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Da Redação
Publicado em 3 de fevereiro de 2014 às 18h16.
“É meu pai e eu o amava muito”. Essas foram as únicas palavras que Pedro Coutinho, promotor de Justiça na cidade de Petrópolis, na região serrana fluminense, conseguiu dizer à imprensa, após o enterro do cineasta Eduardo Coutinho, morto ontem (2) aos 80 anos, a facadas, em seu apartamento, no bairro da Lagoa, zona sul do Rio de Janeiro.
Segundo a polícia, outro filho de Coutinho, Daniel, de 41 anos, é o principal suspeito do crime.
Sob aplausos de amigos e colegas de profissão e de uma chuva de pétalas de rosas vermelhas, o caixão com o corpo de Eduardo Coutinho começou a ser enterrado na Quadra 21 Gaveta 06 do Cemitério São João Batista, em Botafogo, às 16h25.
O ator Antonio Pitanga, amigo do cineasta, gritou as palavras de ordem: “Companheiro Eduardo Coutinho, presente!”, às quais todos responderam: “Presente!”. A chamada se repetiu inúmeras vezes, sob constantes aplausos.
Abraçado à mulher, Pedro Coutinho aguardou chorando o fechamento total do túmulo. Em seguida, recebeu mais uma vez os cumprimentos de parentes e amigos do pai e da família.
O último a se retirar foi o cineasta Walter Salles, famoso mundialmente por filmes como Central do Brasil, candidato do Brasil ao Oscar de 1999 nas categorias melhor filme estrangeiro e melhor atriz para Fernanda Montenegro.
“É difícil falar do Coutinho”, disse Walter Salles, destacando que ele “foi e é o maior documentarista da história do cinema no Brasil. Eu diria que ele era o maior cineasta brasileiro da atualidade. Ele era único e insubstituível”.
Salles disse que a emoção que perpassou todo o velório e o enterro de Eduardo Coutinho ocorreu porque, além da obra em si, todo o seu trabalho foi caracterizado pelo respeito ao outro. "[Ele foi] um homem que soube ouvir e dar a palavra. Foi um homem de grande generosidade”.
Para Walter Salles, os aplausos que ecoaram durante todo o enterro foram para o cineasta, mas também “para o homem atrás da obra”. O cineasta salientou ainda que era um privilégio ter vivido na época de Eduardo Coutinho.
“É a mesma coisa se você tivesse vivido no tempo de Graciliano Ramos, João Cabral de Mello Neto, Guimarães Rosa. É a mesma coisa da gente falar do privilégio que é hoje viver no tempo da Fernanda Montenegro. O Coutinho é dessas pessoas iluminadas que nos explicavam um pouquinho melhor o que é esse país tão complexo chamado Brasil. E ele o fazia ouvindo os outros com generosidade”.
Salles disse que não foi à toa que o processo do velório foi conduzido por personagens dos filmes de Eduardo Coutinho.
“Eles tomaram a voz mais uma vez. E para quem estava naquela sala [capela], foi uma das coisas mais comoventes e extraordinárias que eu pessoalmente presenciei. Era essa pessoa única que estava sendo aplaudida hoje”, disse.