos na Alemanha, deve ficar em 30º, o que já lhe garante uma vaga de cabeça-de-chave em Wimbledon.

Ele já ganhou quatro torneios ATP, em Halle em 2023 e outros três de nível 250. Este ano ele perdeu para o brasileiro João Fonseca, no Challenger de Phoenix, nos Estados Unidos.

Phoenix é disputado na quadra dura. Bublik diz não gostar muito do saibro, apesar do bom resultado em Roland Garros deste ano. Seu piso favorito é mesmo a grama, como o de Halle, onde foi campeão hoje, e o de Wimbledon, que começa na próxima semana. Talvez por ser tão imprevisível quanto ele.

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