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Agências montam viagens para tratar crises existenciais na meia-idade

No lugar do seu terapeuta, agentes de viagens prescrevem férias personalizadas que tratam das questões e frustrações da vida cotidiana

 (NataliaDeriabina/Thinkstock)

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Júlia Lewgoy

Júlia Lewgoy

Publicado em 22 de março de 2019 às 05h00.

Última atualização em 22 de março de 2019 às 05h00.

Não é inconcebível que um agente de viagens tome o lugar do seu terapeuta.

Profissionais graduados do ramo de viagens estão “prescrevendo” férias personalizadas que tratem das questões e frustrações da vida cotidiana. Seja para fortalecer relações familiares, equilibrar vida pessoal e trabalho ou curar o desânimo de empreendedores, essas soluções não lidam com diagnósticos médicos, mas tratam de questões tão comuns quanto o resfriado nos dias de hoje.

“Eu faço essas viagens há muitos anos”, diz Tom Marchant, cofundador da agência de viagens de luxo Black Tomato. “As coisas mais valiosas que trouxe das minhas viagens são as lições de outras comunidades que pude aplicar em minha vida diária.”

Esta visão motivou Marchant a criar o programa Bring it Back, um leque de itinerários com propósito que os viajantes podem customizar com base em objetivos e desafios pessoais. Entre as propostas dele estão: como transformar uma paixão em carreira, como alimentar a criatividade e como levar uma vida mais saudável e sustentável.

“Eu frequentemente vejo pessoas com frustrações que precisam tirar de dentro de si e acham que não têm tempo para isso”, disse ele. “Não há nada errado em recarregar as baterias na praia, mas as viagens também podem ser um veículo maravilhoso para encontrar respostas para as perguntas fundamentais que todos nós temos.”

Viagens para tratar crises existenciais

O programa Bring it Back consiste de sete ideias de viagem montadas em torno de experiências culturais profundas. As reservas são baseadas no que o viajante quer aprender e não para onde quer ir.

Para separar melhor vida pessoal e trabalho, por exemplo, Marchant recomenda Copenhagen, onde os clientes podem se encontrar com experts que ajudaram a moldar a reputação da Escandinávia neste tema. Para fortalecer relações familiares, ele recomenda a Mongólia, onde os viajantes podem se hospedar com comunidades nômades nas quais os jovens precisam tomar conta dos avós da mesma forma que os avós cuidam das crianças.

“Queremos expor o cliente a uma forma diferente de pensar que possa ser levada para sua vida diária”, disse Marchant.

Movimento amplo

David Prior cofundou um clube de viagens com princípios semelhantes aos do Bring it Back (traduzido do inglês como Traga de Volta).

“No começo, muitos dos nossos clientes queriam dar um reboot total”, conta ele. “E nossa resposta vai além da hospedagem em spas ou viagens por trilhas — dispensamos os tais programas intensivos de cinco dias e fazemos algo mais criativo e meditativo.”

Para um cliente que precisava recuperar a criatividade, foi montado um roteiro que passava por Tasmânia, Sevilha e campos da Inglaterra para aprender formas de colher frutas e produzir geleias em cada destino. Para uma mãe em busca de maior proximidade com o filho adolescente, foram oferecidas aulas de cerâmica e tingimento de roupas com mestres japoneses. Para o fundador de uma grande empresa de tecnologia precisando de um sabático, Prior fechou a igreja Sagrada Família, em Barcelona, para lhe proporcionar um momento de contemplação.

Jimmy Carroll, cofundador da agência britânica especializada em aventuras Pelorus, conta que a maioria de seus clientes tem como motivação experiências ameaçadas de extinção — seja na natureza ou com culturas que estão desaparecendo — e o desejo de fazer contribuições filantrópicas para os locais visitados.

“Existe uma grande indústria em torno disso que ainda não foi totalmente explorada”, acrescentou Prior. “Sem dúvida é um mercado em crescimento. As pessoas querem usar o tempo de lazer para enriquecer suas vidas de certas maneiras.”

O segredo, na opinião de Marchant, é pensar como psicólogo e não somente como agente de viagens.

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