Angelina Jolie: muitos jovens cambojanos abordam temas sociais da atualidade com orçamentos que fariam um produtor estrangeiro empalidecer (Luke MacGregor/Reuters)
Da Redação
Publicado em 8 de dezembro de 2015 às 11h13.
Phnom Penh - Angelina Jolie se transformou em inspiração para os jovens cineastas cambojanos, que veem em sua relação com o país, onde a atriz adotou seu primeiro filho e atualmente roda um filme, uma esperança para a incipiente sétima arte local.
Jolie participou recentemente de um debate com jovens criadores cambojanos no teatro Chaktomuk, em Phnom Penh, onde explicou a origem de seus laços com o Camboja para uma plateia que aplaudia cada umas de suas intervenções.
"Não estava orgulhosa do que era e do que pensava e me dei conta que havia muitas pessoas que tinham muito a me ensinar", lembrou a atriz americana sobre suas emoções durante a filmagem de "Lara Croft: Tomb Raider" no Camboja em 2000.
A também diretora - que estava acompanhada de seu marido, Brad Pitt, que se sentou entre o público - recordou o momento em que decidiu adotar, em 2002, seu primeiro filho, Maddox, nascido em Battambang, no noroeste do país.
"Sentia que devia ser mãe de alguém nascido aqui e ter uma família cambojana, e Maddox mudou minha vida totalmente", disse.
Pouco depois, em 2003, começaria um projeto de conservação ambiental que se transformaria em 2006 na fundação Maddox Jolie Pitt, que realiza tarefas de "reflorestamento, áreas de proteção comunitária, gestão do parque e desenvolvimento rural integral", segundo o site da fundação.
A compra de 60 mil hectares no parque nacional Samlout, na província natal de Maddox, foi parte dos esforços da artista para que seu filho, hoje com 14 anos, conheça suas origens.
Por esta razão, a atriz anunciou em julho que o mais velho de seus seis filhos (três adotivos e outros três biológicos) estaria presente durante a filmagem de seu novo longa em Siem Reap, no nordeste cambojano, em comunicado feito pelo Netflix, que distribuirá o filme.
Jolie dirige e coproduz, ao lado de Rithy Panh, diretor cambojano indicado ao Oscar, uma adaptação das memórias da ativista cambojana Loung Ung durante os anos do regime do Khmer Vermelho (1975-1979), quando um quarto da população morreu na crise de fome, nos trabalhos forçados e nas execuções.
Cerca de 1,7 milhão de pessoas morreram, e o país ficou sem recursos, infraestruturas e com poucas referências culturais, já que os intelectuais e os artistas estavam entre os que não se encaixavam no ideário do regime maoísta.
A adaptação ao cinema do livro "'Primeiro mataram meu pai: uma filha do Camboja se lembra', mostrará às pessoas "o que o cinema cambojano pode chegar a ser", disse a atriz.
Agora o cinema cambojano começa a despertar e se fixa em seus vizinhos coreanos e tailandeses, com os quais há décadas competia em igualdade de condições, estimulado pela esperança de jovens criadores como Eng Daneth.
"Depois do Khmer Vermelho perdemos 80% ou 90% (da indústria do cinema), mas agora em 2015 nossos filmes começaram a melhorar", afirmou a artista visual Eng Daneth após o colóquio.
Longe das grandes produções, muitos jovens cambojanos abordam temas sociais da atualidade com orçamentos que fariam um produtor de outros países empalidecer.
Phally Ngoeun, que terminou este ano um documentário sobre o tráfico de pessoas no Camboja, disse durante a reunião de jovens cineastas que sua motivação é documentar "os verdadeiros problemas que ocorrem em meu país, dando voz a quem não têm".
Para Rithy Panh, sobrevivente do genocídio e organizador do colóquio, a situação só permite olhar para frente, já que "não temos escolha, viemos de uma história terrível, o que é preciso agora é construir algo melhor e olhar para o futuro".