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Advogado de 69 anos venceu alcoolismo e câncer com a corrida

Coryntho Neto conta que começou a correr em 1997, e no ano seguinte, participou da primeira prova, os 10 km da Corrida do Centro Histórico Bovespa-OAB-SP

Durante a semana, Coryntho corre 6 km por dia, de terça a sexta-feira. Aos sábados, ele faz seus treinos longos, de 9 km (Sanja Gjenero / StockXchng)

Durante a semana, Coryntho corre 6 km por dia, de terça a sexta-feira. Aos sábados, ele faz seus treinos longos, de 9 km (Sanja Gjenero / StockXchng)

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Da Redação

Publicado em 16 de novembro de 2011 às 10h38.

São Paulo - O advogado Coryntho Neto conta que, em 1996, tinha uma rotina bem regular: acordava cedo, ia para o escritório e, lá pelas 11h, tomava algumas doses de uísque, sem o qual não conseguia manter a concentração nos afazeres profissionais. No fim do dia, ele bebia um pouco mais, totalizando quase 1 litro por dia. Coryntho estava com 94 kg (1,60 metro) e com problemas de relacionamento com a mulher e os filhos. "Minha vida estava um inferno", resume ele.

No fim daquele ano, durante uma palestra num grupo de apoio a alcoólatras, ouviu um médico falar do alcoolismo como doença e de como tal vício era prejudicial ao organismo. Saiu da palestra aturdido e assustado e decidiu que era hora de mudar de vida. Começou a fazer caminhadas no Parque do Piqueri, zona leste de São Paulo, e trocou o uísque pelos isotônicos. A atividade física lhe deu novo ânimo e o ajudou a voltar a ter uma vida pessoal e profissional mais equilibrada: "Nunca mais pus uma gota de álcool na boca. A corrida me ajudou a ter mais disposição no trabalho e me reaproximou da minha família e dos meus filhos", afirma Coryntho, que hoje pesa 70 kg.

Em 1997 começou a correr e, no ano seguinte, participou da primeira prova, os 10 km da Corrida do Centro Histórico Bovespa-OAB-SP. Ele completou a distância em 58 minutos. E começou a fazer uma média de oito corridas por ano, variando a distância entre os 5 e os 10 km.

Perdendo a voz

Mas o grande problema de Coryntho ainda estava por vir: na metade de 2005, ele teve um câncer na laringe. O alcoolismo e as três décadas de tabagismo (1965 a 1995) contribuíram bastante para o surgimento da doença. "Existe uma relação direta entre a quantidade de tabaco consumida e os riscos de câncer nas vias aéreas", explica o médico de Coryntho, Luiz Paulo Kowalski, livre-docente em oncologia na USP.


As sessões de quimioterapia e radioterapia o ajudaram a melhorar e até permitiram que ele voltasse a correr em 2006. Só que a doença retornou em 2007, mais avassaladora. Após consultar oito médicos, ele procurou Kowalski, que informou que a única alternativa seria a laringectomia (retirada da laringe, local no qual estão as cordas vocais, numa operação que comprometeria a integridade das vias respiratórias). Coryntho encarou o desafio com coragem e esperança, como atesta seu médico: "Ele sempre teve uma visão otimista sobre as possibilidades de cura. Enfrentou com coragem e determinação as diversas etapas do tratamento e se adaptou bem a essa nova condição, vivendo com uma qualidade de vida muito boa".

A cirurgia foi um sucesso, mas o obrigou a andar com um protetor para a garganta (semelhante a um babador). A nova condição o impede de comer alguns alimentos (como carnes muito duras) e transformou a voz de Coryntho num sussurro rouco. Além disso, ele precisa fazer uma sessão semanal de fonoaudiologia. Mas nada disso o impediu de voltar às provas em 2008 ou afetou o bom humor do advogado. "Eu corro cinco vezes por semana, participo de provas, sou querido pela família, admirado pelos amigos e o mais disposto na fonoaudiologia. Vou reclamar do quê?", sussurra animado.

Não é nenhum exagero afirmar que os anos de corrida foram de grande ajuda para que o advogado superasse as adversidades da doença. “O exercício ajudou a aumentar a resistência cardiorrespiratória e vascular do Coryntho, o que foi muito importante para sua recuperação”, diz o doutor Kowalski.

Durante a semana, Coryntho corre 6 km por dia, de terça a sexta-feira. Aos sábados, ele faz seus treinos longos, de 9 km. “Cumprimento todo mundo no parque, todos me conhecem e são simpáticos comigo. Saio da corrida com 40, 50 desejos de bom dia”, conta. E ele tem mesmo o dom de formar uma legião de corynthianos. “Em dois curtos encontros em corridas, me encantei por ele”, comenta a médica, corredora e amiga Sunao Nishio.

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