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Morre escritora sul-africana antiapartheid Nadine Gordimer

Escritora ganhadora do Prêmio Nobel morreu tranquilamente aos 90 anos no domingo à noite em sua casa de Johanesburgo, informou sua família

Nadine Gordimer: escritora não escrevia apenas contra o regime do apartheid, mas também sobre a hipocrisia humana e o engodo (Radu Sigheti/Reuters)

Nadine Gordimer: escritora não escrevia apenas contra o regime do apartheid, mas também sobre a hipocrisia humana e o engodo (Radu Sigheti/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 14 de julho de 2014 às 14h36.

Johanesburgo - A escritora sul-africana Nadine Gordimer, ganhadora do Prêmio Nobel, morreu tranquilamente aos 90 anos no domingo à noite em sua casa de Johanesburgo, informou sua família nesta segunda-feira, Gordimer, uma intransigente defensora dos direitos humanos que se tornou uma das vozes mais poderosas contra a injustiça do apartheid, morreu na presença dos filhos, Hugo e Oriane, segundo um comunicado da família.

"Ela se preocupava profundamente com a África do Sul, sua cultura, seu povo e sua luta permanente para concretizar sua nova democracia", diz o comunicado. Considerada por muitos a principal escritora da África do Sul, Nadine era conhecida como uma autora rígida, cujos romances e contos refletiam o drama da vida humana e das emoções em uma sociedade sacrificada por décadas de domínio de uma minoria branca.

Muitas de suas histórias enfocam temas como amor, ódio e amizade sob as pressões do sistema de segregação racial que terminou em 1994, quando Nelson Mandela se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul. Integrante do partido de Mandela, o Congresso Nacional Africano (CNA), banido sob o apartheid, Nadine usou a escrita para lutar por décadas contra a desigualdade do domínio dos brancos, tornando-se malvista por segmentos do establishment.

Algumas de suas obras, como “"A World of Strangers" (Um Mundo de Estranhos) e "“Burger's Daughter" (A Filha de Burger), foram proibidas pelas autoridades do apartheid.

Nadine não escrevia apenas contra o regime do apartheid, mas também sobre a hipocrisia humana e o engodo, onde quer que o encontrasse.

"“Não posso simplesmente maldizer o apartheid quando há injustiça humana em toda a parte", disse ela à Reuters pouco antes de ganhar o Nobel.

Nos últimos anos, ela se tornara uma ativista do movimento HIV/Aids, em campanha por apoio e recursos por intermédio da Treatment Action Campaign, um grupo que pressiona o governo sul-africano para que conceda medicamentos gratuitos aos soropositivos.

Ela também não se absteve de criticar o CNA, comandado pelo presidente Jacob Zuma, ao expressar sua oposição a uma lei que limita a publicação de informações consideradas sensíveis pelas autoridades. FAMA DE RADICAL Filha de um judeu lituano fabricante de relógios, Nadine começou a escrever aos 9 anos.

A infância solitária desencadeou um intenso estudo das pessoas comuns ao seu redor, especialmente os clientes da loja de jóias do pai e os trabalhadores negros migrantes em sua terra natal, East Rand, nos arredores de Johanesburgo. Sua revolta e suas inclinações liberais lhe renderam a fama de radical.

Os censores do governo proibiram três de suas obras em 1960 e 1970, apesar de seu crescente prestígio no exterior e sua aceitação como uma das autoras mais importantes no idioma Inglês. Apesar de Gordimer figurar na elite internacional, ela manteve um interesse apaixonado por aqueles que lutam na camada de baixo do mundo literário da África do Sul.

"É algo que me humilha ver alguém sentado no canto de um barraco que divide com outras 10 pessoas, tentando escrever na mais impossível de condições", disse ela. Apesar do ódio ao apartheid, Gordimer permaneceu orgulhosa de sua origem na África do Sul e dizia que somente uma vez pensou em emigrar - para a vizinha Zâmbia. "Então, eu descobri a verdade: que na Zâmbia eu era considerada por amigos negros como uma europeia, uma estrangeira", disse ela. "É só aqui que eu posso ser o que eu sou: uma africana branca."

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