Alexandre Bratt (à dir.), novo CEO da Grand Cru, e o atual, Agustin Blanco (Divulgação/Divulgação)
Daniel Salles
Publicado em 4 de dezembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 6 de dezembro de 2020 às 10h38.
Desde que começou a trabalhar na Grand Cru, em janeiro deste ano, Alexandre Bratt é e não é o CEO da companhia. Mas até a tarde desta quinta-feira (3) só quem sabia disso era ele, Agustín Blanco, que exerce o mesmo cargo desde setembro do ano passado, e pouquíssimas outras pessoas. Foi quando se anunciou que Bratt sucederá Blanco a partir de janeiro, uma troca combinada desde que o primeiro colocou os pés na importadora.
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Blanco é um dos diretores do fundo de investimentos Aqua Capital, que detém, desde 2014, 77% da empresa (a fatia restante está nas mãos dos argentinos Victor e Mariano Levy, que fundaram a Grand Cru em Buenos Aires, em 1998, e Marcos Shayo).
“Assumi para termos mais controle do que estava sendo feito”, disse Blanco na última quarta, durante um almoço do qual participaram Bratt e a reportagem da Exame. “O Aqua sempre quis acelerar a digitalização da companhia, que não avançou nos últimos dois anos. O Alê tem perfil para nos levar aonde queremos chegar. Mas, antes de ocupar o cargo de CEO, assumiu a tarefa de transformar a área digital”.
Com passagens pela Coca-Cola, Schincariol e pela divisão de cervejas da Wine.com.br, Bratt começou a dar expediente na Grand Cru como Head de Transformação Digital. Em julho foi alçado a Diretor Comercial. Sem a pandemia no horizonte, a promoção a CEO teria ocorrido em meados de maio. Obviamente para não dar a entender que a importadora estava em maus lençóis – que outra conclusão tirar a respeito de uma empresa que troca de comando em meio a um vendaval? – a sucessão foi postergada para agora.
“Mantivemos tudo em segredo porque uma empresa precisa ter um líder e não dois”, disse Bratt no início do almoço, ocorrido no restaurante Extásia, na Vila Nova Conceição, em São Paulo, que divide o imóvel com uma loja da Grand Cru. “Não dá para haver dois CEOs”.
O novo mandachuva avalia como extremamente positivo o período em que foi e não foi CEO. “Pude acompanhar de perto desde a negociação com os restaurantes até o desenvolvimento dos aplicativos usados pelos vendedores, o que seria impossível na cadeira de CEO”, conta ele. “Conhecer a empresa em detalhes vai me ajudar nos desafios pela frente”.
Assume uma operação que deve fechar o ano com 235 milhões reais de faturamento e um crescimento estimado entre 5% e 10% (no ano passado o crescimento foi em torno de 15%). “Em abril podia jurar que o resultado ficaria em torno de 10% negativos”, diz Blanco
Passados os meses mais difíceis da pandemia para a importadora, ela acumulou uma sucessão de recordes. Registou seu melhor agosto da história. Depois o melhor setembro e outubro. Até então o melhor mês de faturamento, desde o início da Grand Cru, era novembro de 2019, graças, claro, à Black Friday. Mas novembro de 2020 foi 25% melhor.
As conquistas são creditadas, principalmente, à digitalização da empresa, somada ao corte de custos e outras medidas. “Antes da pandemia, os canais digitais respondiam por menos de 10% das vendas”, conta o CEO prestes a entregar o cargo. “Hoje eles respondem por 25% do faturamento, o mesmo tanto que as nossas lojas físicas. Já as lojas dos franqueados respondem por outros 25% e os restaurantes e supermercados pela fatia restante”. “Nunca estivemos tão equilibrados”, comemora Bratt.
Uma das inovações digitais, colocada em prática em setembro, ganhou o nome de Loja ao Vivo. Nada mais é que uma câmera apontada para uma área na Grand Cru da Vila Nova Conceição. Ali um vendedor responde, em tempo real, às perguntas que os clientes enviam via chat (basta acessar grandcru.com.br). Se o máximo de clientes que um vendedor consegue atender por dia são 40, com a novidade o alcance passou para 2500. Resultado: a Loja ao Vivo registrou até aqui 1 milhão de reais em vendas, bem além do esperado.
A rede soma 17 lojas próprias e 75 franquias, 15 delas inauguradas neste ano. Para 2021 a meta é abrir mais 40 lojas, nenhuma delas própria; dobrar a quantidade de assinantes do clube de vinhos da Grand Cru, hoje com quase 10 mil membros; e crescer 40%. Equivale a 310 milhões de reais de faturamento no ano. “É uma meta agressiva, mas baseada no que já estamos fazendo e na atual curva de crescimento”, diz Bratt. Blanco voltará a dar expediente no Aqua Capital, cujo foco principal é o agronegócio, mas, pode apostar, vai continuar a olhar o dia a dia da Grand Cru de perto.