Turistas em base na Antártica: turismo é uma das poucas atividades econômicas permitidas (Vanderlei Almeida/AFP)
Da Redação
Publicado em 1 de abril de 2014 às 14h19.
É meio da tarde e, sob um céu nublado que se confunde com a brancura da neve, dezenas de pessoas caminham em fila, entre sorrisos e expressões de alegria, encantadas com a paisagem e a fauna da Antártica, como as geleiras azuis e os pinguins-de-papua, belezas de um destino cada vez mais procurado por turistas do mundo todo.
O grupo se prepara para embarcar em um avião comercial, após uma curta imersão na Antártica. O voo traz turistas a cada dois dias para fazer passeios à base chilena de Frei, na Ilha Rei George – arquipélago das Shetland do Sul - , à vizinha base russa Bellinghausen com sua curiosa igreja ortodoxa, à Villa Las Estrellas, cidadezinha com população de 64 habitantes, e claro, ver os pingüins.
Ao custo médio de US$ 3 mil por pessoa, os turistas podem, durante 5 horas, conhecer parte dos encantos deste continente fascinante, que atrai milhares de turistas durante o verão austral, de novembro a março, quando é possível navegar e pousar.
O turismo é uma das poucas atividades econômicas permitidas pelo Tratado Antártico e o Protocolo de Madri, que restringem a exploração de minérios e outros recursos naturais do continente gelado.
De acordo com a IAATO (sigla em inglês para a associação internacional que reúne 90% das operadoras de turismo na Antártica), a maior parte dos turistas chega a este exótico em cruzeiros do Chile e da Argentina.
Alguns embarcam em aviões rumo à Antártica. As poucas embarcações capacitadas para cruzar o turbulento mar de Drake saem de Ushuaia (Argentina, sul) e Punta Arenas (Chile, sul) e a maioria chega à Península Antártica.
Ali é possível visitar locais como Half Moon Island, hábitat de leões marinhos e pinguis-de-papua (Pygoscelis papua), que também sedia a base argentina Teniente Cámara, onde podem tomar café quente, enviar postais e carimbar seus passaportes com o “krill” (tipo de crustáceo), símbolo da estação.
“Noventa por cento dos turistas de todo o mundo que têm como destino a Antártica saem de Ushuaia. Os cruzeiros duram, em média, 11 dias. Os mais baratos custam cerca de US$ 5 mil. Os mais caros, de 15 dias e que chegam ao Círculo Polar Antártico, estão por volta de US$ 12 mil ”, afirmou por telefone à AFP o brasileiro Gunnar Hagelberg, proprietário da operadora Antarctica Expeditions junto com a esposa Zelfa Silva.
Com escritórios em Buenos Aires e Porto Alegre, a Antarctica Expeditions representa 16 operadoras que levam turistas de Ushuaia à Antártica.
Outra operadora brasileira, a TGK, com sede em São Paulo, oferece pacotes com saídas desde novembro de 2014 a partir de US$ 5.995 em cruzeiros de 10 dias, em média, saindo de Ushuaia.
Sonho realizado
A bordo da aeronave BAE-146-200, com capacidade para 60 pessoas, todos comentam que visitar a Antártica é a realização de um sonho.
“Vir para a Antártica é a realização de um sonho para mim e a minha mulher. Há alguns anos, nós tentamos vir, mas ficamos na lista de espera. Este ano, nós nos inscrevemos com um ano de antecedência e conseguimos. É uma viagem muito popular”, contou à AFP o americano John Riess, um sorridente senhor de 81 anos, ao lado da esposa, Sharon, de 73.
O casal embarcou em um cruzeiro na Flórida, onde vive, rumo a Punta Arenas e lá comprou as passagens de avião.
“Eu adorei [conhecer a Antártica]. É uma experiência que acontece uma vez na vida. Eu vim num cruzeiro e a bordo ofereceram este passeio”, contou o holandês Albert Bogart, de 57 anos, residente em Amsterdã.
Após um voo de duas horas, partindo de Punta Arenas, os turistas desembarcaram na base chilena e, acompanhados de um guia, puderam ver alguns dos encantos do continente branco.
“Foi uma experiência fantástica. O especial de vir aqui é, primeiro, visitar um continente ainda intocado. Em segundo lugar, ver os pingüins. Todos amam os pingüins. Para mim foi especial caminhar perto das bases, ver como os cientistas de diferentes países trabalham em colaboração”, relatou a canadense de Ottawa Maureen Malone, de 69 anos, antes de confessar algo que todos repetiam: “Se pudesse, certamente voltaria”.
Um negócio em ascensão
Segundo estimativas da IAATO, 35.354 pessoas terão visitado a Antártica no final da temporada de 2013-2014, mais de mil a mais do que em 2012-2013 (34.316) e oito mil a mais que em 2011-2012 (26.519).
“Por temporada, levamos 120, 130 pessoas para a Antártica. Temos visto um aumento de 15% a 20% na procura dos turistas [por passeios com destino ao continente gelado]”, disse Nicolas Paulsen, vice-gerente comercial da companhia chilena Dap, que realiza vôos logísticos e turísticos à Antártica.
Segundo Paulsen, o turismo com destino à Antártica cresce 3 pontos mais do que o turismo no Chile, que aumenta 7% ao ano. A maior parte dos turistas vem de Estados Unidos, Austrália, China e Rússia, mas, segundo ele, é crescente também o número de brasileiros interessados nessa viagem.
“Nos últimos seis anos, vimos aumentar de forma crescente o número de brasileiros interessados, de 10 para uns 200 este ano”, superando os cerca de 150 estrangeiros anuais, afirmou Hagelberg, cuja empresa argentino-brasileira opera há 18 anos na Antártica e também no Ártico.
“A Antártica é vital para nós, influencia o clima, as correntes marinhas... O turismo é importante porque quanto mais pessoas conhecerem esse continente, mais vão querer protegê-lo”, concluiu.