O artista chinês Ai Weiwei. (Peter Macdiarmid/Getty Images)
Julia Storch
Publicado em 30 de março de 2021 às 13h16.
Última atualização em 30 de março de 2021 às 16h02.
Quando foi fotografado fazendo um gesto obsceno na praça Tiananmen, o artista dissidente chinês Ai Weiwei sabia que estava provocando, mas não imaginava que 26 anos depois sua obra estaria no coração de uma polêmica sobre a censura em Hong Kong.
Seu dinheiro está seguro? Aprenda a proteger seu patrimônio
A ex-colônia britânica desfrutou durante muito tempo de liberdades desconhecidas no restante da China continental. Agora, porém, luta para mostrar o nível de sua reputação como refúgio cultural, devido à forte interferência no território por parte do poder comunista.
Abalada pelos protestos de 2019, Pequim iniciou uma drástica repressão contra o movimento pró-democracia, mediante uma lei draconiana de segurança nacional, que também inclui o mundo da arte.
Em seu exílio em Berlim, Ai Weiwei, o mais famoso artista chinês contemporâneo, está convencido de que Hong Kong sofre a mesma censura rígida imposta na China continental. "Qualquer forma de liberdade de expressão pode ser declarada ilegal, ou subversiva", afirmou Ai Weiwei, de 63 anos. "Esta lei foi aplicada na China continental, e não há dúvidas de que está sendo aplicada atualmente em Hong Kong", destaca.
Arte em Hong Kong? Todos os olhares estão voltados para o Museu M+, cuja inauguração foi "interrompida". Este espaço de 60.000 m2 finalmente abrirá suas portas neste ano, com muito atraso e com a enorme ambição de competir com o Tate Modern, de Londres, ou o MoMA, de Nova York. Este museu conta com uma das melhores coleções de arte chinesa contemporânea do mundo, principalmente graças a uma doação do colecionador suíço Uli Sigg.
O catálogo online do museu apresenta 249 obras de Ai Weiwei, assim como fotos de Liu Heung-shing da repressão na Praça de Tiananmen em 1989, algo censurado na China continental.
Muitos se questionam, porém, sobre as condições do museu para expor essas obras, em meio a um contexto repressivo. Os políticos pró-Pequim de Hong Kong já acusaram o museu de violar a lei de segurança e "espalhar o ódio contra o país", destacando a foto de Ai Weiwei em Tiananmen.
Ai Weiwei descreveu os curadores do M+ como "grandes profissionais", dotados de uma "integridade criativa", mas que enfrentam "um mundo que muda rápido demais". Ele se pergunta se alguma de suas obras, que foram exibidas em 2016 em Hong Kong, estará no M+. "A sociedade de Hong Kong liberal e democrática está desaparecendo", lamenta.
Weiwei é um artista multifuncional: pintor, escultor e artista plástico versátil, ajudou a projetar o "Ninho de Pássaro", o estádio de Pequim para os Jogos Olímpicos de 2008. Acabou se tornando alvo do governo. Causou a indignação de Pequim, primeiramente, ao investigar o colapso das escolas durante um terremoto em 2008 na província de Sichuan e, depois, em um incêndio que deixou dezenas de vítimas em Xangai, em novembro de 2010. Em 2011, ficou 81 dias preso e, quatro anos depois, foi morar na Alemanha.