Humorista afirma: "Eu não tenho nenhum plano de unanimidade" (Reprodução)
Rafael Kato
Publicado em 13 de novembro de 2012 às 17h45.
São Paulo - Marcelo Adnet estreia em novembro o filme Os Penetras, sobre um malandro carioca especializado em enganar mulheres. ALFA conversou com o humorista sobre o longa, sobre o humor brasileiro e sobre sua vida privada, que inclui assistir Zorra Total, da TV Globo, aos sábados:
Marco Polo, o personagem do seu filme, é um malandro que tenta se dar bem na alta sociedade. Ele é um Homem Área Vip [Personagem do programa Comédia MTV] que não deu certo?
Adnet: Ele é um cara área VIP, mas não de berço. Ele está na área VIP não porque é milionário ou porque conhece os DJs, mas ele teve o mérito de estar lá. É o cara que tem talento. Mas ele não sabe disso, pois, assim como o cara que está no mundo das drogas, está viciado no submundo. Ele é muito Copabcana. Tanto é assim que tem um golfinho tatuado no braço, uma coisa meio desbotada. É um cara com uma vida suja, complicada. Viciado na pilantragem.
Como foi o processo de roteiro do filme?
O processo foi a coisa que eu mais amei no filme. O Andrucha [Waddington], o Edu [Sterblitch] ficamos meses trabalhando no roteiro. O Andrucha abriu muito a discussão. Isso foi bom.Eu nunca tinha ficado tanto tempo escrevendo uma história. Pela primeira vez, eu criei uma história passada do personagem. E, pela primeira vez na minha carreira, eu me deparei com um trabalho tão depurado.
Você pretende fazer mais filmes e ter um controle maior do filme, escrevendo ou produzindo?
Eu gosto de dar uma surfada no cinema. Mal ou bem eu já fiz 14 filmes. Sim, é trabalhosíssimo. É um envolvimento que não tem meio termo. É demorado. Se você não gosta de trabalhar, se você não gosta de esperar, então talvez não seja a sua. Mas é difícil analisar o processo que você esta se metendo. Antes eu topava, agora eu quero ler o roteiro antes. Mas você contar um filme com densidade é um sonho, um objetivo. É como aquela coisa do plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Só que requer muita maturidade, muita experiência. É melhor não fazer do que fazer meia boca.
Mas eu vejo você fazendo filmes como os do Monty Pyhthon: uma longa história, mas entrecortada com pequenas e boas esquetes. Eu tenho essa coisa da autoralidade. Quando a coisa foge do meu tom, do meu timing, então eu tenho dificuldade. Mas todo dia a gente passa por cima das nossas convicções para contar uma boa história. O trabalho é isso. Você tem que abrir mão de muita coisa.
E isso aconteceu no filme?
Foi um trabalho democrático. Nós demos as ideias mais esdrúxulas sem ter medo do ridículo, como falar que o Edu era parecido com o Jude Law e transformá-lo no [personagem] Jude Taylor. Essa foi uma das ideias malucas. A própria ideia da tatuagem ridícula de golfinho foi uma.
A Dani Calabresa já viu o filme?
Ela viu uma cena ou outra. Viu o trailer.
E como foi a reação dela ao saber que seu personagem é o par romântico da personagem da Mariana Ximenes?
Foi numa boa. Ela sabe que é trabalho. Não é agradabilíssimo do tipo: Eba, vamos fazer essa cena de novo. Ela é admira, sabe que é trabalho. Não solta fogos de alegria, mas sabe que não é uma traição. É o famoso faz parte.
Você deu uma entrevista falando que pensava em gravar um CD. É sério ou você estava zuando?
Sim, é sério. Ou melhor: Eu não vou fazer um trabalho sério. Não é um humor escrachado, como a gente faz no Comédia MTV. É um pouquinho mais pra música, mas sem perder a noção de que estamos fazendo pra brincar. Eu gostaria, por exemplo, que as músicas do Comédia estivessem num CD, para que as pessoas ouvissem no carro. A gente não gravou por questões legais. Mas eu também tenho vontade de fazer essa outra mídia.
Falando do público: você recebe muitas críticas pelo seu trabalho? Você acompanha o que as pessoas dizem na internet?
Quem procura, sempre acha. Hoje você tem uma coisa que é impossível resistir. Tem um lado que útil: eu vejo se público gostou; eu vejo o que teve repercussão. Não preciso pagar o Ibope. Você vê num clique. Mas é preciso relativizar. São coisas que a pessoas jamais te diriam. E elas tem liberdade de pensar. Eu não tenho nenhum plano de unanimidade.
Mas você já ficou chateado?
Claro, Claro. Quando o Kiabbo [nome do músico Felipe Ricotta] saiu do programa 15 minutos, ele procurou a imprensa pra dizer que eu falava todo dia que eu era foda e que eu não precisava dele. Isso me deixou muito mal. Machucado, até. O cara trabalhou comigo por dois anos e, claro, que eu nunca falei isso. Nem de brincadeira e nem foi uma coisa que ele entendeu errado. Ele falou de sacanagem ou o repórter fez errado.
Eu me vi na situação de ligar para o repórter, que confirmou a história, e, em seguida, eu tive que ir conversar com o Kiabbo para ver o que aconteceu. Mas assim, se alguém falar: o Marcelo é a pessoa mais sem graça do mundo e tem que morrer. Tudo bem. É uma opinião. Essa coisa da morte é pesada, mas pode ser um menino de nove anos de idade que falou isso depois que eu afirmei que o Rebelde não é bom. Eu vou perder a minha noite de sono por causa de um menino de nove anos? Seria ridículo. Tenho que filtrar.
Onde você se situa no humor brasileiro, pois você tem o lado do stand-up comedy e também tem essa coisa da esquete, por exemplo, parecida com a feita pelo programa TV Pirata, nos anos 1980?
Eu me coloco, se eu tivesse que falar da minha vocação, muito mais do lado do TV Pirata, do Monty Pyhton, do Whose Line Is It anyway?. Esse por causa do Z.É, a peça que eu comecei a faço há nove anos e que foi a primeira coisa que eu fiz como ator. O stand-up é uma coisa que vem do fato de eu ser um cara que gosta de fazer tudo. Eu acho um barato ver como um texto, uma palavra e uma pausa muda o riso e a reação da plateia. Mas hoje tem uma briga entre a elite que tuita e o povo que vê Zorra Total. Sabe, tem uma coisa do Brasil que cresce e se desenvolve versus esse mito da classe C. Inventaram que a classe C tem o gosto horroroso e que quer ver anão com bunda. Mas é mentira! Tem público pra isso, claro. Mas é uma desculpa para prender anunciante. Do tipo: aquele negocio de internet é besteira, fique conosco; continuem anunciando, pois damos 30 pontos no Ibope. Há gente que acredita que nada mudou no humor desde a chanchada e que acredita que o stand-up é coisa para 1%, que só 1% Twitta e dá like no Facebook. Mas essa é uma briga em aberto.
Uma pergunta pessoal. No final de semana, o que você assiste na TV: Zorra Total, Legendários ou o Saturday Night Live da Rede TV!?
Essa foi a melhor pergunta da tarde. [Risos]. Quando eu estou em casa com a Dani, eu adoro fazer o papel do tuitero chato e fazer o circuito completo. A agenda é cheíssima. Não nos ligue das 22 até a uma da manhã, pois temos que ver os nossos amigos. É uma experiência boa, para quem trabalha com humor. Mas, por outro lado, há reações do tipo: credo, meu deus, quem teve essa ideia?. Mas a gente se enxerga também. Vemos acertos e erros nossos. Rimos, criticamos e nos divertimos.
O que está mais próximo de acontecer: a sua saída da MTV ou o fim da MTV [os dois boatos foram propagados pela imprensa e desmentido pela emissora]?
Acho que são duas coisas que se complementam. [Risos]. Tudo isso é mitológico. Muitas dessas coisas eu descobri na internet. Do tipo, acordei e vi: assinei [com a Globo] ou me reuni ou estou contratado. Eu já li essa história de que a MTV vai acabar várias vezes. Mas a MTV tem o nicho dela, a sua importância. Não adianta especular e bater a cabeça na parede até abrir.